Um cabo Sabarense na segunda guerra mundial
Exatamente sete meses e 19 dias foi quanto durou a guerra da FEB: de 16 de setembro de 1944, quando um batalhão do 6o Regimento de Infantaria iniciou a marcha na frente do rio Serchio (entre Pietrassanta e Luca), que redundaria na conquista de Camaiore, até 2 de maio de 1945, dia em que a ordem de cessar fogo, vinda do comando do 4o Corpo de Exército, deteve o 3o Batalhão do 11o Regimento de Infantaria na localidade de Vercelli, no vale do Pó, nas proximidades de Novara.
Nesses quase oito meses de guerra, a 1a DIE (FEB) lutou em duas frentes. A primeira, a do rio Serchio, durante o outono de 1944; a segunda, muito mais ingrata, a do rio Reno (não é o Reno alemão), ao norte de Pistóia, na Toscana, em plena cordilheira apepina. Aí, por mais de dois meses, atravessaria a fase mais cruel do inverno da montanha, com temperatura que às vezes chegava a 15 graus negativos, e sob constante hostilidade do fogo inimigo. E daí marcharia, tendo como ponto de partida o QG avançado de Porreta-Terme, para a conquista dos seus maiores feitos: a vitória de Monte Castelo, a 22 de fevereiro de 1945, a de Montese, a 14 de abril, até o aprisionamento de toda uma divisão alemã, a 148a e restos de uma DI italiana e de forças blindadas do Afrika Korps - sucesso que ocorreu a 28 de abril de 1945, o mesmo dia em que, quilômetros adiante, na região do lago de Como, Benito Mussolini caíam nas mãos dos partigiani
Nessa guerra de menos de oito meses, a FEB perdeu 443 homens, entre soldados e oficiais, e mandou para os hospitais da retaguarda perto de 3.000 feridos. Por outro lado, fizeram 20.573 prisioneiros, inclusive dois generais - o general Otto Fretter Pico, comandante da 148a DI alemã, e o General Mario Carloni, comandante do que restava da desbaratada Divisão de Bersaglieri Itália. Da conquista de Camaiore, na frente do rio Serchio, à rendição da 148a DI alemã, em Collechio-Fornovo, a 1a DIE não deixou de cumprir uma só das missões que lhe foram atribuídas pelo General Willys Dale Crittenberg, comandante do 4o Corpo de Exército, ao qual a tropa brasileira estava incorporada. Mas nem sempre foi fácil ou teve êxito imediato à execução das missões recebidas do 4oCorpo, como é o caso da conquista do Monte Castelo, só consumada depois de quatro tentativas rechaçadas pelos alemães. Durante a maior parte do inverno apenino, os alemães dominaram dos cumes de Monte Castelo, do Monte della Torracia e do Soprassasso, obrigando a tropa brasileira, que hibernava no vale do Reno, a disfarçar seus movimentos sob a proteção do nevoeiro artificial produzido pela queima de óleo diesel.
Encarregado de tal tarefa estava um negro de vinte e quatro anos, forte viril e voluntarioso. Teu nome Antonio Carlos Moura. Nome de guerra Cabo moura. E ele no silencio sepulcral dos campos de batalha que comandava o artífice de enganar os violentos bem treinados comandados do
general Otto Fretter Pico. E não foi por acaso que essa missão lhe foi destinada. Em recente confronto, alem de abater cinco alemães com sua baioneta e fuzil teve a proeza de voltar incólume ás linhas brasileiro.
Teve que amargar a dor de ver seus companheiros de fardas sucumbir ante ao poderio fogo alemão e sentir na boca o sangue de seu colega de farda ao explodir sob efeito de uma granada que lhe estourou o peito. Sentiu medo, angustia terror, adrenalina a mil.
Ao voltar ao Brasil, desembarcando no Rio de janeiro, chorou. Como criança pulava, pois pensava que era utópica aquela imagem de ver novamente a imagem do Cristo redentor a lhe dar boas vindas e orgulhosas desfilou na avenida Atlântica. Voltava num avião da Força Aérea brasileira a olhar as verdes montanhas das minas gerais e rever na rua são Pedro o teu querido tio Elias e a velha dona Corina.
Cabo \Moura viveu seus dias de gloria, mas o seu feito aqui na Roça grande, nunca foi devidamente reconhecido e já na meia idade sucumbiu de uma morte natural levando para o alem tumulo o orgulho e a honra de defender com a garra e lealdade a missão de defender a terra de seus pais.