1974.
Sete de setembro de 1974. Mais uma comemoração da independência do Brasil.
A expectativa dentro de mim era enorme .
Pela primeira vez iria vestir a linda camisa do SENAI –Centro de formação
Profissional Michel Michels , não porque o curso me entusiasmava, mas era lindo
ver o colégio desfilando pelas ruas d e Sabará . Todo de branquinho ,tendo á
frente o ex-aluno Clayton com sua lambreta . A maioria dos alunos , geralmente
altos , carreando as bandeiras de todos os estado da federação e das indústrias
e instituição associados.
O professor Pedro Paulo Pereira sempre foi o
mais entusiasmado á frente dos alunos dava seu show particular mas outros como George,
Eli, Alda Hamachek, Ana Maria ,Nereu, Aloiso, Urias (um padre espanhol que dava aula de
matemática) funcionário e outros simpatizante davam o tom de organização e
dedicação e amor a essa instituição .
Nos ensaios deste ano um aluno de
destacou no seu jeito elegante de marchar.
Tanto que foi escolhido para ser o
primeiro do pelotão de aluno a desfilar. Parecia que se sentia orgulhoso de
usar aquele uniforme, de fazer parte daquela escola.
Seu nome Eduardo. Eduardo traduzia
garbosamente o sentimento de orgulho e felicidade que muito de nós sentíamos
naquele momento.
Comentávamos que quando fosse à hora de
nos alistarmos nas forças armadas da republica, certamente ele iria servir e
com certeza seria mias um defensor da pátria.
E isso em parte aconteceu. Eduardo se alistou
nas forças armadas, fora servir e quando voltou se inscreveu na policia militar
do estado de Minas Gerais.
Não vi mais o Dudu como o chamava carinhosamente,
Crescemos criamos famílias e
esporádicamente um colega se encontrava com o outro, No meu lado o que
sobreviveu deste convívio escolar, foi à amizade profunda com Élson Benfica, mesmo
assim por morar no mesmo bairro. O resto da turma se dissipou no mundo de meu
Deus.
Eduardo foi morar em Governador
Valadares e um dia eu o encontrei. Estava de volta a Sabará.
Não era aquele menino que se enxergava
no fundo dos seus olhos o brilho e o encantamento de quem via o mundo colorido
e cheio de expectativa. O Dudu que estava á minha frente, era um homem
amargurado, triste desconfiado.
Zangou se comigo quando o chamei pelo codinome,
disse pausadamente: Meu nome é E-du-ar-do Não se lembra?
Lembrar me lembrava, vi que o clima de
amizade estava se extinguindo e tentei remediar a situação.
Pois bem amigo Eduardo. Como está vendo
a vida?
- A vida é uma merda Não se pode confiar
em ninguém. Nosso governo é feito de pessoas que só olha para o seu próprio umbigo.
Arrependi de dar trinta anos de minha vida a essa turma de irresponsáveis e
parasitas. Reclamou meu colega.
Uma coisa percebi em Dudu (Opa! Senhor
Eduardo), seu gesto eloquente e exagerado continuavam o mesmo.
- Olha não fique assim. – Contornei.
- A coisa vai mudar!- argumentei.
- Tenha fé em Deus! . –Disparei.
Você acredita nessa basbaquice de Deus ainda?
Você não percebe se Deus existisse, essa coisa neste mundo não estaria assim.
Não estava acreditando no que ouvia. Dudu,
aquele rapazinho, que aos 14 anos se dizia devoto do coração de Jesus, a ponto
de não perder uma missa sequer, dizer essa heresia?
O ressentimento com a vida era profundo
demais.
Sabe Valdemar, continuou , esse Deus que
eu acreditei , é um engodo.
O deus que eu acredito esta dentro de
mim, tudo posso . Se consigo a coisa na vida, cada conquista que alcanço, só devo
creditar a mim e mais ninguém.
Estava branco de espanto. Imagine eu um
criolão branco de espanto... poderia me chamar naquele momento de loirinho que
pegaria bem !
Via e ouvia e não acreditava. Mas não
retruquei o argumento do senhor Eduardo. Não era mais o meu amigo. Um longo
vale se abriu em nossa convivência. Não queria Ter como amigo alguém que ia de
encontro com meus princípios e fé. Seria até nocivo ao ambiente que eu vivia.
Respeitei seus argumentos, conversamos
sobre algumas variedades de assunto e nos despedimos.
Constantemente via Eduardo. Agora já
sargento reformado e morando no bairro do Campo Santo Antônio, em Sabará.
Obrigatoriamente a gente tinha que parar
e conversar. Percebi que ele se sentia bem com a minha companhia e na minha
ingenuidade tentei o fazer ver que ele estava errado em sua convicção de que
Deus não existia.
Os argumentos chulos dele me irritavam e
eu mudava de assunto.
Expunha para ele meu projeto de escrever
livros, de fazer minha pequena empresa crescer, meus filhos, minha vida, as
desventuras e aventuras românticas. Tudo isso conversamos e nos despedíamos com
a esperança de que nos encontraríamos brevemente.
Observei que ao se tornar ateu, Eduardo,
levava isso ao extremo.
Sentia na sua fala, um grande rancor ao
todo poderoso e com isso tentei não tocar em assunto dogmático com ele, mas
sempre e sem querer eu soltava um “se Deus quiser, em nome de Jesus ou vai com
Deus” no inicio ele achava ruim, mas amiúde ele foi aceitando essa minha mania e
eu pro outro lado aceitava o meu amigo do jeito que era.
Lancei o meu primeiro livro, vi que ele
me incentivou, me parabenizou e ainda conseguiu votar em mim para vereador da
cidade de Sabará.
E me falava com uma certeza latente que
dos oitenta e quatro votos que eu tivera na eleição de 2004 dois votos eram
dele e de sua adorada mãe.
Tinha certeza agora que Eduardo estava
reconciliando com a vida. Nunca perguntei o que acontecera em Governador
Valadares que o deixara assim tão amargo com a vida e com o criador, só sei que
aos pouco fui pescando de sua boca fatos que me fizeram ver o quadro de
convivência sócio profissional lá no leste do estado.
O tempo foi passando e Eduardo começou a
trabalhar com supervisor de segurança numa empresa de médio porte na capital
das gerais.
Com isso foi escasseando nosso contato.
Encontrei com ele depois de três meses
do nosso ultimo contato. E notei que o seu olhar era mais triste e amargurado
que antes. Contou-me o que acontecerá. Sua mãe partira para o outro lado. Ele
não se conformara. Tentei consola-lo dizendo-lhe que Deus sabia o que estava
fazendo.
Meu Deus! Por que fui falar isso?
Ele desfiou um tanto de blasfêmia que não tenho
coragem para descrever.
Pedi em pensamento que Deus o perdoasse.
Ele chorou. Chorou como uma criança.
Dizendo que sua mãe não merecia um fim
como aquele.
Como você argumentaria algo para uma
pessoa que não acreditava em nada?
Fiquei calado ouvindo. Se falasse algo. Poderia
ofendê-lo.
Despedi analisando cada palavra que
emitia para não ofende-lo ou aumentar sua ira com o nosso Deus.
Cheguei em casa arrasado e me perguntava
como pode uma pessoa não acreditar em Deus, se Deus é vida?
A resposta não tardou a vir.
Eduardo entrou em depressão, faltou de
serviço durante uma semana. Não atendia telefone, não saia de casa, não era
visto em nenhuma circunstancia.
Seus parentes preocupados resolveram ir
a sua residência, chamaram como ninguém atendeu á porta foi preciso arrombá-la
e o que foi visto na sala de estar deixou todos perplexos.
Eduardo esta dependurado no lustre do
teto de sua sala, enforcado.
A perda de sua mãe, quem realmente ele
acreditava e amava, fora demais para ele. Perderá toda a referencia neste mundo
e resolveu seguir os caminho trilhado por sua genitora.
Só peço a Deus, em quem acredito e confio
que como ele perdoou quem crucificou o seu filho unigênito. Que perdoe esse seu
filho rebelde.
Amem
continua......
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