Essa era a palavra que não saia dos lábios de Ivone, uma
loirinha sapeca de 15 anos de idade, moradora da Rua São Pedro, bem atrás da
escola de Roça grande, a recém inaugurada escola municipal Dr. Homero Machado Coelho.
Escola esta que o prefeito Dr. Serafim da Mota Barros fez questão de vir e
convidar o nosso distinto governador Dr. Jose Francisco Bias Fortes de vir a esse evento, mas como o
Brasil não passava por bons momentos, não pôde comparecer. Roça grande de quatro mil habitantes cujo a maiorias dos moradores eram funcionários da
prefeitura ou da companhia siderúrgica Belgo Mineira nesta
época de grande expansão industrial e tendo um time campeão mineiro de
futebol.Essa era a Roça grande, distrito de Sabará , cujo nosso representante
no legislativo era o corretor de imóveis Teodorico e o nosso principal transporte , era
a balsa de Antonio Fune e o trem
suburbano que nos levava a Belo Horizonte ou Raposos , onde os belos rapazes da
Roça iam passar seus fins de semana , freqüentam
os Clubes de danças ou mesmos desfrutar dos belos e animados poço fluviais que
eram frequentados por beldades local.
Bem vamos ao que interessa. Já que você já percebeu que essa
situação aconteceu na década de sessenta e estamos falando de Ivone, a menina
loira filha de imigrante italiano.
Muito orgulhosa por sua “nobre” descendência, exigiu de seus
pais que ela fosse estudar no Colégio Mauá de Sabará, onde a nata da sociedade estudava e com isso conseguiria ter amigos ricos de família de gente de
bem.
Não saia muito a rua para não se sujar de poeira ou ter
contatos com os seus vizinhos, que na maioria eram pardos ou negros.
Ivone era cheio de recalques, puxara a sua avó paterna, uma italiana
que alardeava ter sangue de nobre nas veias, mas na verdade, foi que depois da
queda do ditador Mussolini, na Itália, sua família tivera que fugir num
cargueiro búlgaro para qualquer pais da America, para evitar retaliações do
novo governo que assumira o país do pós- guerra. Vieram parar no porto de
santos e para ficar no Brasil teve que vender seus poucos pertence e contar com
a acessibilidade do governo brasileiro. A mama italiana escondeu de
suas netas que teve que trabalhar nos portos, recolhendo migalhas enquanto teu
marido, o grande” Albertini” grande colaborador do governo fascista italiano ,
trabalhava dia e noite debaixo de sacas de
café numa empresa de exportação. Com isso juntou um
dinheirinho, ficou sabendo que o estado de Minas Gerais , prometia um grande e próximo
desenvolvimento industrial , resolveram
então tentar a sorte nesse estado.
Vieram para Belo Horizonte e para chegar a Sabará , foi um
pulo . Albertini empregou na companhia Belgo Mineira e rapidamente, conseguiu
um cargo de relevância importância dentro da empresa.Convivia fraternamente com
seus colegas, chegando a ganhar um relógio de ouro, como um dos melhores funcionário
do ano na empresa.
Não entendia o porquê
sua filha tomava essa posição racista. Muitas vezes lhe dera conselho,
que isso a poderia colocar em situações constrangedora . Conselho jogado
ao vento. Ivone cresceu, linda como uma
rosa, delicada e perfumosa.
Teve vários namorados e era considerada uma moça de destaque
da sociedade sabarense. Um belo dia de
setembro de mil novecentos e setenta ao largar o seu local de trabalho na COTESA, companhia telefônica
de Sabará, ela escorregou numa casca de
frutas na subida da Rua Borba Gato, quase em frente ao clube Cravo Vermelho e
só não foi ao chão, porque um solícito rapaz
conseguiu ampará-la. De inicio ela respirou aliviada até ver quem era o
seu salvador: um simples operário da Belgo Mineira e que tinha uma particularidade natural de maioria de nativos de terra mineradora.era negro . que nesse momento passara ao
lado e percebeu o movimento vacilante e a socorreu.
Imediatamente se recompôs e começou a agredir o infeliz
gritando que o atrevido a incomodara e tentara agarrá-la. Imediatamente varias pessoas se acercaram do atrevido e se
não fosse a pronta intervenção dos soldados Câmara e Ferreira o infeliz
teria sido linchado. Ivone toda chorosa foi levada foi levada á farmácia do seu
Zequinha, onde tomou um calmante e levada de carro para sua casa.Genaro, o
coitado injustiçado, foi levado para
delegacia, mas como não tinha delegado aquela hora teve que dormir na
cadeia.
No dia seguinte, jurando inocência foi colocado frente a
frente com a suposta vítima que sustentou que havia sido assediada pelo
oportunista.
Por mais que Genaro suplicasse que fosse um funcionário novo
, que poderia perder o emprego , que sua noiva poderia deixá-lo, nada disso
sensibilizou a socialite sabarense que altiva saiu da delegacia rodeadas de
amigos e resmungando: -Negros! Que raça insolente!
Passaram anos, a vida tomou o seu rumo, Ivone se casou com emérito
juiz de direito da cidade de Ponte Nova e teve dois lindos filhos. O episódio
de vinte e cinco anos atrás já não fazia parte de seus arquivos cerebrais.
Joana sua filha mais velha, loira de olhos verde acinzentados, corpo franzino
mas que mostrava uma grande vitalidade, formara o curso secundário e para
continuar teus estudos veio morar com seus tios em Sabará.
O destino nos reserva peças e ás vezes bem cruel.
O destino nos reserva peças e ás vezes bem cruel.
Natal de mil novecentos e noventa e oito. Passando uns dias com seus irmão e voltando para casa
depois da missa do galo iam serelepe, mãe e filha, descendo a Rua Borba Gato, se viram
cercadas por um bando de rapazes que ao avistarem semelhantes mulheres só,
resolveram atacá-las. No desespero Ivone e Joana tentaram correr mas são agredidas
com selvageria pelos rapazes . No afã do
desespero já seminua, Ivone avista um senhor que impassível assiste a tudo.
Ferida com fraturas nas pernas e boca foi socorrida por populares que ao
ouvirem os gritos de desesperos da mulher vieram em seu socorro.
Chorando , mãe e filha relataram o ocorrido e acusou um
senhor negro que do lado da rua assistira impassível a tudo.
Questionado ele alegou:- a ultima vez que ajudei a uma loira,
perdi meu emprego, minha noiva, fiquei com
fama de tarado e injustamente fiquei três meses em cana. Como quem
assaltou foi só gente branca pensei que era uma
comemoração!-loiras! Humpf.
Em festa de canarinhos , anu não entra!
Em festa de canarinhos , anu não entra!
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