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quarta-feira, 8 de julho de 2015

Um crime covarde





O facão caiu como um aríete na cabeça de Zé Maria, destroçando parte de tua face.
Caiu atordoado, mas consciente que seu fim estava próximo, respirava com dificuldade, a visão nublada e o cheiro de seu próprio sangue impregnavam tua narina.
Mas como isso aconteceu?
- Nove de maio de mil novecentos e sessenta e oito, uma terça feira de muito sol Zé Maria, um garoto de apenas dez anos de idade, ruivo, olhos castanho escuro sorriso franco emoldurado por uma bela boca de dentes brancos e brilhante, se preparava para ir à escola.
Filhos de pais cariocas vieram morar em Roça grande em virtude da grande oferta de emprego que proporcionava a companhia Siderúrgica Belgo-Mineira. A família se adaptou bem ao novo domicilio,um  bairro de quatro mil habitantes, muito arborizado e cuja principal religião era a católica, cuja fé toda a família professava.
Este era o perfil desse garoto ruivo e sardento, alegre e ingênuo, que toda a manhã saia de sua pequena casa na Rua Santana e caminhava tranqüilo rumo à escola e nesta terça feira não foi diferente.
Quis o destino, que neste dia seu caminho cruzasse com o do Amarildo, um homem rude e revoltado com a vida.
Natural de Ubá,Minas Gerais, veio parar nestas paragem em virtude de ter contraído a hanseníase, doença essa que acometia muitas pessoas de classe baixa, moradores de região rural e de baixa resistência orgânica.
A revolta era latente em seus olhos, janela da alma, achava que Deus não olhava por ele e via em cada ser humano, um inimigo a ser eliminado.
Sentado na divisa do hospital com Rua São Pedro, viu o pequeno Zé, atravessar a rua saltitante e velozmente que sentiu uma pontada de inveja.
Porque sorri aquele pirralho?
Esta caçoando de mim, esse maldito? Pensou revoltado.
Irracionalmente destilava ódio por aquele inocente menino cujo objetivo maior era chegar à escola e se ater com seus coleguinhas e seus mestres. Mas não!
Para Amarildo, o mundo conspirava contra ele e esse maldito, ria de sua condição de farrapo humano, odiava a vida, odiava o mundo, renegava a Deus por isso.
Amarildo se conteve quando o garotinho acabara de atravessar a rua e num rápido “psiu” chamou a atenção do moleque que curioso estacou ante ao pedido de atenção.
-Pois não, senhor o que queres de mim? Indagou
- Você gosta de mangaba?Olha está no tempo delas e sei onde tem varias arvores carregada com tais frutos, pronto pra ser devorado e ser transformado em suculentos doce.
-Não obrigado, moço, mas tenho que ir pra escola e não posso chegar atrasado, hoje tem sabatina e preciso ir adiante.
-Que pena! Você poderia me ajudar, pois essa ferida na perna me atrapalha e não posso caminhar ligeiro como você, por favor, me ajude pelo menos a colher uns pouco fruto para me deliciar.
-ta bom, mas vamos rápido, pois nada pode interpor no meu objetivo hoje.
Na verdade, Zé Maria sentia um misto de compaixão e curiosidade, pois não conhecia bem a fruta nem a sua arvore e a compaixão vinha ao olhar para aquele homem com o nariz braços e perna em estado lastimável, deformados.
Capengando, Amarildo levou Zé Maria para o interior da mata do hospital, chegando perto de um barracão, alegando que precisaria pegar uma ferramenta, conduziu o ingênuo menino para o seu calvário.
Estava de costa quando recebeu o primeiro golpe, caiu; O facão agiu como um aríete na cabeça de Zé Maria, destroçando parte de tua face. Atordoado, consciente que seu fim estava próximo, respirava com dificuldade, a visão nublada e o cheiro de seu próprio sangue impregnavam tua narina, aos poucos foi partindo desse mundo, sob o golpe final dado pelo insano.
Amarildo contemplava o teu ato, no seu rosto não se via um traço de arrependimento pelo que acabara de praticar. Aquele moleque merecia. Calmamente ele pegou o corpo inerte do guri e o levou para o meio da mata onde ele acreditava que ninguém o procuraria.
Suas veste estava suja de sangue, o facão tinha vestígios de cabelo da vitima. Trocou de roupa e jogou para bem longe a arma que usara para aniquilar a pequena vitima.
Enquanto isso, na escola de Roça grande a presença do pequeno Zé fora sentida e dona Hercilia, sua professora escrevera um bilhete para os pais do pequeno Zé indagando o motivo de sua ausência neste dia letivo.
O bilhete fora entregue aos pais do aluno, que imediatamente se preocuparam com esse fato e saíram à procura do garoto.
As horas iam passando e nenhuma noticia do menino aparecia. A policia fora acionada e grupos de moradores refizeram o caminho natural que deveria ser percorrido de sua casa ate no estabelecimento de ensino, mas nenhuma pista aparecia. Surgiu à idéias de rapto ou mesmo de algum romeiro de Santo Antônio ter levado o garoto pra passear e não voltara.
Os pais de Zé Maria conheciam o filho e não acreditava nesta hipótese.
O dia despontava no horizonte das Alterosas e nenhuma noticia. Foi quando da mata saiu um cachorro puxando algo que chamou a atenção do grupo : era uma mochila de pano que logo os pais e colega do menino reconheceram como pertence dele e através desse indicio , adentraram mata a dentro e encontram em meio a folhas e galhos de arvores o pequeno infeliz.
Comoção geral, a Roça grande chorou. Quem cometeria algo tão atroz?
A policia comandada pelo delegado Sebastião Firmino, entrou no caso e numa verdadeira sorte conseguiu desvendar o crime, pois o assassino não tendo mobilidade de movimentos ágeis, foi para o quarto onde dormia com a roupa suja de sangue, fato esse que chamou a atenção de funcionário que recolheram a roupa e quando indagado sobre algo anormal nos últimos dias, apresentaram a roupa do internado, que logo foi indagado sobre o sangue e logo confessou.
Amarildo foi  recolhido a prisão  de Sabará e por La  ficou ate ser condenado a doze anos de prisão.
Não cumpriu totalmente a pena pois foi encontrado morto em sua cela, justamente um ano depois  desse  ato bárbaro que cometera.

Restou  para a família do pequeno Zé, somente a lembrança do menino alegre e ingênuo, vitima da revolta  de um infeliz doente mental.

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