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terça-feira, 14 de julho de 2015

Dicionário Prático do Minerês

antionti - antes de ontem
badacama - debaixo da cama
belzonte - belo horizonte
cabedipassaismánazunha - acabei de passar esmalte nas unhas
cadim - bocadinho, um pouquinho
cadiquê - o mez qui causdiquê
casopô - caixa de isopor
causdiquê - o mez qui pucausque
cetábão - você está bom? O mesmo que "você está bem?"
cetáboa - você está boa? O mesmo que "você está bem?" para mulher
cocê - com você
concorcucê - eu concordo com você
coquincuntes - é uma coisa que acontece
credincruis - credo em cruz
dárripidivê - isso dá arrepio de ver
dendapia - dentro da pia
denduforno - dentro do forno
dentifrisso - dentifrício, o mesmo que pasta de dente, embora em desuso
deu - o mesmo que "di mim": "Larga deu, ô sô!"
dicoqui - de cócoras, sentar agachado
dimais da conta - além da medida; "bom... ", muito bom, excelente
djenium - de jeito nenhum
docê - de você
dodicabes - dor de cabeça
dodistongo - dor de estômago
doidimais - doido demais
donasjunta - dor nas articulações
donofigu - dor no fígado
éakekiliga - é aquele que liga
émez - é mesmo?
iscodidente - escova de dente
jizdifora - Cidade minera "pertín do RidiJanero". O "pessoar da capitár" nunca sabe se a turma de lá é "minerin" ou carioca. Daí ficam dizendo que é terra dos "carioca do brejo".
kabô - acabou
kapoko - daqui a pouco
kidicarne - kilo de carne
lidileite - litro de leite
magrilin - Indivíduo muito magro
makifalducação - mas que falta de educação
manem - de forma alguma, de jeito nenhum
mastumate - massa de tomate
midipipoca - milho de pipoca
modizê - modo de dizer, maneira de falar algo
moiá a palavra - tomar um gole, beber um gole de bebida como cachaça
nó - forma reduzida de nossinhora
nossinhora - nossa senhora
nu - versão muderna do "nó", coisa dos jeca de belzonte
nutogradanodis - não estou agradando disso, não estou gostando disso
onquié - onde que é?
onquoto - onde que estou
oprocevê - olha pra você ver!
óscargualzim - olha os carros iguaizinhos
óuchero - olha o cheiro!
pincumel - pinga com mel
pipocumquijim - pipoca com queijinho (qualquer hora divulgo a receita!)
pokim - pouquinho, bocadinho
pondiôns - ponto de ônibus
pradaliberdade - Praça da Liberdade
prestenção - presta atenção
procê - pra você
pron-nostaminu - para onde nos estamos indo?
pucausque - por causa de quê?
puquecetamipeguntanuissu - por que você está me perguntando isso?
quentá sóli - ficar sentado de cócoras no terreiro pegando o primeiro sol da manhã pra passar o frio
quainahora - quase na hora
sápassado - Sábado passado
sessetembro - sete de setembro
tampar - jogar, lançar, arremessar
tidiguerra - tiro de guerra
tissodaí - tira isso dai
tradaporta - atrás da porta
trem - coisa, qualquer coisa é um trem, mas nem todo trem é uma coisa.
trudia - outro dia
tupicão - também tropicão, quer dizer tropeço.
vidiperfumi - vidro de perfume



O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar. Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar, sensual e lindo (das mineiras) ficou de fora? Porque, Deus, que sotaque! Mineira devia nascer com tarja preta avisando: ouvi-la faz mal à saúde. Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: só isso? Assino achando que ela me faz um favor. Eu sou suspeitíssimo.
Confesso: esse sotaque me desarma. Certa vez quase propus casamento a uma menina que me ligou por engano, só pelo sotaque. Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas. Preferem, sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho (não dizem: pode parar, dizem: "pó parar"). Não dizem: onde eu estou?, dizem: "ôncôtô.
Os não-mineiros, gnorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem - lingüisticamente falando - apenas de uais, trens e sôs. Digo-lhes que não. Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade. Fala que ele é bom de serviço. Pouco importa que seja um juiz, um jogador de futebol ou um ator de filme pornô. Se der no couro - metaforicamente falando, claro - ele é bom de serviço. Faz sentido... Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem. Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra: "cê tá boa? " Para mim, isso é pleonasmo. Perguntar para uma mineira se ela tá boa é desnecessário.
Há outras. Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada. Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer: - Mexe com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc). O verbo "mexer", para os mineiros, tem os mais amplos significados. Quer dizer, por exemplo, trabalhar. Se lhe perguntarem com o que você mexe, não fique ofendido. Querem saber o seu ofício. Os mineiros também não gostam do verbo conseguir. Aqui ninguém consegue nada. Você não dá conta. Sôcê (se você) acha que não vai chegar a tempo, você liga e diz:- Aqui, não vou dar conta de chegar na hora, não, sô. Esse "aqui" é outro que só tem aqui. É antecedente obrigatório, sob pena de punição pública, de qualquer frase. É mais usada, no entanto, quando você quer falar e não estão lhe dando muita atenção: é uma forma de dizer, olá, me escutem, por favor. É a última instância antes de jogar um pão de queijo na cabeça do interlocutor. Mineiras não dizem apaixonado por". Dizem, sabe-se lá por que,"apaixonado com". Soa engraçado aos ouvidos forasteiros. Ouve-se a toda hora: "Ah, eu apaixonei com ele...". Ou: "sou doida com ele" (ele, no caso, pode ser você, um carro, um cachorro). Elas vivem apaixonadas com alguma coisa.
Que os mineiros não acabam as palavras, todo mundo sabe. É um tal de bonitim, fechadim, e por aí vai. Já me acostumei a ouvir: "E aí, vão?". Traduzo: "E aí, vamos?". Não caia na besteira de esperar um "vamos" completo de uma mineira. Não ouvirá nunca. Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, a mineira. Nada pessoal. Aqui certas regras não entram. São barradas pelas montanhas. Por exemplo: em Minas, se você quiser falar que precisa ir a um lugar, vai dizer: - Eu preciso de ir. Onde os mineiros arrumaram esse "de", aí no meio, é uma boa pergunta. Só não me perguntem. Mas que ele existe, existe. Asseguro que sim, com escritura lavrada em cartório. Deixa eu repetir, porque é importante. Aqui em Minas ninguém precisa ir a lugar nenhum. Entendam... Você não precisa ir, você "precisa de ir". Você não precisa viajar, você "precisa de viajar". Se você chamar sua filha para acompanhá-la ao supermercado, ela reclamará: Ah, mãe, eu preciso de ir? No supermercado, o mineiro não faz muitas compras, ele compra um tanto de coisa. O supermercado não estará lotado, ele terá um tanto de gente. Se a fila do caixa não anda, é porque está agarrando lá na frente. Entendeu? Agarrar é agarrar, ora!
Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com pena, suspirará: - Ai, gente, que dó. É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras. Não vem caçar confusão pro meu lado. Porque, devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro "caça confusão". Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para se fazer entendido, que ele vive caçando confusão". Para uma mineira falar do meu desempenho sexual, ou dizer que algo é muitíssimo bom vai dizer: "Ô, é sem noção". Entendeu, leitora? É sem noção! Você não tem, leitora, idéia do tanto de bom que é. Só não squeça, por favor, o "Ô" no começo, porque sem ele não dá para dar noção do tanto que algo é sem noção, entendeu? Capaz... Se você propõe algo ela diz: Capaz!!! Vocês já ouviram esse "capaz"? É lindo. Quer dizer o quê? Sei lá, quer dizer "cê acha que eu faço isso"!? Com algumas toneladas de ironia.. Se você ameaçar casar com a Gisele Bündchen, ela dirá: "ô dó docê". Entendeu? Não? Deixa para lá. É parecido com o "nem...". Já ouviu o "nem..."? Completo ele fica:- Ah, nem... O que significa? Significa, amigo leitor, que a mineira que o pronunciou não fará o que você propôs de jeito nenhum. Mas de jeito nenhum. Você diz: "Meu amor, cê anima de comer um tropeiro no Mineirão?". Resposta: "nem..." Ainda não entendeu? Uai, nem é nem. Leitor, você é meio burrinho ou é impressão? A propósito, um mineiro não pergunta: "você não vai?". A pergunta, mineiramente falando, seria: "cê não anima de ir"? Tão simples. O resto do Brasil complica tudo. É, ué, cês dão umas volta pra falar os trem... Falando em "ei...". As mineiras falam assim, usando, curiosamente, o "ei" no lugar do "oi".
Você liga, e elas atendem lindamente: "eiiii!!!", com muitos pontos de exclamação, a depender da saudade... Tem tantos outros... O plural, então, é um problema. Um lindo problema, mas um problema. Sou, não nego, suspeito. Minha inclinação é para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares das mineiras. Aliás, deslizes nada. Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja com a razão. Se você, em conversa, falar: Ah, fui lá comprar umas coisas...- Que' s coisa? - ela retrucará. O plural dá um pulo. Sai das coisas e vai para o que. Ouvi de uma menina culta um "pelas metade", no lugar de "pela metade". E se você acusar injustamente uma mineira, ela, chorosa, confidenciará: -Ele pôs a culpa "ni mim". A conjugação dos verbos tem lá seus istérios, em Minas... Ontem, uma senhora docemente me consolou: "preocupa não, bobo!". E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas conjugações mineiras, nem se espantam. Talvez se espantassem se ouvissem um: "não se preocupe", ou algo assim.
Este artigo foi feito especialmente para que você possa estar recortando, imprimindo e fazendo diversas cópias, para estar deixando discretamente sobre a mesa de alguém que não consiga estar falando sem estar espalhando essa praga terrível que parece estar se disseminando na comunicação moderna, o gerundismo.
Você pode também estar passando por fax, estar mandando pelo correio ou estar enviando pela Internet. O importante é estar garantindo que a pessoa em questão vá estar recebendo esta mensagem, de modo que ela possa estar lendo e, quem sabe, consiga até mesmo estar se dando conta da maneira como tudo o que ela costuma estar falando deve estar soando nos ouvidos de quem precisa estar ouvindo. Sinta-se livre para estar fazendo tantas cópias quantas você vá estar achando necessárias, de modo a estar atingindo o maior número de pessoas infectadas por esta epidemia de transmissão oral.

Mais do que estar repreendendo ou estar caçoando, o objetivo deste movimento é estar fazendo com que esteja caindo a ficha nas pessoas que costumam estar falando desse jeito sem estar percebendo. Nós temos que estar nos unindo para estar mostrando a nossos interlocutores que, sim!, pode estar existindo uma maneira de estar aprendendo a estar parando de estar falando desse jeito.

Até porque, caso contrário, todos nós vamos estar sendo obrigados a estar emigrando para algum lugar onde não vão estar nos obrigando a estar ouvindo frases assim o dia inteirinho.

Sinceramente: nossa paciência tem estado a ponto de estar estourando.


  fonte:http://www.letras.etc.br/joomla/index.php?option=com_content&view=article&catid=32:miscelanea&id=34:dicionario-pratico-de-mineires




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