Deborah Furtado • 24 de abril de
2014 •
Estranho?
Nem tanto. Se depois de ler esse texto você achar que ainda está vivo, ótimo!
Caso
contrário, é bom repensar se ainda existe algum sopro de vida aí dentro. Vou
contar como tudo aconteceu.
.
A minha
primeira parcela de morte aconteceu quando acreditei que existiam vidas mais
importantes e preciosas do que a minha. O mais estranho é que eu chamava isso
de humildade. Nunca pensei na possibilidade do auto abandono.
Morri
mais um pouquinho no dia em que acreditei em vida ideal, estável, segura e
confortável.
Passei a
não saber lidar com as mudanças. Elas me aterrorizavam.
Depois
vieram outras mortes. Recordo-me que comecei a perder gotículas de vida diária,
desde que passei a consultar os meus medos ao invés do meu coração. Daí em
diante comecei a agonizar mais rápido e a ser possuída por uma sucessão de
pequenas mortes.
Morri no
dia em que meus lábios disseram, não. Enquanto o meu coração gritava, sim! Morri no
dia em que abandonei um projeto pela metade por pura falta de disciplina. Morri
no dia em que me entreguei à preguiça. No dia em que decidir ser ignorante,
bulímica, cruel, egoísta e desumana comigo mesma. Você pensa que não decide
essas coisas? Lamento. Decide sim! Sempre que você troca uma vida saudável por
vícios, gulodice, sedentarismo, drogas e alienação intelectual, emocional,
espiritual, cultural ou financeira, você está fazendo uma escolha entre viver e
morrer.
Morri no
dia em que decidi ficar em um relacionamento ruim, apenas para não ficar só. Mais tarde percebi que
troquei afeto por comodismo e amor por amargura. Morri outra vez, no dia em que
abri mão dos meus sonhos por um suposto amor. Confundi relacionamento com posse
e ciúme com zelo.
Morri no dia em que acreditei na crítica de pessoas cruéis. A pior delas? Eu mesma. Morri no dia em que me tornei escrava das minhas indecisões. No dia em que prestei mais atenção às minhas rugas do que aos meus sorrisos. Morri no dia que invejei , fofoquei e difamei. Sequer percebi o quanto havia me tornado uma vampira da felicidade alheia. Morri no dia que acreditei que preço era mais importante do que valor. Morri no dia em que me tornei competitiva e fiquei cega para a beleza da singularidade humana.
Morri no
dia em que troquei o hoje pelo amanhã. Quer saber o mais estranho? O amanhã não
chegou. Ficou vazio… Sem história, música ou cor. Não morri de causas naturais.
Fui assassinada todos os dias. As razões desses abandonos foram uma sucessão de
desculpas e equívocos. Mas ainda assim foram decisões.
O mais
irônico de tudo isso?
As pessoas que vivem bem não tem medo da morte real.
As que vivem mal é que padecem desse sofrimento, embora já estejam mortas. É dessas que me despeço.
As pessoas que vivem bem não tem medo da morte real.
As que vivem mal é que padecem desse sofrimento, embora já estejam mortas. É dessas que me despeço.
Assinado,
A Coragem
Deborah Furtado • 24 de abril de 2014 •
Fonte: Escrito por Lígia Guerra, conheça mais do seu trabalho na sua Fan Page