o texto não é meu. mas achei muito
interessante. Pelo menos meus inimigos vão saber a definição do que sentem por
mim.
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Inveja
Em vez de destruí-lo, ela pode ajudá-lo a crescer. Aprenda a lidar de maneira produtiva com esse sentimento, que é comum a todos os seres humanos
Em vez de destruí-lo, ela pode ajudá-lo a crescer. Aprenda a lidar de maneira produtiva com esse sentimento, que é comum a todos os seres humanos
Por Otávio Rodrigues
Aconteceu em família. Os dois irmãos trabalhavam num mesmo
grupo, mas em empresas diferentes - o mais velho em agricultura e o outro em
negócios com ovinos. E não se davam bem. Qualquer pequeno sucesso do irmão mais
novo causava desgosto no mais velho.
Todo mundo conhece esse sentimento - seja de um ou de outro
lado da linha. Acontece entre irmãos, como nesse caso, mas também entre amigos
e colegas de trabalho. Há momentos em que a tal amargura se instaura mesmo em
relação a personagens distantes e míticos, como a atriz da novela, o cantor de
mambo e o executivo nota 10. Pode ser um estremecimento rápido, ocasional. Ou
então um ardor lancinante, duradouro, talvez eterno. Mas é quase sempre
inconfessável.
A história daqueles irmãos teve seguimento, complicou-se ao
longo dos anos, até que um dia a casa caiu mesmo, envolvendo até o chefe do
grupo. Para demonstrar superioridade e atrair para si as atenções do alto
comando - que lhe pareciam sempre dirigidas ao mais novo -, o agricultor
entregou pessoalmente os resultados da produção na sede do grupo. O mais novo
fez o mesmo com suas ovelhas, quase por imitação, mas ainda assim ganhou
sozinho e de novo o reconhecimento do todo-poderoso. Pouco depois, o caçula foi
encontrado morto.
Não há provas de que esse caso de inveja tenha mesmo
ocorrido, mas é tido como o mais antigo (dá para perceber, é a história de Caim
e Abel). Claro, trata-se de um mito, e, como tal, num exagero, dá até para
dizer que aconteceu em nossa família - em sua gênese, por sinal. E que por isso
ainda está aí, impregnando nosso código genético.
O sucesso dos outros incomoda você? O seu sucesso incomoda
os outros? É natural que tenha respondido "sim" a pelo menos uma
dessas perguntas - caso contrário, seu reino não é deste mundo. O que não
parece exatamente claro para todos, porém, é que as organizações estão
extremamente vulneráveis à disseminação desse mal. Apesar de faltarem números a
respeito, é consenso entre estudiosos, consultores e alguns executivos de
recursos humanos (mais a torcida do Flamengo e do Corinthians) que a inveja
tende a proliferar nos ambientes onde existem alta competitividade e políticas
de premiação - um modelo trivial nas corporações de hoje. A utilização
desregrada das chamadas "doutrinas de sucesso" e dos programas de
reconhecimento individual ou por equipe, a falta de transparência nas políticas
de benefícios, a criação de mitos e heróis internos e externos, tudo isso pode,
ao mesmo tempo, gerar frustrações, sentimentos de impotência e, finalmente,
colaborar para que a inveja ganhe terreno.
Em casos extremos, o estrago pode ser grande. A começar
pela perda de tempo: quando as pessoas estão sentindo inveja, não estão
trabalhando ou pensando no que é melhor para si e para a empresa. Há quem
arquive um bom projeto só para impedir que alguém brilhe por ter boas idéias e
iniciativa. Sem falar na perda de profissionais talentosos, que, em geral, não
duram muito em ambientes contaminados pela inveja.
E os prejuízos continuam. Quem sente inveja pode se tornar,
rapidamente, uma pessoa amarga no trabalho. A carreira passa para segundo
plano, a produtividade cai, as boas idéias desaparecem, a angústia e a
ansiedade tomam conta do coração e da cabeça. Numa dessas, a carreira do
invejoso pode ir para o brejo. E por culpa dele mesmo. Aquele que é invejado,
por sua vez, pode ser vítima de sabotagens e não raro acaba fritado. Ou seja,
invejar ou ser invejado é uma pedra no caminho.
Mas, afinal, podemos deixar de sentir inveja? Dá para
controlá-la? Bem, não podemos nos livrar desse sentimento - ao menos, enquanto
a verdadeira maturidade não chega. Mas podemos e devemos nos esforçar para
gerenciar a inveja, tranformando-a em saudável motivação para alcançar o que
desejamos.
Um bom começo é entender melhor esse sentimento. Segundo a
psicanalista austro-inglesa Melanie Klein, a respeitada discípula de Freud,
cultivamos a inveja desde cedo, entre os carinhos da mãe - de novo ela. Nós
todos, enquanto bebês, associamos a mãe às sensações de saciedade e conforto.
E, na falta dessas sensações, ainda que por breves instantes, acreditamos que a
mãe está tirando proveito dessa saciedade e desse conforto sozinha. É uma
teoria curiosa.
Patrícia Amélia Tomei, doutora em administração de recursos
humanos pela FEA/USP e professora da IAG Escola de Negócios da PUC/RJ, explica
que nesses momentos entra em ação uma lógica infantil, mas que pode perdurar
por toda a vida: "O meu sofrimento pressupõe um prazer alheio" ou
"Todo prazer alheio me faz sofrer". Pronto: aí nasce a inveja. Ao
longo da vida, claro, vamos acumulando experiências que podem estimular ou
atenuar essas impressões. Em geral, conseguimos chegar a algum equilíbrio,
porém, mantemos esse traço permanentemente.
Em outras palavras, todos nós, de um jeito ou de outro, em
maior ou menor grau, assim ou assado, sentimos inveja. Não é fácil reconhecer
esse sentimento intimamente, menos ainda admiti-lo diante dos outros. O mais
habitual e confortável é concordarmos que os outros, sim, é que têm inveja da
gente. E também, para não levantar suspeitas, admitimos que há dois tipos de
inveja. Uma é a "inveja negativa", um sentimento sórdido que visa
destruir as conquistas do outro - e em alguns casos o outro inclusive, como fez
Caim. A outra inveja, social e profissionalmente aceita, ainda que de forma
velada, é a "inveja positiva". Esta não quer destruir nada nem
ninguém. É natural querer um carro igual ao do seu amigo, ou uma casa como a do
vizinho, ou ainda uma jóia tão linda como a daquela prima antipática. A partir
do sucesso do outro nos damos conta de como gostaríamos de ter o mesmo para
nós. A boa ventura alheia, portanto, pode servir como modelo, como inspiração.
Sem efeitos colaterais.
ASSUMINDO O COMANDO
Durante a preparação desta
reportagem, no entanto, ficou claro que o assunto ainda é tabu na maior parte
das organizações. "Como?!?" foi exclamação comum entre as mocinhas
que perguntavam sobre o propósito do telefonema. Foi praticamente impossível
encontrar alguém que reconhecesse invejar alguém no trabalho ou na carreira.
Uma das exceções foi o psiquiatra José Ângelo Gaiarsa, que, assim como Gore Vidal,
não titubeou: "Já morri de inveja do Roberto Shinyashiki e do Paulo Coelho
e de todos os milhões que eles ganham vendendo livros", afirmou ele. A
maioria dos executivos, porém, escapa da conversa com um telegráfico e
conclusivo "não temos esse tipo de problema aqui".
Infelizmente, isso não é verdade. Já se sabe, por exemplo,
que a inveja ocorre principalmente entre os cargos de média gerência. Porque
nos níveis mais baixos há menos competição e maior companheirismo, e, lá em
cima, no olimpo das empresas, a competição é mais consigo mesmo do que com os
outros. Mas veja bem: afora os casos extremos e destrutivos, pode não haver
nada de tão terrível assim na inveja comum, modelo standard. É preciso, sim,
admitir sua existência, conscientizar-se de seus efeitos perigosos e, então,
tomar medidas para gerenciá-la em nível individual ou coletivo, conforme o caso.
AS TRÊS INVEJAS
Patrícia Tomei tornou-se uma especialista em inveja. Não há muitos trabalhos acadêmicos ou livros sobre o assunto, e ela vem investigando esse "buraco negro" da administração. Um dos resultados é Inveja nas Organizações (Makron Books), um valioso manual sobre o assunto. Nesse livro aparece um texto do psicanalista Alberto Gondim, no qual um executivo depara com uma situação comum nas organizações - o reconhecimento do talento individual de um novato. É um monólogo hipotético que ajuda a esclarecer três tipos básicos de inveja: a sublimada, a neurótica e a perversa. Será que você conhece alguém que pensa desta ou daquela maneira? Confira:
"Vi-o entrar esta manhã. Parecia um herói de fotonovela. Queimado de sol,
bem-disposto, seus 34 anos pareciam 18. Regressava de suas férias-prêmio.
Merecidas... Apesar da pouca idade (começara aos 20 anos como contínuo), era o
orgulho da gerência de vendas. Sua criatividade lhe havia valido uma simpática
soma em dinheiro mais uma viagem para duas pessoas ao Caribe, primeira classe,
tudo pago. Não sei por que, com todas essas virtudes, eu sinto inveja dele. A
empresa saiu do vermelho, tudo por um golpe de sua genialidade ou sorte. Uma
idéia absolutamente original, que abriu um novo nicho de mercado. Não
poderíamos deixar de reconhecê-lo, embora parecesse uma loucura de alto risco.
Mas sua ousadia lhe permitiu aproveitar a oportunidade e montar no cavalo
branco. O curioso é que todos aqui sentimos por ele uma mescla de admiração e
ódio. Por que não me ocorreu essa idéia? Algo tão simples... Pensando bem, com
20 anos de casa, jamais vi essa saída - e estava diante do meu nariz. Enfim,
devo reconhecer seus méritos, aproveitar seu talento e agradecer a Deus por ele
estar conosco. É um sujeito humilde, generoso e brilhante. Não posso dizer o
mesmo de mim. Infelizmente não sou eu quem comanda os destinos humanos.
Bem-vindo, jovem brilhante! E os mais antigos e acomodados como eu, que tenham
humildade para aceitar o potencial, o talento e o brilhantismo dos jovens e
gênios. Brindo a eles! Dentro de mim este pequeno sofrimento irá cicatrizando.
Como todos sabem, anos atrás fui fundamental nos momentos críticos da empresa.
Em algumas épocas o jovem genial fui eu. Admito que nem tão jovem nem tão
genial, mas ainda assim, necessário e com vontade de crescer."
Inveja neurótica
"Não consigo olhá-lo de frente: me dá raiva. Tem sorte demais. Ganhou de todos e ainda por cima foi premiado com uma viagem de primeira classe. Não gostaria de falar mais com ele, mas, como é da minha equipe, vou suportá-lo do melhor modo possível. Para piorar as coisas, estou sentindo de novo aquelas terríveis dores no estômago. Minha velha úlcera abriu de novo..."
Inveja perversa
"Preparei um dossiê para quando ele voltar de férias. Já falei ao diretor-geral que, apesar de ele ter facilitado o aumento dos objetivos de venda, tenho quase certeza de que pensa em sair da empresa para trabalhar no concorrente. Percebo que ele é um sujeito capaz, porém, traiçoeiro. Devemos desmascará-lo. É perigoso para nossa organização e alertaria todos para que não se deixassem impressionar por esse êxito circunstancial. Juro que me vingarei."
Esses excertos de Inveja nas Organizações mostram a
diversidade de ação do vírus da inveja. Mesmo a olho nu podemos observar uma
grande quantidade de sentimentos envolvidos, ora em conjunto, ora em
alternância - senso de justiça, inferioridade, admiração, ódio, raiva,
exibicionismo, desdém, desconfiança, soberba, superioridade, dor... A inveja
tem muitas faces.
Percorra mais uma vez o raciocínio do executivo do monólogo
e observe que, em várias oportunidades, ele acredita que está certo. E costuma
ser assim mesmo no dia-a-dia. Em geral, quem inveja não se dá conta de que está
invejando: o que passa pela cabeça é que está sendo injustiçado, ou que seu
talento não é reconhecido, ou ainda que forças misteriosas levam bonança apenas
ao outro, mas não a ele. E assim por diante. No caso extremo, o invejoso afirma
que o outro usa de artimanhas para superá-lo e que, por fim, pretende trair
todos na empresa - e o invejoso pode mesmo estar acreditando nisso com todas as
suas forças.
As variáveis são muitas. Por exemplo, embora fosse bastante
desejável, não possuímos um conceito universal de justiça. E, como brasileiros,
incorporamos crenças supersticiosas sobre felicidade no amor e na vida, sucesso
no trabalho, fortuna etc. (daí a popularidade de simpatias contra olho gordo,
olho-de-seca-pimenteira, quebranto e outros sinônimos da inveja). Ou seja, cada
um, conforme a formação cultural e social, e também conforme as circunstâncias,
pode acreditar-se justiçado ou não. Conclusão: vá devagar, pare e pense. Você
pode estar com inveja de alguém e ainda não ter descoberto. Ou pior e mais
provável: não está se esforçando o suficiente para atingir seus objetivos.
DEU NA EXAME
O caso a seguir não está na Bíblia, nem nos livros sobre administração: apareceu na revista Exame, entre março e julho de 1994. Começou com uma reportagem sobre turnaround, que trazia "histórias de executivos que reconduziram ao topo empresas em declínio". Na capa, um dos personagens da matéria aparecia sem paletó, sério, apoiando a cabeça sobre uma das mãos. Legenda: "Em três anos, o executivo Lélio Ramos levou a estagnada Divisão de Motores da Iochpe-Maxion à liderança entre os fabricantes de motores diesel."
O caso a seguir não está na Bíblia, nem nos livros sobre administração: apareceu na revista Exame, entre março e julho de 1994. Começou com uma reportagem sobre turnaround, que trazia "histórias de executivos que reconduziram ao topo empresas em declínio". Na capa, um dos personagens da matéria aparecia sem paletó, sério, apoiando a cabeça sobre uma das mãos. Legenda: "Em três anos, o executivo Lélio Ramos levou a estagnada Divisão de Motores da Iochpe-Maxion à liderança entre os fabricantes de motores diesel."
Procuradas para falar a respeito nesta reportagem de capa
de VOCÊ s.a., nenhuma das partes se manifestou até nosso fechamento. Lélio
Ramos, vale dizer, hoje é diretor comercial da Fiat, primeiríssima colocada no
ranking do GUIA EXAME - AS MELHORES EMPRESAS PARA VOCÊ TRABALHAR deste ano.
Luciano Castelo, psicólogo, psicanalista e consultor de empresas, define a inveja partindo de uma comparação entre jogo e luta. "O jogo é uma competição, mas com regras estabelecidas. O objetivo é vencer, mas preservando o competidor." Mas, segundo Castelo, professor da IBMEC Business School e dos programas de MBA da FGV, ambas no Rio, essa complacência com o oponente não existe na luta. "Neste caso o objetivo é vencer destruindo o competidor." E ele vai mais longe. "Há a luta aberta, declarada, na qual você pode se defender, mas também a luta mascarada, a pior de todas. Infelizmente é o tipo de luta que a gente mais encontra nas empresas. Quase sempre, fruto da inveja."
Os bastidores nem sempre gloriosos dessa batalha são
confirmados pelo arquiteto Sérgio Athié, da Athié Wohnrath Associados, um
escritório bastante requisitado por grandes empresas. "Já tive de refazer
uma parede por causa de uma diferença de 10 centímetros no tamanho da sala de
um executivo", diz ele. "Não fazia sentido erguer a parede naquele
posição, mas houve uma reclamação formal: ele não queria que sua sala fosse
menor que a de um colega." Athié se declara "meio psicólogo",
tantas foram as vezes que precisou convencer altos funcionários a relevar
questões como essa.
O psiquiatra José Ângelo Gaiarsa, cujo livro mais recente
chama-se O Olhar (Editora Gente), entusiasma-se com a riqueza do tema. "Se
alguém escrevesse o livro que precisava ser escrito sobre a inveja, seria uma
obra mais importante que O Capital", diz ele. Mas sua definição de inveja
é muito prática: "É uma defesa contra a admiração que podemos sentir pelos
outros. Em vez de nos dedicarmos a olhar a pessoa invejada de baixo para cima,
só a olhamos de cima para baixo". Na opinião dele, para sair dessa é preciso
tomar consciência da inveja que sentimos. "Em geral, alguém tem de dizer
isso ao invejoso - essa ajuda pode vir de um colega de trabalho ou de um
amigo." E, por fim, dá uma receita: "Passe a admirar quem você
inveja, olhando de baixo para cima, como quem quisesse chegar à altura do
outro, e não com desprezo. Agindo assim, você vai se tornar parecido com
ele".
MAL SECRETO
O livro Inveja - O Mal Secreto (Editora Objetiva), do jornalista Zuenir Ventura, está entre os mais vendidos nos últimos tempos, no Brasil. Nas primeiras páginas, há uma nota proveitosa. "Aos que pretendem empreender esta viagem, o autor pede que levem consigo, para o caso de se perderem, três distinções básicas: ciúme é querer manter o que se tem; cobiça é querer o que não se tem; inveja é não querer que o outro tenha."
O livro Inveja - O Mal Secreto (Editora Objetiva), do jornalista Zuenir Ventura, está entre os mais vendidos nos últimos tempos, no Brasil. Nas primeiras páginas, há uma nota proveitosa. "Aos que pretendem empreender esta viagem, o autor pede que levem consigo, para o caso de se perderem, três distinções básicas: ciúme é querer manter o que se tem; cobiça é querer o que não se tem; inveja é não querer que o outro tenha."
A psicóloga Cleide Romero enfrentou esse mal - que para ela
não teve nada de secreto (todo mundo no trabalho viu e ouviu o que se passou).
Ela dirigia uma creche em São Paulo e tomou a iniciativa de solicitar alguém
com qualificações para cuidar da saúde das crianças. E foi atendida. "Era
uma mulher muito bem formada", conta ela. "Mas passou a usar
artifícios para me derrubar." Não por acaso, Cleide fazia uma bem-sucedida
administração do negócio. "Ela não se conformava por eu ser benquista
entre as crianças e as mães. E passou a me perseguir. Se eu recebia um
telefonema durante uma reunião, ela dizia que era algo combinado para que eu
saísse da sala." O desenlace confirma as dicas de Zuenir Ventura.
"Ela não queria que eu estivesse naquele cargo. E não descansou até que eu
fosse embora." Hoje Cleide está em outra instituição. "Soube que essa
mulher saiu logo depois de mim", diz ela.
Mas a pior atitude que se pode ter diante de histórias como
essa é sair entendendo todo gesto dos colegas como ameaça. Para Adriana
Fellipelli, diretora da Coaching Psicologia Estratégica, é necessário
compreender a dinâmica do trabalho nas empresas de hoje. "Muitas coisas
que em outros tempos chamaríamos de inveja, agora têm a ver com os novos papéis
dos profissionais nas corporações", diz Adriana. "Existe um aspecto
primário de controle de território cada vez mais visível. É um anseio legítimo,
que não se confunde com querer o que é do outro."
Há entre as grandes empresas as que nem sequer se preocupam com a inveja - a DPaschoal, por exemplo, uma das dez melhores do GUIA EXAME - AS MELHORES EMPRESAS PARA VOCÊ TRABALHAR. "Esse é um tema que não nos passa pela cabeça, não nos parece tão relevante", afirma Ana Maria de Marchi, gerente de desenvolvimento organizacional. "Não deparamos com situações assim nefastas e nunca precisamos ter nenhuma conversa sobre o assunto", garante ela. Já na Casa Verde Móveis, empresa de Mirassol, interior de São Paulo - que não é tão grande quanto a DPaschoal mas que aparece entre as 100 melhores do Guia EXAME -, a história é outra. "A inveja nos preocupa muito", diz a psicóloga Salma Ribeiro Regatieri, coordenadora de desenvolvimento humano. "Eu procuro evitar que a inveja surja já na integração de cada novo funcionário. Passo as normas da empresa, defino a postura desejável, como ele deve se aproximar dos colegas, esclareço que estamos todos aqui para somar e não para tomar o lugar de ninguém. E digo abertamente: não queira mostrar que você é o melhor."
No Pão de Açúcar ninguém é doce com a inveja. Mas, quando
ela aparece, é enfrentada de frente. Maria Aparecida Fonseca, a Cidinha,
diretora de recursos humanos da companhia, conta algo que aconteceu em seu
próprio departamento. "Tínhamos duas pessoas ocupando cargos equivalentes,
e, quando fizemos um novo organograma, surgiu um cargo imediatamente superior
ao desses dois funcionários. Eles eram, portanto, candidatos naturais."
Ela diz que a escolha foi consciente, compartilhada por diversos departamentos.
Mas houve seqüelas. "Para minha surpresa, o funcionário preterido recebeu
mal a notícia da escolha do outro. Sentiu-se injustiçado", afirma. A
transparência é ótimo recurso nessas horas. "Fui muito firme", conta
Cidinha. "Apresentei o histórico da escolha e deixei claro o porquê de ele
não ter sido selecionado."
Acompanhando o relato de Cidinha, descobrimos que, depois
desse desgosto com o sucesso do colega, o tal funcionário acabou dando novo
rumo à carreira. "Ele revelou que, no fundo, não tinha interesse
particular pelo cargo que estava reclamando e que se sentia inseguro quanto ao
que realmente queria dali em diante", diz ela. A partir daí, com o apoio
da empresa e a contratação de uma assessoria externa, a vida desse profissional
mudou. "Ele repensou seu papel, sua evolução na organização, e acabou
revolucionando sua carreira. Hoje, ele ocupa uma posição importante na companhia
- até mais importante do que a posição invejada naquela ocasião," diz a
diretora do Pão de Açúcar. E conclui: "É uma burrice ignorar que, atrás de
sentimentos humanos, como a inveja, outros fatores estão em jogo. O ideal é
evitá-la, fazendo um trabalho preventivo. Mas, se valer a pena, a gente apaga o
incêndio e depois vira a mesa".
Esse caso é emblemático, pois reitera o conceito da inveja
positiva e transformadora. Fica claro que é possível tirar vantagem da inveja
que sentimos, tomando sua centelha formadora para aprender mais, preparar-se
melhor e chegar lá. Como os outros.
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