Quem anda pelos morros de Roça Grande, no hoje
bairro Santo Antonio, vai se deparar com uma ruína numa área plana de vegetação
rasteira.
Lugar aprazível de onde se enxerga a cidade
de Nova Lima, Belo Horizonte, Sabará e Raposos alem de ver na direção do sol
nascente, a fabulosa Serra da Piedade, localizada no município de Caeté, terra
de Israel Pinheiro.
Olhando atentamente, notará que a ruína é
composta de alicerce que no passado deveria ser bem consistente, tendo em sua
estrutura um casarão de vários cômodos.
Freqüentava esse lugar desde criança,
primeiramente com meu avô, buscar mangaba, gabiroba e lenha para ser usada no
fogão.
Curioso em saber quem seria o louco que
moraria tão longe da cidade meu avô me contou essa historia.
No século XVIII, época de grande expansão
mineral nas Minas gerais. Sabará foi invadida por vário tipo de imigrantes.
Portugueses, paulistas, italiano, baianos e
até franceses, certamente remanescentes de algum navio corsário destruído em
batalhas contra os nativos brasileiros e os povos lusitanos que administrava a
terra tupiniquim.
Povo carismático, os franceses vieram á
procura de ouro e estabilidade econômica.
Vindo diretamente do Rio de Janeiro, chegou
nestas paragens Jacques Pierre Chambront, ou simplesmente Chambront. Homem
rude, maquiavélico, com idéia fixa de ser rico muito rico.
Levava ao pé da letra essa idéia e a de um
seu conterrâneo que acreditava que o fim justifica os meios
Muito
místico Chambront acreditava em mistério e o convívio com negros de origem do
sudeste da áfrica, ficou conhecendo e temendo certo ritual nativos.
Sua cabeça dava voltas ora com a superstição
indígena, ora com a força da natureza e seus entes que habitavam a floresta.
De um lado Tupã e Jaci, do outro Xangô,
Iansã, Oxossi e Exus alem de sua tradicional origem dogmática, a cristandade.
Isso ás vezes o inibia, mas a vontade era
tamanha em ser rico que um dia andando pela estrada velha que liga Sabará a
Nova Lima encontrou uma andarilha que lhe pediu um pouco de comida ou algo que
lhe desse um pouco de alento até chegar à povoação mais próxima.
- Olha senhora tenho aqui um pouco de feijão
com farinha e torresmo alem de carne de sol. Sirva se.
A estranha mulher sentou a beira da estrada e
se fartou.
Uma mulher com a feição de índia mestiça com
negro. Cabelos negros corridos e dentes alvos, magra um olhar negro e
misterioso como era a sua aparição ante ao francês.
Satisfeita do tratamento que esse imigrante
estrangeiro lhe oferecera, resolveu também lhe dar um presente.
- Sei qual é o teu maior desejo, e como tu
foste piedoso com uma estranha, poderá fazer uma escolha: Posso dar-te uma
mulher bonita e fiel onde terás alegria e paz, filhos sadios, amigos ma s
viverá eternamente procurando o pão ou posso dar-te riqueza, poderes, mas
estará sempre vigilante, pois a inveja e cobiça de seus semelhantes será uma
constante. Que te prefere?
-Esta a brincar comigo. Não tens onde cair
morta?
-Vim para te testar e fazer esta oferta.
-retrucou a estranha mulher .
-Que assim seja. Quero dinheiro muito
dinheiro, escravos, mulheres, ouro muito ouro, quero ser invejado pelo meu
poder financeiro. Quero dominar tudo ser o dono do mundo.
- Se este é o teu desejo. Vou realizar, mas
olha bem o que esta desejando.
-Quero poder. Quero dinheiro. O resto não me
importa.
- Nem que para isso tu vendas a tua alma Para
o tinhoso? Retrucou a mulher.
- Quero viver o momento, o futuro não me
interessa.
-Que assim seja. A mulher abriu um alforje e
entregou á Chambront, uma garrafa coberta com um tecido negro e orientou que só
o abrisse somente em lugar onde seria a sua futura casa. E que a garrafa em
hipótese alguma poderia ter sua rolha retirada do gargalo.
Deveria fazer os pedidos toda as sexta feira
á meia noite e esperar o resultado.
Os pedidos deveriam ser em numero de
três. E os seguintes rituais eram
obrigatórios:
Assim que conseguir seu objetivo. Estaria
compromissado com o tinhoso.
É isso que tu queres? Ainda perguntou a mulher.
È! Confirmou o francês Chambront.
Que assim seja. Tu acaba de quebrar o meu pacto e a
partir de hoje terás o queres. Tomara que não te arrependas.
Tido isso a mulher andou alguns passos e
desapareceu.
Acreditando na historia da mulher, esperou a
primeira sexta feira da quaresma para confirmar o pacto.
A meia noite da sexta feira, só no alto do
morro vendo as luzes das fogueiras dos escravos abaixo da serra ele tirou o véu
negro da garrafa e notou uma luz vermelha dentro.
O que queres meu amo para me libertar desta
garrafa? Ouviu uma voz fina vinda de dentro da garrafa.
Quero dinheiro poder e uma fazenda bem aqui
cheio de escravos, gado e uma mina de ouro particular.
- Terá o que pede mortal. Mas vou embora e
voltarei para te buscar para minha morada.
.-Faça o que peço e daqui a sessenta anos
estarei a sua disposição.
-Então durma. Terá tudo o que pede ao
amanhecer.
Estranhamente Chambront caiu no sono. Acordou
no dia seguinte numa cama luxuosa feita de mogno, um quarto que lembrava muito os
aposentos do Rei Sol Luiz XIV decapitado anos antes juntamente com Maria Antonieta.
Estava sonhando, não podia acreditar, todo o
seu desejo estava sendo realizado.
Uma mulher negra adentrou em seus aposentos;
- Sua benção sinhô. O desjejum esta na mesa e o
sinhô têm que da as ordens do dia.
Atônito Chambront, foi guiado a uma grande
sala feita de blocos de pedra talhado, mesa feita de madeira maciça, como as
cadeira, armários, iluminação era feita com castiçais de ouro e vela vinda
especialmente da índia, por causa de sua durabilidade e odor.
Saiu ao pátio de sua fazenda e vira
realmente, onde desejava ter o a sua propriedade se realizara.
Gados bovinos e caprinos. Meia centena de
escravos sendo vigiado por uma dezena de capitães do mato e cães.
Estava sendo tratado como rei. Tudo o que
precisava, era só estalar o dedo e surgia como por encanto.
Escolheu um capataz e uma governanta para
ajudá-lo a administrar sua propriedade.
Teve mulheres. Muitas mulheres.
Viajava para o Rio de Janeiro, Voltou a Paris
levando as riquezas de sua propriedade e todos admiravam e se espantavam como o
francês Chambront, o pobre e amaldiçoado Chambront, conseguia ficar rico em
pouco espaço de tempo. Passou por Lisboa e Coimbra para comprar livros e se
entrevistar como o rei de Portugal, mas a tensão entre França e este pais
prenunciara a um conflito internacional.
Achou melhor voltar para o Brasil no navio
que adquirira.
Ao chegar ao Rio de Janeiro, as noticias eram
as mais desagradáveis possíveis.
Um bando de escravos juntamente com capitães do
mato havia invadido sua fazenda e matado seus fieis servidores e tomado todos
os bens que havia adquirido.
Partiu para Minas gerais com um bando de
mercenário.
Pegando os invasores de supresa houve um
verdadeiro derramamento de sangue na região.
Confundiam se sangue negro com brancos e
índios.
Conta se que os homens contratados por
Chambront transformou a bela fazenda num amontoado de escombro. È quando Chambront se viu cara a cara com um inimigo
que lhe disse claramente:
_ Vim te buscar!
Ao reconhecer aquela voz, retrucou esse não
era o combinado, não foi isso que tratamos.
Chambront foi encontrado morto na porteira de
sua propriedade. Corpo sem uma gota de sangue e de sua propriedade nada foi
aproveitado, o gado se consumia em doença, a casa inexplicavelmente se derretia
ao sabor do vento e do sol.
Ficou sendo aquele lugar um recanto
assombrado, onde se ouvia nas madrugadas frias de inverno e semana santa, gritos
de pessoas aterrorizadas e luzes que não se identificava com nada da época.
Meu avô finalizou essa estranha narração me
deixando um claro aviso de que nada se consegue com facilidade.
“O que vem fácil, vai fácil” e que na vida
nada se consegue com atalho ".
*1 nota do escritor
O Diabinho da Garrafa também é conhecido como Famaliá, Cramulhão, Capeta da Garrafa, entre outros nomes, este ser é fruto de um pacto que as pessoas afirmam que se pode fazer com o diabo, este pacto consiste na maioria das vezes de uma troca, a pessoa pede riqueza em troca dá sua alma ao diabo. Depois de feito o pacto a pessoa tem que conseguir um ovo que dele nascerá um diabinho de 15 cm à aproximadamente 20 cm, mas não se trata de um simples ovo de galinha, e sim um ovo especial, fecundado pelo próprio diabo. O Diabinho da Garrafa tem as seguintes características: Nasce de um ovo (em algumas Regiões do Brasil acredita-se que ele pode nascer de uma galinha fecundada pelo diabo), em outras Regiões acreditam que ele nasce de um ovo colocado não por galinha e sim por um galo, este ovo seria do tamanho de um ovo de codorna; para conseguir tal ovo, a pessoa deve procurá-lo durante o período da quaresma , e na primeira sexta feira após conseguir o ovo, a pessoa vai até uma encruzilhada , a meia noite ,com o ovo debaixo do braço esquerdo,após passar o horário retorna para casa e deita-se na cama. No fim de 40 dias aproximadamente, o ovo é chocado e nascerá o diabinho; de posse do diabinho, a pessoa coloca-o logo na garrafa e fecha bem fechado, com o passar dos anos o diabinho enriquece o seu dono, e no final da vida leva a pessoa para o inferno.
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