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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O valentão








Terrível, cara fechada, irônico, malvado


Não tinha medo de nada, encarava menino, malandro, policia , era o rei da pancadaria.


Entrava em qualquer festa, cuspia no chão, beijava qualquer mulher e aí de quem achasse ruim.


Esse é o Tonhão coice de mula.


Desde criança foi sempre um menino birrento e brigador, Não podia ficar só com as outras crianças que logo o berreiro chamava a atenção. Chegou a quebrar o nariz de um coleguinha de escola que não lhe deu um pedaço de pirulito > Dona Isaura, sua mãe, já tinha perdido todo o seu estoque de paciência. Tonhão não respeitava ninguém. Seu Pai não sabia quantas surras de vara de marmelo lhe aplicara para ver se conseguia colocá-lo na linha, não houve jeito. Parecia o Pedro malasartes das historia que ouvira na roda de amigos (de burlão invencível, astucioso, cínico, inesgotável de expedientes e de enganos, sem escrúpulos e sem remorsos), esse era infelizmente seu filho.


Um dia conversando com o Pedro Pascoal, encarregado da RFFSA , chorando a sina que Deus lhe dera , ouviu do amigo o seguinte conselho: - Olha amigo teu filho tem muita energia e essa energia deve ser descarregada de alguma forma, por que você não conversa com o Afonsão e o coloca no juvenil do Santo Antonio, que com certeza essa energia será direcionada para o bem.


Assim fez, depois de uma longa conversa com o técnico do time do Santo Antônio aceitou o novo atleta que começou essa nova atividade com uma disposição que era um misto de curiosidade e desafio.


Surpresa. Nos primeiros dias de treino ele se destacou como um bom goleiro, corajoso, com um reflexo tão apurado que parecia ser um gato. De juvenil e por ter uma boa altura e um físico avantajado, com treze anos já estava no quadro principal do Santo Antônio Futebol Clube, era reserva do João gato, quando entrava dava segurança á equipe.


Isso criou nele a sensação que tudo podia, aos dezoito anos foi alistar no exercito e torcia para que o Brasil entrasse na guerra que explodia na Europa (Invasão da então União Soviética pelas Wehrmacht e ataque japonês à base dos EUA em Pearl Harbor!
Com isso URSS e EUA entram no conflito mundial abrindo os fronts da Europa Oriental e o do Pacífico!).


Treinava simulação de combate corpo a corpo, tinha sede em atacar o inimigo, foi parar na tropa de elite do décimo segundo regimento de infantaria (O 12º Regimento de Infantaria foi criado pelo Decreto nº 13.916, de 11 de dezembro de 1919, com sede em Belo Horizonte, concorrendo para sua constituição os 58º e 59º Batalhão de Caçadores)


Por sua valentia foi conseguindo alçar grande posto no meio da caserna.


Em sua licença de final de mês, seu passatempo era vir ao pequeno povoado de Santo Antonio, rever os amigos e á noite ir dançar no clube Mundo Velho, onde se destacava por ser um ótimo dançarino , mas a sanha de brigão lhe atormentava o espírito e sempre que voltava , fazia questão de passar na porta de outro clube onde dizia que não admitia negro em eu recinto. Era assim que gostava, chegava irritava os porteiros, a segurança, a diretoria e sempre partia para um confronto com os rapazes considerado de família de classe nobre do município.


Depois de aprontar a sua baguncinha particular , ser levado á delegacia e ser liberado por ser um soldado do nosso exercito , voltava pra casa feliz.


Foi assim no seu tempo de exército, chegou a ir à Itália, mas seu desempenho de aguardar na reserva um possível confronto no front. Voltando ao Brasil, tratou logo de exercer a profissão que aprendera no exercito: O Tonhão agora é mecânico e um excelente mecânico, ex combatente da gloriosa FEB, bonito, mecânico e ótimo dançarino, ele se achava o máximo.

Continuava com a mesma mania: provocador, briguento, destemido, onde ele entrava quem não quisesse confusão, tratava logo de sair porque o ambiente ficava carregado.
Aos vinte e oito anos apaixonou por Lidia, uma linda nativa de vinte anos de idade, uma linda mocinha filha do Tião ferreira, um simpático funcionário da prefeitura de Sabará, que logo que ficou sabendo das intenções do rapaz, tentou de todas as maneiras impedir em que esse romance se consuma se.

Lidia fazia gosto das investidas que seu admirador lhe fazia. Imagine ela era desejada pelo homem mais famoso de Sabará, bom atleta, respeitado, se sentia a mulher mais feliz do mundo. Seu pai lhe dera conselho, implorava para que fugisse da tentação de ter esse moço como namorado.

Não adiantou. Era comum verem o casal sentado na várzea conversando ou trocando afagos. Tião perdera o total controle sobre sua filha, chegando ao ponto dela ameaçar se matar, caso não se casasse com seu amado.
O pior estava para vir, Lidia numa bela sexta feira, levantou se sentindo mal, vomitava e sentia náusea e tontura. Seus pais desesperado lembrou logo de chamar a Deolinda, a benzedeira do arraial que veio o mais rápido possível ver o que estava acontecendo. Depois de um rápido exame a curandeira foi logo diagnosticando:

-Fiquem tranquilos, não é nada grave: tua filha ta embuchada, breve o sinhô vai ser avô.



Desespero, indignação, repudio, Tião é que teve uma forte vertigem, queria matar, estropiar, picar, triturar, escalpelar o maldito do Tonhão. Porque só devia ser ele, o maldito que desonrou o seu lar.
Armou se de um facão e foi na porta do danado atrevido. Chegando lá foi gritando o nome do desavergonhado que abriu a porta de seu barraco e indolente caminhou em direção ao seu furioso oponente. No seu caminhar, se notava o tórax musculoso, sem camisa se notava o quanto era forte, pescoço grosso, peito peludo, mãos grandes e fortes, seus dedos pareciam raízes de uma arvore, suas pernas grossas ao caminhar dava a impressão que todo o terreno tremia. Esperando do outro lado da porteira estava o Tião, franzino, pesando a metade de seu oponente, louco de raiva e desprovido da ciência do perigo que estava a tua frente. Tonhão não teria piedade do franzino Tião, em seus olhos via o esgar da truculência, da maldade, do escárnio. Seria um massacre.


-Seu miserável, destruidor de famílias, que foi que ocê fez com minha família?
- Fiz a tua fia feliz teu porco! Respondeu cinicamente o debochado.
Tião perdeu o que lhe restava de prudência e atacou o atrevido que revidou com um murro que levou a nocaute o pai ofendido e só não apanhou mais porque a vizinhança acorreu ao fato e impediu que Tonhão continuasse a bater no homem inerte no chão.
A policia foi chamada, Tião ficou muito tempo comendo sopa no canudinho, pois fraturara o maxilar e para entender o que falava tinha que ter paciência. Lidia, o pivô de toda essa confusão, caiu em depressão e foi morar com sua tia no Rio de janeiro, capital do Brasil.
A fama de Tonhão era cada vez a pior possível. Era admitido em clubes e festas particulares, não por que era convidado ou querido, mas pelo medo das pessoas, fazia com que as portas de todo o ambiente se abria para tal figura.



Quem tentava barrar essa ousadia ganhava de presente uma estadia de muitos dias ou meses no hospital da cidade. Alguns se perguntavam: o que seria melhor e menos doloroso um atropelamento de trem ou uma patada do Tonhão. Acredite. Elegeram ser atropelado por um trem do que encarar esse monstro.
E assim foi a vida de Tonhão, sempre temido e destemido. Fez com que Maria Eduarda, uma linda donzela o aceitasse como esposo e com ela teve mais cinco filhos. Com os filhos para criar e já com trinta e seis anos de idade, ele começou a perceber que a vida lhe exigira moderação nos seus atos, continuava a administrar sua pequena oficina mecânica, sua mulher tinha que suportar suas explosões de ira e a mulherada que ele arrumava, seu pai de tanto desgosto morrera e sua mãe fazia milhares de novenas e trezenas para que algum Santo milagroso mudasse a personalidade de seu filho.

De tanto apanhar sua mulher, numa madrugada de sábado, resolveu fugir deixando-o para sempre. Foi uma afronta, foi na casa dos pais dela, ameaçou , gritou, chutou a porteira e foi contido por um grupo de moradores que cansado da fanfarronice do já desgastado Tonhão resolveu por fim fazer frente a suas investida. A policia foi chamada e pela primeira vez Tonhão passou uns dia atrás das grades.


Acalmou, começou a levar a vida discretamente, vendo seus filhos crescerem e saber que definitivamente perdeu a sua esposa. Um dia ,atravessando o rio das velhas notou que uma jovem mulher lhe observava insistentemente e essa mulher apertava a mão de uma linda crianças que aparentava ter sete ou oito anos. Como um raio, veio à identificação daquela mulher. Era Lidia, tentou aproximar, mas como estivesse vendo um monstro, ela nem esperou a balsa encostar e saiu correndo , levando pelas mãos aquela que com certeza seria a filha, a sua filha. Tentou ir atrás, mas algo no seu intimo lhe dizia que não fizesse isso.
Parece que as orações de D. Isaura estavam fazendo efeito, o juízo mesmo tardiamente começava a incorporar ao espírito truculento de seu filho. Mas D.Isaura não ia curtir essa mudança, breve ela partiria ao encontro de seu marido, mais uma forte pancada que deixou o nosso personagem com a guarda baixa.
Quem viu o Tonhão há vinte anos, não reconheceria o senhor de quarenta e oito anos, dono de uma concorrida oficina mecânica, mais discreto e pai de mais três filhos com sua segunda esposa. Essa não era igual à Lidia e nem igual à Maria Eduarda, Emilia que  conheceu no parque municipal, mulher da vida que usava o corpo para sobreviver.


Depois de muitos encontros, resolveu convidar a sensual mulher para dividir o leito matrimonial e assim pela segunda vez tinha alguém para chamar de esposa. Mas de Amélia , essa não tinha nada . Acostumada a agruras da vida, Emília sobreviveu usando a sensualidade e malicia. Com dezesseis anos saiu de sua casa em Itabira e foi viver a vida que sempre sonhara, queria ser cantora de cabaré, Queria ser uma Liza Minelli mineira. Mas a vida lhe mostrou que não basta só querer tinha que ter algo mais e esse algo mais não apareceu e ela teve que se prostituir para sobreviver.
Tonhão a tratava como rainha, dava lhe presente, levava para passear no seu Aero Willis novinho que conseguira comprar depois de anos de economia. Era cliente preferencial no Banco da Lavoura e recebia todas as mordomias por esse fato . Emilia por outro lado, desfrutava do amor de Tonhão e da admiração dos poucos amigos que seu companheiro tinha. Um deles, Diogo, frequentava a oficina do amigo constantemente e também a casa onde era obrigatório o churrasco de fim de semana, regado a uma caipirinha e muita cerveja. .Tonhão aproveitava para encher a cara, sempre ao final da noite ele era carregado pra cama por seu fiel amigo. Que gentilmente esperava ele dormir e só aí ia se recolher.
Num desses sábado de relaxamento Tonhão como sempre se embriagou e apagou na varanda de sua casa. Desta vez não achou o fiel amigo para lhe levar para cama. Começara a chover e isso fez com que a sua consciência despertara e cambaleante caminhou para o seu dormitório e quase não percebeu que um casal se acariciava no sofá da casa. Deitou dormiu e quando acordou se viu só. A casa estava vazia de gente e de teu moveis. Sua amada havia lhe deixado e com ela seu fiel amigo.



De temido, virou chacota da população, enveredou na bebida e hoje quem vê o famoso Tonhão, sente pena de vê-lo andando pelas ruas de Roça grande, só, abandonado por suas mulheres, filhos e amigos.
Quando alguém se dignasse a trocar algumas palavras com ele, voa em seus relatos, conta com nostalgia que um dia ele foi o Rei da Roça. Diz que foi endeusado, admirado, mas que um dia uma mulher e o teu melhor amigo destruirá a tua vida.
 Diogo e Emilia foram vistos poucos anos depois que fugiu da Roça grande, morando em Osasco na grande São Paulo, Ligia casou com um eminente advogado que em poucos anos se transformou em procurador da república e se mudou para a capital brasileira, a ensolarada e bonita Rio de Janeiro. Quanto a sua filha Olga se formou em medicina especializada em oftalmologia e veio trabalhar no hospital das clinicas trabalhando com o doutor Hilton Rocha. Quanto ao Tonhão coice de mula, foi levado em estado de emergência ao hospital São Geraldo da UFMG.
No ambulatório quem o atendeu foi uma jovem residente de olhos verdes que o tratou com um carinho incomum. Sentia que aquele ancião tinha algo a ver consigo. Mas o que? Não sabia, atendeu aquele infeliz e o dispensou com um cartão com teu nome e uma data de retorno. Não sábia o velho Tonhão que estava a ser tratado por quem um dia ele negou a existência.
O final desta historia só o tempo e Deus quem vai determinar e qual será a reação de ambos ao saber que são pai e filha?













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