Olhar fixo na parede branca do quarto.
De tanto ter insônia, teu olhar era de uma sonâmbula.
Cansada sentia a solidão a lhe cravar uma adaga em suas costas. Queria ter
agora em sua companhia alguém.
Alguém que lhe fizesse pelo menos uma chateação para que
pudesse soltar pelo menos um grito de ira.
Não tinha ninguém, o silencio gritava aos seus ouvidos. Um
grito ensurdecedor e frio.
- Que merda!Cadê todo mundo? Onde estão todos que eu ajudei.
Que estava ao meu lado quando eu tinha energia suficiente para desafiar quem se
atravessa se o meu caminho.
Sempre tive o que queria. Consegui os melhores brinquedos,
as melhores roupas, meus amigos de colégio era a nata da elite de minha cidade,
as festas mais concorridas da cidade eram de minha casa.
Agora onde está todo mundo? Meus amigos casaram, criaram filhos,
meus irmãos têm seus rebentos a lhes fazer companhia e eu nem meu gato está
presente.
O desabafo de Iolanda era mais um ato de fraqueza e desamparo.
Ela que se julgava poderosa, inatingível estava diante de seu juiz implacável:
o “tempo”.
Esquecida em sua casa que era o seu símbolo de imponência social,
bela por dentro e por fora onde o luxo era evidente. Trocaria tudo por um
simples cômodo de dezesseis metros quadrado, mas cheio de gente e calor humano.
Caminhou pela sala andou pelo corredor e seus passos ecoavam
de modo tétrico pelo ambiente residencial. Ao olhar pela janela viu um vulto
que se movia em seu quintal.
-Até que enfim, vou poder impor minha autoridade! Pensou.
_ Alto La! Que fazes em minha propriedade?
- Sua propriedade senhora? Quem lhe deu essa “propriedade”? Perguntou
o estranho personagem.
Comprei paguei e estou usufruindo dela. É minha e você queira
se retirar.
Uma risada sarcástica e sinistra a deixou arrepiada.
-tu não sabes de nada senhora. Antes teus antepassados me
cortejavam, passou de geração e eu aqui, neste frio, calor, chuva e agora você que
antes me chamava agora se esconde nessa suposta hombridade pudica.
-Tu senhora fez muita gente sofrer. Aliou-se com força
invisível para conseguir teu escopo que nunca foi de caridade. Queria destruir,
aniquilar, tomar o que se achava ser teu direito.
Quanta vez estive ao teu lado para te orientar como vencer
um inimigo, mesmo que ele nunca te fizera mal, mas a felicidade dele te
machucava. Fizemos. Destruímos , só não fizemos mais porque orações interromperam
muitas de nossas cruzadas.
Agora que todos estão no seu lar, derrotados, feridos,
podemos comemora nossa vitória. Você e eu.
Iolanda estava pálida. Sem se notarr estava no pátio de sua mansão,
conversando com uma mulher que tinha no mínimo dois metros de altura, vestia
trapos e tinha algo incomum: os olhos vermelhos como brasa. Suas mãos tremiam,
a voz estava presa à garganta e não se emitia som, teus olhos negros estavam
fora de órbita, estáticos pareça uma pedra de gelo, tão grande foi o impacto
que ela sofrera.
- Quem é você? Conseguiu balbuciar?
Uma risada forte e maligna ecoou. - Sou tudo o que você plantou.
Desaparecendo instantaneamente.
No dia seguinte os vizinhos encontraram Iolanda, desmaiada
ao pé do portão de sua casa. Fora levada ao medico que constatou que ela sobreviveria,
mas num estado vegetativo.
Em conversas com os irmãos, nenhum se dispôs a tomar conta
da mulher que antes se julgava capaz de tudo. Hoje jogada num asilo, espera a
morte chegar com os olhos fixo no horizonte.
Dentro de sua cabeça de cabelos brancos e ralos ainda havia
os resquício do tempo onde ela era a mulher fatal, poderosa, imbatível. Hoje ,
uma imagem derrotada e julgada pelo tempo.
O terrível e
imparcial tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
siga nos e comente nossas publicações