como Rosário III. Rapidamente a notícia correu em Sabará e Santa Luzia e
vieram beatos e padres para ver a imagem achada. A Mitra Arquidiocesa-
Luzia, e assim foi feito.
paróquia e foram encontrá-lo sobre a pedra em Roça Grande. Novamente
pegaram a imagem e a levaram para Santa Luzia. No dia seguinte, a ima-
gem desapareceu de novo. Voltaram a vê-la no mesmo local onde havia
sido achada pelo lenhador.
exato para o santo se assentar e descer as pernas. Era assim que as pesso-
as o encontravam nas manhãs, depois de sumir da igreja de Santa Luzia.
Intrigada com o fato, a Mitra Arquidiocesana decidiu que colocariam o
santo novamente na paróquia de Santa Luzia e que, desta vez, dois guar-
das deveriam vigiar a porta da igreja.
À noite, os guardas ouviram barulho de passos. Examinaram o lugar e
não viram ninguém, somente o rumor do vento e o mato se movendo. No
dia seguinte, para o espanto de todos, principalmente dos vigias que não
pregaram os olhos à noite, Santo Antônio estava novamente sentando em
sua pedra em Roça Grande, desta vez com a batina cheia de carrapichos e
poeira, como se ele tivesse caminhado pelo matagal da região.
A pedra de Santo Antônio
Já tinha virado questão de honra e o povo de Santa Luzia não se rendia ao
fato da imagem, misteriosamente, teimar em fi car num lugar tão atrasa-
do, com um povo simples. Resolveram, então, levar a imagem para Santa
Luzia e reforçar a segurança para mantê-la na paróquia.
Preparou-se uma romaria para levar Santo Antônio de Roça Grande para
Santa Luzia defi nitivamente e, nesse dia tão esperado, a ponte sobre o
Rio das Velhas, que ligava o lugarejo à cidade, sem motivos ou explica-
ções, caiu, impedindo a transferência do santo.
Os moradores de Roça Grande tomaram o fato por milagre e todos acei-
taram que Santo Antônio queria viver sobre a pedra no morro em Roça
Grande. Foi decretado que Santo Antônio não sairia de Roça Grande e
a imagem foi levada para a capelinha do bairro, que tinha catacumbas
na porta e sepulturas dos heróicos bandeirantes sob o chão. Em 1964, a
rocha também foi levada para a capelinha, pois esse objeto também virou
alvo de adoração e muitos tiravam lascas para guardar de lembrança,
considerando ser algo santo.
A notícia do milagre de Santo Antônio de Roça Grande se espalhou e co-
meçou a vir gente de todos os cantos para suplicar e agradecer milagres.
A capelinha foi reformada, transformada em um santuário. A imagem
encontrada pelo lenhador é a mesma que fi ca sobre o altar no santuário
antigo e, abaixo dela, a pedra, também venerada e adorada. O povo acre-
dita que o pó da rocha é milagroso. Dona Preta fala que é comum os fi éis
rasparem a pedra para fazer chá, que, segundo ela, cura de tudo.
A romaria e o trem subúrbio
Roça Grande tornou-se centro de romaria de devotos de Santo Antônio.
No início do século XX, o meio de transporte utilizado pelos romeiros era
o trem chamado “Subúrbio”, que saída da capital com destino a Rio Acima
e parava na estação de Roça Grande, inaugurada no século XIX por D. Pe-
dro II. Mais tarde, foi denominada estação Castro Brandão, fi lho de Roça
Grande que foi o primeiro humorista de Minas Gerais a trabalhar na Rádio
Nacional.
A “Maria Fumaça” vinha puxando mais de vinte carros carregados de
gente, que, na época da trezena de Santo Antônio - os primeiros 13 dias
de junho - vinham com devotos saindo pela janela e em cima dos carros.
Depois do milagre de Santo Antônio que derrubou a ponte de madeira, só
construíram outra ponte em junho de 1972, quando Dona Rosa e Seu Odi-
lon Fune doaram um terreno para a nova ponte e para a abertura da ave-
nida que liga Roça Grande à rodovia. Até então, o caminho para o bairro
era de terra e a estrada dava em Nova Lima e, de lá, no bairro da Sauda-
de, em Belo Horizonte. Seu Floriano, nascido em Sabará em 1933, conta
que os homens e as mulheres que iam de ônibus para a capital vestiam,
ao sair de Roça Grande, um guarda-pó, e o tiravam quando chegavam. Só
assim para fi carem limpinhos.
Antes da construção da nova ponte, o transporte de um lado para outro
do rio era feito pela balsa de Antônio Fune, que consistia em um cabo
amarrado de margem a margem e uma balsa em que ele puxava o povo.
Depois de atravessar na balsa, ainda tinha que passar por um trilho na
beira do rio, onde havia um conjunto de casebres e uma pinguela, que era
um desafi o para os devotos. Valdemar Arcanjo, nascido em Roça Grande
e autor do livro “A Roça conta um conto” (Editora Mourart, 2004), rela-
ta que os romeiros, ao passarem pelos casebres, admiravam-se com um
prato simples da culinária local que se tornou a segunda maior atração do
bairro. Era um peixe, comprado no Mercado Central de BH, temperado e
frito, envolto em fubá. Os romeiros acreditavam que aquele peixe era um
legítimo dourado pescado no Rio das Velhas.
Em 1986, o trem do “Subúrbio” fez sua última viagem. Seus trilhos ainda
cortam Roça Grande e traçam caminho conhecido como “Estrada Velha”.
Essa estrada-de-ferro divide o bairro e faz parte da história de sua povoa-
ção: no fi m do século XIX, depois da abolição da escravidão, um grupo de
negros libertos de uma fazenda em Nova Lima, pertencente a um parente
de D. Pedro II, foi para Roça Grande e ali se instalou, invadindo as plan-
tações e furtando animais. Como pertenciam à família Alcântara, eram os
negros de Alcântara e esse fi cou sendo o sobrenome daquela nova família,
à qual se juntou muitos índios.
Porém, as terras de Roça grande já tinham dono. O português Teófi lo
Alves Benfi ca foi designado pelo Tenente-general do mato Borba Gato,
em início do século XVIII, como o capitão responsável pelas estâncias de
plantações de roças e criação de porcos e aves para o sustento de ho-
mens de jornada. Capitão Teófi lo Benfi ca destacou-se em sua função de
patrulhar, organizar e impor aos aventureiros e moradores normas rígi-
das, visando preservar as riquezas minerais da região
em nome da Coroa. Como retribuição, recebeu terras
férteis e ali plantou a semente de sua família, a maior
e mais infl uente no bairro de Roça Grande.
Com a chegada dos Alcântara,fato esse ocorrido após a noticia da abolição da escravatura
houve guerra pela terra.
Muitos morreram até que se fechou um acordo: a parte
povoada, com as plantações, fartura de água e fácil
acesso à capital, fi cou com os portugueses e seus des-
cendentes. Esta terra fi ca à direita da estrada velha,
e o lado esquerdo fi cou para os negros e índios que
chegavam no arraial.