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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Um certo amigo





Dentro de Vinicius a expectativa era enorme.
Passaria o natal de 1971 na casa de seus avós.
Depois de muito tempo que mudara da tranquila Roça grande, agora com quinze anos, voltaria a sentir o frescor da brisa que emanava do rio das velhas, jogaria bolas com os meninos da rua no campo de futebol e como estava com os hormônios aflorando , trataria de conquistar um coração juvenil igual ao teu.
Esse era mais um forte motivo, para ir para a terra do santo casamenteiro: namorar.
Via nas novelas da TV Itacolomi, principalmente “O direito de nascer” sua inspiração para viver o personagem fictício.
“Chegou dezembro e com ele as férias escolares, passaria todas as suas férias na maior liberdade, o dia tão almejado chegou, arrumou as malas e partiu de sua cidade, Montes Claros”, para Sabará.
Aqui chegando foi recebido com festa por seus avós, Sr.Afonso e dona Ermelinda, que não cabiam de felicidade.
Na primeira noite que passou na casa de seus avós, foi de contar as novidades da terra que habitara seus amigos, estudos e fantasias. Não saiu a rua para rever seus antigos amiguinhos. Deixaria para o dia seguinte, afinal teria muito tempo par isso.
Na manha seguinte foi conhecer a nova estação telefônica no bairro. Incrível, Roça grande já tinha telefone e contava com a incrível quantidade de seis telefones no bairro. Uma novidade que a COTESA colocou a pedido do padre Luiz, a fim de atender a demanda dos moradores.
Foi neste passeio pela pracinha da igreja, que avistou um menino pescando.
Um menino como outro qualquer, sem atrativo que o marcasse, mas esse menino, moreno, esguio de cabelo liso e tez curtida pelo sol, chamou a atenção de Vinicius por estar sentado na pedra preta e compenetradamente pescava.
Ao se aproximar da pedra, foi recebido por um lindo sorriso pelo jovem. Que te bom grato entabulou um longo dialogo com  ele.
Joaquim era esse seu nome, lhe contou que há muito tempo vinha pescar nas águas barrentas do rio e que o horário ideal para se pescar grande peixe era à tardinha depois das duas horas da tarde hora que chegava e ficava até o anoitecer.
Nascia aí uma amizade que tinha hora de se encontrar. Vinícius conseguiu com um amiguinho uma vara de pescar e comprou na mercearia do seu Geraldo Rocha, anzol, linha e chumbo para poder assim passar a tarde pescando com seu amigo.
Era certo que nas terças e quintas feiras ele se armava de seus apetrechos e corria para pedra preta, para se juntar ao seu amigo e pescar. Até que pescar não era o principal motivo da religiosidade da pesca, Mas sim o dialogo que mantinha com Joaquim. Ele se tornava para Vinicius, mais que um amigo, era um conselheiro, que o ouvias em silencio, todo o seu sonho e expectativa de vida. Não faltava a seu amigo, um sorriso encantador e palavras de carinho e afeto. Seus avós estranhavam sua pescaria, mas como ele voltava com o gambão cheio de peixes e um sorriso de candura nos lábios, ninguém nunca se preocupou com que ele fazia. Ele estava ali para descansar e curtir as férias merecidas.
Aos domingos ia a missa, depois reunia com os meninos do catecismo iam para o campo de futebol praticar o nobre esporte bretão. Conseguira conquistar o coração de uma garota, isso o fazia ficar longe da cerca da casa de seus avos. As férias estavam sendo maravilhosamente boas para Vinicius, até que um dia Sr Afonso ao passar pelo armazém do seu Tino, ele disse algo que intrigou:- Afonso. Seu neto gosta muito de pescar né?
- sim ele arrumou um parceiro e todas as terças e quintas vem os dois para o rio dar banho nas minhocas! - Respondeu sorrindo o ancião.
-Mas que amigo? Eu o vejo nestes dias, realmente, sorrindo, às vezes cantando ou falando sozinho.
- Ele tem um amigo. Que o incentiva lhe dar conselho, enfim um amigo que o orienta mais do que nós que somos seus responsáveis.
- Você deve estar enganado. Eu estou aqui defronte para o rio eu o vejo chegar se sentar na pedra, mas nunca o vi com alguém.
Afonso se despediu do Tino e foi para casa preocupado. Quem estava equivocado ele ou o comerciante que fica o dia na praça?
Resolveu inquirir seu neto, que afirmou que sua pescaria era em parceria com seu amigo, que conhecera há mai de um mês. Falou das qualidade de Joaquim e dos vários conselhos que sempre lhe dera.
Não satisfeito com a explicação dada por seu neto. Resolveu segui-lo e quando Vinicius saiu para mais um dia de pesca, resolveu segui-lo e, de fato o Tino tinha razão. Seu neto praticava esse esporte solitariamente. No outro dia quando Vinicius estava sentado pescando, seu avô em companhia do comerciante o abordaram, ao inquirir sobre seu companheiro de pesca, Vinicius alegou que tinha dois dias que não o via.
Assim foi. Joaquim havia desaparecido. Ninguém sabia que pescador era esse que Vinicius alegava ser seu parceiro. Chegou final de janeiro, hora de voltar para casa. A frustração tomara o espírito do jovem, que queria ao menos se despedir de seu amigo.
Pálido ele se preparava para atravessar a balsa de seu Antonio Fune quando de repente ele vê nas mãos de uma senhora um quadro. Seu corpo estremeceu, seus cabelos eriçaram, sua pupilas dilataram a boca de repente ficou seca. as pernas bambearam e quase caiu nas águas do rio. Seus pais que vieram busca-lo para a viagem repararam em sua atitude se assustaram e perguntou-lhe o que estava acontecendo.
Tremulo apontou para o quadro e gaguejando disse: Esse é o meu amigo Joaquim.
Todos miraram o quadro onde se via a figura de um índio  e embaixo a legenda “CABOCLO PENA BRANCA!”.



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