Em minha infância sofria de um mal constrangedor: era gago e
pronunciava o “P” no lugar do “b”, e palavras como “Pampulha”, eu pronunciava “Bambulha”,
branco era pra mim “Blanco” e assim por diante.
Quando ficava nervoso, sentia falta de ar e cheguei até perder
os sentidos.
Pois muito bem, fui me tratar com um medico homeopata que
proibiu, terminantemente, que eu ingerisse carne de qualquer espécie e me
explicando que nosso estômago não é cemitério e que a carne provém da dor e do sofrimento,
por isso, certamente, esses sintomas eram o sentimento dos animais mortos que havia
ingerido que estava me causando tanto mal.
Acreditei piamente
no que o doutor me disse e me transformei num vegetariano convicto. Ficava
feliz em ver no meu prato uma bela salada de alface, tomate, agrião e aipo.
Transformei-me em atleta e minha alimentação básica era feita,
principalmente, de soja e verduras verde e vermelha, além de milho.
Deu resultado. Fiquei mais calmo, aumentou o meu autocontrole
em relação ao ambiente em que vivia.
Mas, apareceu em minha vida uma linda garota, Seu nome Geni,
idade 17 anos (a mesma que eu) filha de um sitiante da região.
Era engraçado quando saiamos juntos, eu, um baita crioulo, ela uma peça de porcelana,
branquinha e frágil. O amor começou a florescer em nossos corações juvenis e
como queria mostrar que tinha as melhores intenções para com ela, fui me
apresentar ao seu genitor e esse ato muito lhe alegrou.
Fiquei amigo do Sr Ferreira (o pai de minha namoradinha), me
tratava como a um filho, mas tinha a constrangedora mania de me agradar ao
extremo e toda noite, era obrigado a ouvir o desafinado som da sanfona
acompanhado das musica Chico Mineiro, Tristeza do jeca, Meu primeiro Amor e
outras musicas; quando bem interpretada é o fino do cancioneiro popular
nacional.
Além de ouvir suas belas (?)
interpretações, vinha o pior. Mandioca frita (até aí tudo bem) com torresminho
de porco (aí!)
Não sabia
dizer não e tinha que comer o que era servido.
Num belo sábado,
não resisti. O meu compenetrado sogro me disse que tinha uma surpresa para mim
e que deveria vir a rigor. Pois sim, vesti o meu terninho de linho
azul-marinho,acompanhado de uma camisa linda de cor rosa, sapato preto bem
engraxadinho e fui para a casa da minha namoradinha.
Chegando lá, foi anunciado o noivado de uma das cunhadas do
seu Ferreira. Depois da solenidade de aceite dos responsáveis pela mão da moça,
os olhos se voltaram para mim, como a me perguntar: e você, quando pedirá?
Dei uma de desentendido e fui tomar uma fresca do lado de
fora da casa
Minutos depois me chamaram para jantar, seria um jantar
especial: Bife de fígado com cebola, arroz branco, feijão com miúdo de porco
acompanhado por salada de palmito e cebola.
Olhei desesperado para minha namorada e ela não entendeu,
Menti dizendo que estava com problemas estomacais, mas isso foi um erro, pois
acharam que eu estava desfazendo da hospitalidade da família.
Esqueci um detalhe que foi coadjuvante no drama desta cena.
Como o sitio era no distrito do Triangulo, a poucos quilômetro do bairro
Paciência, não havia iluminação residencial e tudo era feito á luz da
lamparina.
Aproveitando a escassa iluminação, resolvi guardar o bife de
fígado no bolso do paletó, e com isso, na primeira esquina, jogar fora.
Coloquei os dos grandes pedaços no meu bolso, recusei quando
me ofereceram mais, tomei bastante Crush (refrigerante de laranja da
época) e Grapette e sai da mesa.
Minha intenção era me livrar daquele incômodo passageiro do
terno.
Acontece que o cachorro já estava sentindo o cheiro forte do
bife no meu bolso, e me rodeava, eu o expulsava e ele voltava.
Seu ferreira resolveu tocar a bendita valsa da meia noite e
pediu que eu e sua filha dançássemos.
Estava nervoso, o Leão me cheirando a Geni e seus pais
desconfiados de algo, mas não sabiam o quê.
De repente o canzarrão avançou para cima de mim e numa
dentada espetacular, arrancou parte do meu terno, me jogando e me arrastando pelo
chão da sala, até conseguir pegar o pedaço o pedaço da carne que eu havia
escondido.
Minha cara foi La embaixo de vergonha; de um lado várias
pessoas estupefata; do outro, um cão feliz a devorar um sanduíche de linho com fígado
de boi e mais adiante, um infeliz cidadão à cata de uma explicação plausível...
e ela saiu:
- O que está acontecendo rapaz? Por que guardava no seu
bolso a carne?
Ao que respondi: - Olha meu sogro, o fígado estava tão bom
que resolvi levar um pedaço para minha querida mãezinha, e fiquei sem jeito de
lhe pedir.
- Ora rapaz! Exclamou meu dileto sogro- Você é de casa!
Maria prepara uns bifes para o rapaz levar para a mãe dele, e venha cá vamos
comer um picadinho de fígado que sobrou...
- Socorro!!!!!!!!!!!!!!
- Socorro!!!!!!!!!!!!!!
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