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domingo, 31 de março de 2019

Cada povo tem o governo que merece

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Ivonete Gomes
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"Sai vitorioso das urnas, o candidato que fala o que o povo quer e não o que precisa ouvir"
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Ferrenho defensor do regime monárquico e crítico fervoroso da Revolução Francesa, o filósofo francês Joseph-Marie Maistre (1753-1821) escreveu seu nome na história ao lançar a expressão “cada povo tem o governo que merece”. Datada de 1811, a frase registrada em carta, publicada 40 anos mais tarde, faz referência a ignorância popular, na visão do autor a responsável pela escolha dos maus representantes. Contrário a participação do povo nos processos políticos, Maistre acreditava que os desmandos de um governo cabiam como uma punição àqueles que tinham direito ao voto, mas não sabiam usá-lo. Passaram-se exatos duzentos anos e a expressão do francês permanece atemporal por estas bandas. 

No Brasil de democracia imatura e educação capenga, o voto ainda é definido pelo poder econômico e promessas bajuladoras totalmente descabidas feitas por candidatos visivelmente desinformados nas questões econômicas e sociais dos locais que pretendem governar. Por aqui se define voto também pela simpatia, crença, a boa oratória e o assistencialismo. Raros os que votam pela análise do passado, das relações interpessoais e do plano de governo fundamentado. O País que causou admiração no vocalista do U2 pela criação da Lei da Ficha Limpa, não tem punição para o político que, acometido do esquecimento conveniente, deixa de cumprir promessas e compromissos firmados com o eleitor. 

Sai vitorioso das urnas, o candidato que fala o que o povo quer e não o que precisa ouvir. Na eleição para Governo, os servidores públicos de Rondônia tiveram reavivada a esperança de salários reajustados com base nas perdas acumuladas ao longo de governos passados. Educadores, agentes penitenciários, policiais militares e as demais categorias foram às urnas na certeza de estar depositando lá o acréscimo de pelo menos 25% nos holerites, já em 2011. E o fizeram apoiados por sindicatos bem informados das questões financeiras da máquina estatal. Ora, como duvidar do então candidato Confúcio Moura (PMDB), avalizado pelos representantes das categorias nos palanques, reuniões e debates de televisão? Não era possível lançar mão de tão doce promessa que, para melhorar, vinha acompanhada da oportunidade de trocar um governo autoritário, perseguidor e truculento por um aberto ao diálogo e conhecedor das necessidades de quem trabalha pelo desenvolvimento.  Reside muitas vezes no desconhecimento da situação econômica do Estado, o perigo de um estelionato eleitoral que, se tipificado em lei, seria tão somente culposo. Ou seja, Confúcio poderia estar investido de boa vontade para dar o reajuste prometido, mas ao colocar a coroa e o cetro deparou-se com a triste realidade de que querer nem sempre é poder.

O Narciso do CQC

Um dos apresentadores do programa humorístico CQC, levado ao ar pela TV Band, sentiu-se altamente incomodado com a aparência física dos rondonienses e dedicou minutos de sua comédia stand up, gravada em DVD, a comentários altamente pejorativos aos nascidos aqui. Rafael Bastos, que tem como alcunha o diminutivo do próprio nome, disse que “se Deus é brasileiro ele sacaneou Rondônia”. Sob risos da platéia, Rafinha caprichou nos insultos:
- O pessoal lá é muito estranho.
- O diabo fala português? –  Ah, já sei em que estado ele nasceu. Deixou muitos filhos por lá, viu?
Um humor apelativo, arraigado de preconceito, constrange e provoca até certa náusea, mas patético mesmo  nesse episódio é perceber que Rafinha se acha bonito. Ô dó criança!

Interferência descabida

Eis que do nada, deputados estaduais iniciaram uma onda insana de interferência nas indicações de Confúcio Moura para o primeiro escalão do Governo. Até o deputado estadual Jean de Oliveira (PSDB) usou a tribuna para repudiar a indicação de Williames Pimentel na Secretaria de Estado da Saúde. Pasma a rapidez com que o parlamentar mudou de opinião, já que quando vereador de Porto Velho jamais levantou a voz contra a administração municipal da qual Pimentel participa há anos. Outros deputados fizeram discursos apaixonados com menções à moralidade e a Lei da Ficha Limpa. Lembrei de pelo menos dois ditados populares que falam de hábitos dos macacos.  

David Erse, o estudioso

Empolgado e envaidecido durante a solenidade que o empossou deputado estadual, David Chiquilito Erse fez discurso longo, cansativo e presunçoso. Criticou veículos de comunicação que analisavam a possível interrupção de sua carreira na Assembléia Legislativa com a recontagem de votos pós-decisão da não aplicabilidade da Lei da Ficha Limpa nas eleições de 2010. “Seguirei deputado. Falo isso porque tenho certeza. Eu estudei”- disse o jovem político. Agora, sem mandato, David terá tempo para estudar um pouquinho mais.


segunda-feira, 25 de março de 2019



                                           


    PEQUENAS  TRAGÉDIAS

                                                                                                           AUTOR DESCONHECIDO





Quem se lembra das pequenas tragédias de antigamente?
Quando as fichas acabavam no meio da ligação feita do orelhão. Ou o disco riscava bem na melhor música.
Você datilografava com erro a última palavra da página. E não tinha fita corretiva de máquina de escrever pra consertar.
O locutor falava as horas ou soltava uma vinheta bem no meio da música que você tinha passado horas esperando pra gravar. E depois o toca-fitas mastigava a fita.
Ou o locutor não falava o nome da música quando ela terminava. E você ficava anos sem saber quem cantava ou como chamava aquela música que você tinha amado.
Alguém fumava dentro do ônibus. Ou do avião. Ou do elevador.
Você tinha que pagar multa por devolver a fita de vídeo pra locadora sem rebobinar.
O Ki-suco vazava da garrafinha da sua lancheira. E molhava as bisnaguinhas com patê.
Você tirava as letras das músicas em inglês tudo errado. E depois descobria, no folheto da Fisk, que estava tudo errado mesmo. Mas já era tarde, pois você já tinha decorado errado (e canta errado até hoje).
Você arranhava com todo cuidado, mas quando levantava o papel via que o bichinho do decalque do Ploc tinha saído sem uma perninha.
A televisão resolvia sair do ar no dia do capítulo final da novela. E seu pai tinha que subir no telhado pra mexer na antena. E ele gritava lá de cima “melhorou?”
E você, embaixo, avisava: “melhorou o 5, o 7 e o 9. Piorou o 4, o 11 e o 13”.
E nunca todos os canais ficavam bons ao mesmo tempo.
Chegar à padaria e lembrar que você tinha esquecido o casco do refrigerante.
A Kombi que trocava garrafas velhas por picolés e pintinhos passava na sua rua um dia depois da sua mãe jogar tudo fora.
Você descobria que todas as 36 fotos do seu aniversário tinham ficado desfocadas. E algumas tinham queimado, porque o rebobinador da câmera tava meio enguiçado.
Quando sobrava só o lápis branco da caixa de 36.
E você pensava que ia morrer porque engoliu uma bala Soft.
Nossa vida era assim. E nem faz tanto tempo, mas nossos filhos nem têm ideia do que significa tudo isso.