Bela segunda feira, o céu amanhecia com uma cor avermelhada.
Os pássaros nas arvores cantavam musicas maravilhosas e o vento. Ah esse soprar
da natureza arrepiavam os cabelos de Marina! A data era dezoito de maio de 1910
um dia com outro qualquer, mas algo estranho estava acontecendo. Nas ruas
apertadas do bairro, outros moradores olhavam para o céu. Todos estranhavam
aquela tonalidade vermelha. Agora sim Marina percebeu que a beleza do dia era demasiadamente
estranha.
Odorico, um caboclo observador logo percebeu a anomalia. O
sol estava em dois lugares. Havia no céu o sol amarelo e ao lado dele
outro astro que imperceptivelmente lhe fazia companhia e emanava o seu reflexo âmbar
na atmosfera.
Era aterrador e ao mesmo tempo fascinante aquilo. Mas o que
era aquilo?
Ninguém soube responder. Até que apareceu o senhor Honório,
considerado o homem mais inteligente do lugarejo. Homem que se diziam a boca
pequena que foi conselheiro até do imperador. Com seu setenta anos bem vivido e
testa larga e cabelos grisalhos, era respeitado e sua palavra era ditas como autoridade.
Ao tomar conhecimento do que acontecia, ele simplesmente ajoelhou
e começou a rezar.
Boquiabertos a pequena população, temeu pelo pior. O que estaria
acontecendo?
Honório se recompôs e num discurso breve deu a terrível noticia:
O fim do mundo chegou!
Aquele pequeno astro que aos poucos se distanciava do sol,
se encaminharia para a terra e a colisão acabaria com toda a espécie viva do
planeta. Ele havia lido isso em suas viagens, mas não poderia acreditar.
Agora via que as previsões se tornava realidade.
O desespero tomou conta. Acorreram para a igreja e o dia
todo foi de orações e terços pedindo ao Santo Antonio para que os livrasse do
mal que se aproximava.
Frei Cupertino, religioso que acabara de chegar de Santa
Luzia substituindo o padre Josafá que morrera recentemente organizou as vigílias e
confissões.
Enquanto uns rezavam, outros resolveram acabar suas poucas
horas de vida no prazer:
Seu Joaquim, um solteirão convicto e muito tímido resolveu não
levar para a eternidade o seu segredo. Ao cinquenta anos revelaria seu maior segredo.
Caminhou com passos firmes para o fim da rua, justamente onde morava a esposa
de seu melhor amigo, o Genival.
Bateu á porta. Seu amigo ao abrir se assustou: o que queres
amigo?
-Vósmicê me desculpa, mas eu vim falar com a sua patroa!
Marizita ao ouvir a menção de seu nome apareceu na porta e
se assustou:
Senhora! Disse o atrevido visitante. – Anos que se vão e
estão dizendo que hoje é o dia final de nossas vidas, sempre respeitei o
Genival e a tua casa, mas não posso morrer sem lhe dizer que a senhora sempre
foi O AMOR DE MINHA VIDA. Sofri esse tempo todo, para esconder esse nobre
sentimento que consumiu toda a minha juventude.
Pasmos! Estavam Genivaldo e Marizita! Quem poderia que o enigmático
Joaquim, o homem frio, que nunca levantava o olhar para nenhuma mulher, fosse
amar a mulher de seu melhor amigo.
Genivaldo ao invés de irar-se contra seu amigo. Olhando
aquela cena começou a rir, gargalhar.
Todo esse tempo você apaixonado por minha mulher e só agora
teve coragem de falar? Você é um frouxo compadre. Gosta-se dela mesmo. Pode ficar pro cê. O
mundo vai acabar mesmo e eu não quero morrer ao lado dessa mulher feia não. Vou
sair pegar o meu cavalo e ir para Sabará beber todas e namorar. Assim disse,
assim o fez.
Nas ruas alguns se recolhiam ás suas casa, rezavam. Outros
tentavam fazer realizar o seu ultimo desejo antes da hora final, que ninguém sabia
que era. Mas segundo seu Honório, não passava de hoje!
Frei cupertino, em seu confessionário, estava escandalizado.
Como impor penitencia ás confissões de pessoas que nem em pensamento imaginaria
que cometesse tal pecado.
Para todos o mundo se acabaria as seis hora da tarde. O dia
caminhava para as doze horas e todos tentava fazer nesta poucas horas algo que
lhe davam um conforto físico ou espiritual.
Nas ruas e nas casas uns se abraçavam, outro colocavam pra
fora todo o rancor ou alegria. O sentimento de matar seus desafetos não
existia. Pra que se daqui a pouco todos iriam morrer?
Inimigos se tornaram amigos, conversavam numa simplicidade e
se inquiriam porque não fizeram isso antes. Só com a sombra da morte é que a
racionalidade e o bom senso afloraram.
Cansado o frei determinou que na hora final que todos se
recolhessem ao seus lares e rezassem. Chegaram às dezoito horas, os corações se
aceleraram , todos se abraçaram , rezaram e ficaram assim. Dentro de casa as
horas passaram e ninguém tinha coragem de olhar pela janela pelo menos.
O dia dezenove de maio chegou e o mundo não acabou. Seu Honório
ficou desmoralizado, tentou explicar que o cometa passou por aqui e não caiu. Agora
é tarde, diziam.
Muitos segredos foram revelados, muitas confusões foram
esclarecidas e o Genivaldo.
Bem esse ao voltar pra casa foi recebido por uma fera de
mulher que o despachou definitivamente de sua casa.
Para uns o mundo realmente acabou!
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