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segunda-feira, 6 de setembro de 2010



1974.
Sete de setembro de 1974. Mais um aniversario da independência do Brasil.
A expectativa dentro de mim era enorme. Pela primeira vez iria vestir a linda camisa do SENAI-Centro de formação Profissional Michel Michels, não porque o curso me entusiasmava, mas era lindo ver o colégio desfilando pelas ruas d e Sabará. Todo de branquinho, tendo á frente o ex aluno Clayton com sua lambreta. A maioria dos alunos, geralmente altos, carregando as bandeiras de todos os estado da federação e das indústrias e instituição associados.
O professor Pedro Paulo sempre foi o mais entusiasmado á frente dos alunos dava seu show particular, outros como George, Eli, Alda Hamachek, Ana Maria, Urias (um padre espanhol que dava aula de matemática) funcionário e outros simpatizantes davam o tom de organização e dedicação e amor a essa instituição.
Nos ensaios deste ano um aluno de destacou no seu jeito elegante de marchar.
Tanto que foi escolhido para ser o primeiro do pelotão de aluno a desfilar. Parecia que se sentia orgulhoso de usar aquele uniforme, de fazer parte daquela escola.
Seu nome Eduardo. Eduardo traduzia garbosamente o sentimento de orgulho e felicidade que muito de nós sentíamos naquele momento.
Comentávamos que quando fosse à hora de nos alistarmos nas forças armadas da republica, certamente ele iria servir e com certeza seria mais um defensor da pátria.
E isso em parte aconteceu. Eduardo se alistou nas forças armadas, fora servir e quando voltou se inscreveu na policia militar do estado de Minas Gerais.
Não vi mais o Dudu, como o chamávamos carinhosamente,
Crescemos criamos famílias e esporadicamente um colega se encontrava com o outro, No meu lado o que sobreviveu deste convívio escolar, foi à amizade profunda com Élson Benfica, mesma assim por morar no meu bairro. O resto da turma se dissipou no mundo de meu Deus.
Eduardo foi morar em Governador Valadares e um dia eu o encontrei. Estava de volta a Sabará.
Não era aquele menino que se enxergava no fundo dos seus olhos o brilho e o encantamento de quem via o mundo colorido e cheio de expectativa. O Dudu que estava á minha frente, era um homem amargurado, triste desconfiado.
Zangou se comigo quando o chamei pelo codinome, disse pausadamente: Meu nome é E-du-ar-do Não se lembra?
Lembrar me lembrava, vi que o clima de amizade estava se extinguindo e tentei remediar a situação.
Pois bem amigo Eduardo. Como esta vendo a vida?
- A vida é uma merda Não se pode confiar em ninguém. Nosso governo é feito de pessoas que só olha para o seu próprio umbigo. Arrependi de dar trinta anos de minha vida a essa turma de irresponsáveis e parasitas. Reclamou meu colega.
Uma coisa percebi em Dudu (Opa! Senhor Eduardo), seu gesto eloqüente e exagerado continuavam o mesmo.
- Olha não fique assim. – Contornei.
- As coisa vão mudar!- argumentei.
- Tenha fé em Deus! . –Disparei.
Você acredita nessa basbaquice de Deus ainda? Você não percebe se Deus existisse essa coisa neste mundo não estaria assim.
Não estava acreditando no que ouvia. Dudu, aquele rapazinho, que aos 14 anos se dizia devoto do coração de Jesus, a ponto de não perder uma missa sequer, dizer essa heresia?
O ressentimento com a vida era profundo demais.
Sabe Valdemar, continuou , esse Deus que eu acreditei , é um engodo.
O deus que eu acredito, está dentro de mim, tudo posso Se consigo a coisa na vida, cada conquista que alcanço, só deve creditar a mim e mais ninguém.
Estava branco de espanto. Imagine eu um criolão branco de espanto... Poderia me chamar naquele momento de loirinho que pegaria bem !
Via e ouvia e não acreditava. Mas não retruquei o argumento do senhor Eduardo. Não era mais o meu amigo. Um longo vale se abriu em nossa convivência. Não queria Ter como amigo alguém que ia de encontro com meus princípios e fé. Seria até nocivo ao ambiente que eu vivia.
Respeitei seus argumentos, conversamos sobre algumas variedades de assunto e nos despedimos.
Constantemente via Eduardo. Agora já sargento reformado e morando no bairro do Campo Santo Antônio, em Sabará.
Obrigatoriamente a gente tinha que parar e conversar. Percebi que ele se sentia bem com a minha companhia e na minha ingenuidade tentei o fazerele ver que ele estava errado em sua convicção de que Deus não existia.
Os argumentos chulos dele me irritava e eu mudava de assunto.
Expunha para ele meu projeto de escrever livros, de fazer minha pequena empresa crescer, meus filhos, minha vida, as desventuras e aventuras românticas. Tudo isso conversamos e nos despedíamos com a esperança de que nos encontraríamos brevemente.
Observei que ao se tornar ateu, Eduardo, levava isso ao extremo.
Sentia na sua fala, um grande rancor ao todo poderoso e com isso tentei não tocar em assunto dogmático com ele, mas sempre e sem querer eu soltava um “se Deus quiser, em nome de Jesus ou vai com Deus” no o inicio achava ruim, mas amiúde ele foi aceitando essa minha mania e eu pro outro lado aceitava o meu amigo do jeito que era.
Lancei o meu primeiro livro, vi que ele me incentivou, me parabenizou e ainda conseguiu votar em mim para vereador da cidade de Sabará.
E me falava com uma certeza latente que dos oitenta e quatro votos que eu tivera na eleição de 2004 dois votos eram dele e de sua adorada mãe.
Tinha certeza agora que Eduardo estava reconciliando com a vida. Nunca perguntei o que acontecera em Governador Valadares que o deixara assim tão amargo com a vida e com o criador, só sei que aos pouco fui pescando de sua boca fatos que me fizeram ver o quadro de convivência sócio profissional lá no leste do estado.
O tempo foi passando e Eduardo começou a trabalhar com supervisor de segurança numa empresa de médio porte na capital das gerais.
Com isso foi escasseando nosso contato.
Encontrei com ele depois de três meses do nosso ultimo contato. E notei que o seu olhar era mais triste e amargurado que antes. Contou-me o que acontecerá. Sua mãe partira para o outro lado. Ele não se conformara. Tentei consolá-lo dizendo-lhe que Deus sabia o que estava fazendo.
Meu Deus! Por que fui falar isso?
Ele desfiou um tanto de blasfêmia que não tenho coragem para descrever.
Pedi em pensamento que Deus o perdoasse.
Ele chorou. Chorou como uma criança.
Dizendo que sua mãe não merecia um fim como aquele.
Como você argumentaria algo para uma pessoa que não acreditava em nada?
Fiquei calado ouvindo. Se falasse algo. Poderia ofendê-lo.
Despedi analisando cada palavra que emitia para não o ofendes ou aumentar sua ira com o nosso Deus.
Cheguei em casa arrasado e me perguntava como pode uma pessoa não acreditar em Deus, se Deus é vida?
A resposta não tardou a vir.
Eduardo entrou em depressão, faltou de serviço durante uma semana. Não atendia telefone, não saia de casa, não era visto em nenhuma circunstancia.
Seus parentes preocupados resolveram ir a sua residência, chamaram, como ninguém atendeu á porta foi preciso arrombá-la e o que foi visto na sala de estar deixou todos perplexos.
Eduardo estava dependurado no lustre do teto de sua sala, enforcado.
A perda de sua mãe, em quem realmente ele acreditava e amava, fora demais para ele. Perderá toda a referencia neste mundo e resolveu seguir o caminho trilhado por sua genitora.
Só peço a Deus, em quem acredito e confio que como ele perdoou quem crucificou o seu filho unigênito. Que perdoe esse seu filho rebelde.

Amem

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