Ao remexer baús e gavetas esquecidos,
ele encontrou fotos, cartas e bilhetes, alguns
que datavam de bem antes do seu nascimento.
Conversando com os mais velhos, descobriu lendas
desconhecidas de lugares pelos quais passava todos os dias.
Estudando as próprias raízes, o escritor sabaraense
Valdemar Arcanjo, de 51 anos, conheceu mais sobre si.
“Soube que sou descendente de príncipes e reis que
vieram da África”, conta. E, agora, o Projeto Sabará
Memória Emotiva – Olhares sobre o patrimônio,
que será lançado na terça-feira, convida Valdemar
e toda a população sabarense a mergulhar nas
lembranças e registros da cidade, para reconstruir
a memória coletiva e difundir a história do primeiro
povoado de Minas Gerais. O resultado desse apanhado
será apresentado em uma grande mostra, em outubro.
Mais que desvendar as riquezas do centro histórico
da cidade,
a ideia é revelar o patrimônio escondido na periferia.
“Queremos mostrar que o patrimônio não é só o do século XVI,
é também o urbano que cresceu de forma desordenada, os festejos, os mestres da cultura”, afirma o coordenador e um dos idealizadores do projeto, Ricardo Antunes, da ONG Ação Faça uma Família Sorrir (Affas). Para tanto, a iniciativa vai englobar todas as regionais, General Carneiro, Roça Grande e Sede, e atuará em várias frentes.
Quarta e quinta-feira ocorre o seminário Patrimônio cultural,
periferia e novas tecnologias, na Fundação ArcelorMittal Brasil,
empresa patrocinadora do projeto.
Com inscrição gratuita,
o evento tem como objetivo discutir a
conservação do patrimônio
público na era digital. Já a partir de terça-feira,
quem entrar nos ônibus municipais poderá ver
dependuradas reproduções de fotografias como a
do antigo time de futebol de Roça Grande, da remota
Festa da Primavera, da antiga estação ferroviária,
cedidas por parceiros como Valdemar.
Atrás delas, poetas sabarenses narram histórias que remetem
às imagens e o leitor é convidado a integrar a Campanha de Compartilhamento de Fotos Antigas. Todas serão digitalizadas
e devolvidas aos proprietários, além de divulgadas no blog www.olharessobreopatrimonio.blogspot.com.
OFICINAS Em julho, o projeto dá início a oficinas gratuitas
em sete escolas municipais e estaduais, em que cerca de
170 educadores e 300 jovens, de 13 a 17 anos, receberão lições sobre educação patrimonial, bem diferentes das convencionais aulas de história. Afinal, o tema patrimônio será abordado em laboratórios de audiovisual, fotografia, animação e conservação de foto. “Vamos discutir o patrimônio fazendo vídeos, usando o celular e todas as novas tecnologias. O mais importante será esse processo de produção, em que o aluno poderá construir um sentimento com o lugar”, ressalta o coordenador do Memória Emotiva.
O trabalho culminará numa mostra interativa, que colocará lado a lado fotos antigas e novas de Sabará, vídeos com contação de casos sobre a cidade, cartas, bordados, entre outras criações e registros da memória coletiva da comunidade. Além disso, algumas imagens antigas serão estudadas a fundo por uma historiadora e comporão o álbum de fotografias do projeto. Ao final, a ideia é que, assim como Valdemar, que a partir de suas descobertas sobre sua terra escreveu o livro A Roça conta um conto – A história não oficial de Roça Grande, outras pessoas possam narrar e se orgulhar das memórias coletivas. “Sabará nasceu em Roça Grande, fundada por Enedino Hilário e Pedro Alcântara, os dois descendentes de escravos. Acho que esse patrimônio é também a minha dignidade, agora, me orgulho de ser negro.” SERVIÇO Seminário Patrimônio cultural, periferia e novas tecnologias 24 e 25 de junho, com inscrição gratuita. Informações: www.olharessobreopatrimonio.blogspot.com Telefone: (31) 3671-1780 |