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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Me perdoe


Vai lá chama-la! Por favor!
Isso seria um pedido comum se não fosse  vindo de uma voz agonizante em forma de suplica.
Olavo estava lívido. Sentia a morte ao teu lado, mas a maldita não lhe levava. Suplicava pelo seu fim aqui na terra, mas ela impassível, observava, calada, sinistra, observava.
Para mais aumentar a tua dor, fez lhe ver o seu passado.
Viu quando nasceu no distrito  de Ravena e sua venturosa infância no sitio de seus avós, a mudança com a família para o bairro de Roças grande, sua ida para escola municipal Dr. Homero Machado Coelho. Elvira, sua primeira namorada, os passeios na balsa que fazia a travessia do Rio das velhas. Teu primeiro beijo na namorada e o baile no Clube Cravo Vermelho. Sorriu! Apesar das lagrimas de dor que teu corpo sentia, teve uma imensa satisfação ao relembrar o rosto de Elvira quando foi beijada.
Não foi um beijo na boca, porque isso era comparado a um desrespeito a moça virtuosa, mas um beijinho rápido na face branca, que de repente ficou ruborizada. Ela já era bonita, ficou mais ainda. Lembrou com nostalgia os seios de sua amada arfavam de enlevo e emoção. Afinal foi a primeira vez que alguém lhe beijava. Que momento lindo! Que momento lindo!
Suas lembranças o levaram ao ambiente de quando ganhou seu primeiro violão. Esse foi o seu presente de aniversario de quinze anos, com esse instrumento conseguiu se tornar uma atração no pequeno distrito de Roça grande, com sua voz maviosa cantava e encantava. Conquistou vários amigos e namoradas, nem se lembrava do seu primeiro amor. Que pena!
Se tivesse ficado somente com Elvira talvez não tivesse entrado nas armadilhas que a vida lhe proporcionou. Olhou de soslaio para a mulher que estava ao teu lado e notou que ela lia a tua mente. Reparando atentamente até que a morte não lhe era tão feia como no inicio  lhe parecia. Ela agora o fitava de um jeito peculiar, olhando o vídeo de sua vida.
Sorriu. Minha vida em vídeo tape como se fosse possível. Mas era possível, pois estava ali assistindo ela passar como um filme diante de teus olhos e essa figura exótica compartilhando com ele esse momento.
Momento terrível aconteceu com vinte anos e agora suas lembranças o acuavam, mostravam claramente quando matou pela primeira vez. A emboscada, o silencio da noite e o tiro que selou a vida de seu desafeto. Vou morrer sem que ninguém saiba que fui eu que cometi esse crime. Foi o primeiro de uma serie. As pessoas achavam os corpos na linha férrea e achavam que era suicídio, mas eu e meus amigos os fazíamos se suicidarem.
A dor no que me restava de minhas pernas parecia lancinante. Maldita diabetes. Cortaram-me todo o meu membro inferior. Que saudade quando eu corria , jogava bola , brigava , bebia, vivia como a um rei.
Na verdade eu era o rei da Roça grande, mandava e desmandava no lugar, me tornei temido e odiado. Agora aqui neste quarto dos infernos, espero a hora de partir, louco para morrer e essa incompetente não me leva. Só queria falar a verdade para com a Dona Silvana. Ela pensa até hoje que seu marido Wilson a abandoou e não dera noticia. Tenho que contar que ele foi mais uma vitima de minha explosão de ódio. Ele suplicou para que eu não matasse. Pediu por seus filhos, por ela que ele amava loucamente, mas inconteste, sem piedade eu o matei.
Gostaria de tomar na cabeça neste momento, a mesma machada que lhe dei para mata-lo. Mas nem isso é digno. A dor da alma é lacerante.
Mais uma vez, Olavo olha para sua companheira espiritual. Parecia que ela o compreendia e ironicamente sorria. Um sorriso que ao invés de conforta-lo, mais o afundava no abismo do remorso.
Homem lindo, poderoso, invencível. Nesse momento, um trapo humano, sem as duas pernas, sem os dedos da mão esquerda, rosto desfigurado pela doença, um maldito trapo humano, que nem a morte quer.
Parece que esse pensamento atingiu em cheio a personalidade desse ser que parou de sorrir. Olhou profundamente em seus olhos e para a porta que de mansinho abrira.
Um vulto frágil parou na porta e lentamente caminhou em direção ao seu leito.
-Lavinho! Você queria falar comigo?
Com voz rouca e balançando fragilmente a cabeça confirmou.
-queria lhe dizer que teu marido nunca te abandonou, nunca deixou de te amar.
Assustada e curiosa Silvana indagou: como pode me afirmar isso. Ele me abandonou há mais de dez anos, nunca deu noticia.
Lágrimas desciam dos olhos vermelhos e maltratados de Olavo.
- Eu sei por que ele nunca te abandonou. Eu tirei a vida dele. Perdoe-me, por favor,
Silencio sepulcral, A tensão poderia ser cortada com uma espada.
Com os olhos em lagrimas, Silvana ouvia os relatos do moribundo e seu constante pedido de perdão.
-Não posso te perdoar. Mas te entrego na misericórdia divina  , eles sim tem esse poder de te perdoar ,. Quanto a mim o mal já foi feito, tentarei limpar a memória de meu esposo e que você tenha de Deus esse perdão que ora me pede. Se Deus me permite esse dom. Você em nome de Jesus, de Deus Pai e do Espírito Santo esta livre pra seguir teu caminho. Não guardo essa magoa no coração.
Olavo se sentiu reconfortado. Um suspiro saiu de seu peito. Olhando a morte que tudo vira e ouvira pediu: - -Vamos?
Olavo partiu. Transcendeu para outro lado de uma vida desconhecida de nós, mas aonde milhares de teoria nos vem. Partiu deixando para trás uma vida de loucura insensatez, mas que foi pigmentada por ternura, paz e ventura. Estará diante de um juiz que determinara o quilate de suas ações neste mundo.

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