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terça-feira, 17 de janeiro de 2017

A casa da rua Santana 384


Doze de agosto de mil novecentos e  trinta e oito, uma terça feira ensolarada o outono em pleno auge dava a tonalidade marrom das folhas mortas ao ambiente.
Geralsina, uma mulher negra com um metro e setenta de altura, dentes alvos e perfeito corpo de mulher feito para a lida diária da roça, dava neste momento aos seus filhos o farto alimento que colhera de seu quintal: arroz, feijão mostarda, angu e torresmo de carne de porco.
No seu casebre sonhava em aumentar mais um cômodo, pois prenunciava a vinda de mais filhos e queria que esse filho que teria viesse na paz do senhor e com muito espaço para peraltear.
 A rua em que a família morava, era rústica, cheia de buraco e carecia de cuidados, afinal o brasileiro estava mais preocupado coma guerra eminente em que o presidente Vargas estava empenhado em participar se aliando com os estadunidenses e ingleses contra os branquelos alemães. Todo esforço da economia nacional estava direcionada para esse objetivo.
- Graça ao bom Deus, ninguém da família fora convocado para lutar, La no outro lado do mundo. Isto tranquilizava Geralsina. Seu marido José Hilário estava no seu segundo casamento e ela além de cuidar de seus filhos em numero de três , cuidava com desvelo dos quatros outros filhos, fruto do primeiro casamento de seu marido.
Para uma família cujo chefe teve a sorte de arrumar um emprego na RFFSA (Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima) era sinal de estabilidade financeira e assim foram se passando o tempo, seu marido atendera seu pedido aumentando a casa que ficou do agrado.
O bebe se aproximava do dia de seu nascimento e Geralsina já tomava o chá de ervas para quando chegasse a hora, não houvesse dificuldade para o seu nascer.
Acabara de preparar o jantar e sob a luz tenra da lamparina viu seu marido chegar do serviço com o semblante cansado e extenuado como sempre, mas nessa sexta feira tinha algo novo em seu olhar, seus dentes alvos brilhavam emoldurando um sorriso de satisfação.
Jose muito cansado, ainda arrumou forças para dar um abraço em sua esposa e confidenciar ao teu ouvido a boa nova: - “Cina !” Recebi uma promoção, agora não serei braçal. virei guarda chave e vou trabalhar arrumadinho dentro da estação de trem!
- Que bom! jubilou “Cina” acabou essas viagens doidas de conserto de linhas, você vai trabalhar onde?- Indagou sua companheira.
- Irei trabalhar aqui em General Carneiro. Perto daqui, vou trabalhar a noite e o salário vai ser maior. Teremos que mudar para La para quando o patrão precisar de mim, eu vou estar sempre pronto a atender.
-Mas e aqui? Depois que reformamos a casa vou deixa-la? Nunca! Bradou irritada senhora.
- È por pouco tempo é só até eu pegar experiência no cargo e ficar próximo de olhar você e nossos filhos. Iremos só nós dois e  nossos filhos essa  casa fica com o Rubinho, Carmelita, Enedina e Valdemar assim olho as duas famílias e descanso mais.
Inconformada Geralcina não queria aceitar e seu marido estava irredutível. Já comprara a casa em General carneiro e a mudança seria na quinta feira da semana seguinte.
 O amor que Geralsina tinha pela sua casa, era algo indescritível, seu jardim, sua plantação de hortaliça, suas galinhas, cabras e mimosa, sua vaquinha que lhe dava o sagrado leite toda as manhã, iriam ficar para trás. Seus enteados não saberiam como preservar toda a sua riqueza.
Ficara sem conversar com seu marido e dialogando com o padre José aceitou ainda relutante, mudar para o local de trabalho de seu esposo.
Na quarta feira que antecedeu o dia de sua mudança, Geralcina, chorou e implorou que seu marido a deixasse morar naquela casa, pois toda a sua historia estava impregnada nas paredes e que ela não se adaptaria ao novo endereço. Não houve jeito e na quinta feira no trem das oito horas da manhã ela partia com seus três filhos nas mãos e um na barriga para o seu novo lar.
A mudança chegaria no cargueiro do meio dia e haveria amigos de Jose Hilário para ajudar a montar seu novo lar.
O abatimento caiu como uma rocha de uma tonelada na alma de Geralsina. Vivia calada e sempre com lagrimas nos olhos com saudade da Roça grande e de seu antigo lar. Jurava que voltaria para a terra de santo Antonio e viveria ali seus últimos dias.
O tempo passava rápido, ela com pensamentos ocupado, havia se esquecido que estava grávida e na noite de vinte e oito de fevereiro de mil novecentos e trinta e nove a parteira Diolinda foi requisitada a socorrer a mulher de Jose Hilário, mas ela nada pode fazer, a parturiente teve grave hemorragia e faleceu juntamente com seu filho.
Foi uma enorme comoção em Roça grande e atendendo ao seu desejo seu corpo e do seu filho foi enterrados no cemitério ao lado da capela de santo Antônio.
A casa da Roça grande ficou com os filhos de Jose hilário do primeiro casamento, cada um foi tomando o caminho que a vida os destinara. Rubens entrou para a companhia Belgo mineira e juntamente com Valdemar, mudaram para Sabará e La constituíram família, Enedina e Carmelita casaram teve filhos e Jose hilário deu a cada uma, pedaço da gleba da rua Santana onde as duas viveram com seus filhos ate morrerem.
Em 16 de julho de 1966, partia desse mundo o Zé Hilário e sua casa agora vazia serviu de moradia para vários casais com seus filhos.
Muitos inquilinos relataram que constantemente viram uma mulher sentada na soleira da porta da cozinha, mas quando se aproximava ela desaparecia.

Todos moradores desta casa por um motivo ou outro tiveram conflitos de relacionamento familiar e hoje é uma casa abandonada onde o tempo está encarregado de destruí-la.

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