Nas primeiras décadas do século XX, não se sabe direito a 
data correta, um lenhador do bairro de Roça Grande encon-
trou uma imagem de Santo Antônio de Pádua sobre uma 
pedra, nas imediações de um morro que circunda o bairro, hoje conhecido 
como Rosário III. Rapidamente a notícia correu em Sabará e Santa Luzia e 
vieram beatos e padres para ver a imagem achada. A Mitra Arquidiocesa-
na ordenou que o santo fosse para a paróquia central, localizada em Santa 
Luzia, e assim foi feito. 
Para surpresa de todos, na manhã seguinte, o santo havia desaparecido da 
paróquia e foram encontrá-lo sobre a pedra em Roça Grande. Novamente 
pegaram a imagem e a levaram para Santa Luzia. No dia seguinte, a ima-
gem desapareceu de novo. Voltaram a vê-la no mesmo local onde havia 
sido achada pelo lenhador. 
Dona Preta, moradora de Roça Grande desde 1944, conta que a pedra de 
Santo Antônio fi cava em cima de um morro e que a rocha tinha o formato 
exato para o santo se assentar e descer as pernas. Era assim que as pesso-
as o encontravam nas manhãs, depois de sumir da igreja de Santa Luzia.
Intrigada com o fato, a Mitra Arquidiocesana decidiu que colocariam o 
santo novamente na paróquia de Santa Luzia e que, desta vez, dois guar-
das deveriam vigiar a porta da igreja. 
À noite, os guardas ouviram barulho de passos. Examinaram o lugar e 
não viram ninguém, somente o rumor do vento e o mato se movendo. No 
dia seguinte, para o espanto de todos, principalmente dos vigias que não 
pregaram os olhos à noite, Santo Antônio estava novamente sentando em 
sua pedra em Roça Grande, desta vez com a batina cheia de carrapichos e 
poeira, como se ele tivesse caminhado pelo matagal da região. 
A pedra de Santo Antônio
Já tinha virado questão de honra e o povo de Santa Luzia não se rendia ao 
fato da imagem, misteriosamente, teimar em fi car num lugar tão atrasa-
do, com um povo simples. Resolveram, então, levar a imagem para Santa 
Luzia e reforçar a segurança para mantê-la na paróquia. 
Preparou-se uma romaria para levar Santo Antônio de Roça Grande para 
Santa Luzia defi nitivamente e, nesse dia tão esperado, a ponte sobre o 
Rio das Velhas, que ligava o lugarejo à cidade, sem motivos ou explica-
ções, caiu, impedindo a transferência do santo. 
Os moradores de Roça Grande tomaram o fato por milagre e todos acei-
taram que Santo Antônio queria viver sobre a pedra no morro em Roça 
Grande. Foi decretado que Santo Antônio não sairia de Roça Grande e 
a imagem foi levada para a capelinha do bairro, que tinha catacumbas 
na porta e sepulturas dos heróicos bandeirantes sob o chão. Em 1964, a 
rocha também foi levada para a capelinha, pois esse objeto também virou 
alvo de adoração e muitos tiravam lascas para guardar de lembrança, 
considerando ser algo santo. 
A notícia do milagre de Santo Antônio de Roça Grande se espalhou e co-
meçou a vir gente de todos os cantos para suplicar e agradecer milagres. 
A capelinha foi reformada, transformada em um santuário. A imagem 
encontrada pelo lenhador é a mesma que fi ca sobre o altar no santuário 
antigo e, abaixo dela, a pedra, também venerada e adorada. O povo acre-
dita que o pó da rocha é milagroso. Dona Preta fala que é comum os fi éis 
rasparem a pedra para fazer chá, que, segundo ela, cura de tudo.
A romaria e o trem subúrbio
Roça Grande tornou-se centro de romaria de devotos de Santo Antônio. 
No início do século XX, o meio de transporte utilizado pelos romeiros era 
o trem chamado “Subúrbio”, que saída da capital com destino a Rio Acima 
e parava na estação de Roça Grande, inaugurada no século XIX por D. Pe-
dro II. Mais tarde, foi denominada estação Castro Brandão, fi lho de Roça 
Grande que foi o primeiro humorista de Minas Gerais a trabalhar na Rádio 
Nacional. 
A “Maria Fumaça” vinha puxando mais de vinte carros carregados de 
gente, que, na época da trezena de Santo Antônio - os primeiros 13 dias 
de junho - vinham com devotos saindo pela janela e em cima dos carros. 
Depois do milagre de Santo Antônio que derrubou a ponte de madeira, só 
construíram outra ponte em junho de 1972, quando Dona Rosa e Seu Odi-
lon Fune doaram um terreno para a nova ponte e para a abertura da ave-
nida que liga Roça Grande à rodovia. Até então, o caminho para o bairro 
era de terra e a estrada dava em Nova Lima e, de lá, no bairro da Sauda-
de, em Belo Horizonte. Seu Floriano, nascido em Sabará em 1933, conta 
que os homens e as mulheres que iam de ônibus para a capital vestiam, 
ao sair de Roça Grande, um guarda-pó, e o tiravam quando chegavam. Só 
assim para fi carem limpinhos. 
Antes da construção da nova ponte, o transporte de um lado para outro 
do rio era feito pela balsa de Antônio Fune, que consistia em um cabo 
amarrado de margem a margem e uma balsa em que ele puxava o povo. 
Depois de atravessar na balsa, ainda tinha que passar por um trilho na 
beira do rio, onde havia um conjunto de casebres e uma pinguela, que era 
um desafi o para os devotos. Valdemar Arcanjo, nascido em Roça Grande 
e autor do livro “A Roça conta um conto” (Editora Mourart, 2004), rela-
ta que os romeiros, ao passarem pelos casebres, admiravam-se com um 
prato simples da culinária local que se tornou a segunda maior atração do 
bairro. Era um peixe, comprado no Mercado Central de BH, temperado e 
frito, envolto em fubá. Os romeiros acreditavam que aquele peixe era um 
legítimo dourado pescado no Rio das Velhas. 
Em 1986, o trem do “Subúrbio” fez sua última viagem. Seus trilhos ainda 
cortam Roça Grande e traçam caminho conhecido como “Estrada Velha”. 
Essa estrada-de-ferro divide o bairro e faz parte da história de sua povoa-
ção: no fi m do século XIX, depois da abolição da escravidão, um grupo de 
negros libertos de uma fazenda em Nova Lima, pertencente a um parente 
de D. Pedro II, foi para Roça Grande e ali se instalou, invadindo as plan-
tações e furtando animais. Como pertenciam à família Alcântara, eram os 
negros de Alcântara e esse fi cou sendo o sobrenome daquela nova família, 
à qual se juntou muitos índios. 
Porém, as terras de Roça grande já tinham dono. O português Teófi lo 
Alves Benfi ca foi designado pelo Tenente-general do mato Borba Gato, 
em início do século XVIII, como o capitão responsável pelas estâncias de 
plantações de roças e criação de porcos e aves para o sustento de ho-
mens de jornada. Capitão Teófi lo Benfi ca destacou-se em sua função de 
patrulhar, organizar e impor aos aventureiros e moradores normas rígi-
das, visando preservar as riquezas minerais da região 
em nome da Coroa. Como retribuição, recebeu terras 
férteis e ali plantou a semente de sua família, a maior 
e mais infl uente no bairro de Roça Grande. 
Com a chegada dos Alcântara,fato esse ocorrido após a noticia da abolição da escravatura
 houve guerra pela terra. 
Muitos morreram até que se fechou um acordo: a parte 
povoada, com as plantações, fartura de água e fácil 
acesso à capital, fi cou com os portugueses e seus des-
cendentes. Esta terra fi ca à direita da estrada velha, 
e o lado esquerdo fi cou para os negros e índios que 
chegavam no arraial.
 
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário
siga nos e comente nossas publicações