Foi numa tarde de verão que aquele
menino lindo veio ao mundo.
Fazia um calor insuportável naquele
oito de janeiro e dona Matilde jazia deitada num rústico catre mal cheiroso e
frágil, que serviu para dar a luz o seu rebento.
Era seu segundo filho, segundo filho
sem pai, pois ao saber que Matilde estava grávida, Tiãozinho, seu namorado,
picou a mula para São Paulo, desaparecendo de vez do distrito de Roça
grande. Mas não era o momento de se lamentar,
teria que se apegar a Nossa Senhora do “Bom Parto” para que ela a protegesse
das possíveis infecções “pós-parto”, pois energia para lutar pela sobrevivência
e cuidar dos filhos, ela tinha de sobra. - Sou guerreira! Refletiu.
O tempo foi célere na vida de
Matilde, recuperou se do parto, logo voltou a trabalhar na prefeitura de Sabará,
graça a boa amizade que tinha com o então prefeito “Marcelo Dias” a quem
segundo suas palavras, era o pai dos pobres da cidade e com ele conseguiu um
pedacinho de terra onde construiu sua casinha onde viveria por muitos anos.
Enquanto o tempo descia pela
“ampulheta da vida” Rosaria e Alexandre cresciam e se tornavam duas belas
crianças inteligentes e comunicativas, logo Rosaria demonstrou aptidão para ser
freira e incentivada pelas irmãs da ordem de “São Canisio” ingressou num
convento para estudar e dar prosseguimento a sua vida contemplativa.
Alexandre ao contrario, adorava uma
rua, tocava bem violão, aos cartozes anos já namorava e jogava futebol no time
do “seu Armando” onde era considerado “menino prodígio” pela sua impetuosidade
e ousadia neste esporte bretão.
A vida de Matilde se estabilizou,
estava satisfeita com os seus dois filhos, com sua casinha, encontrara até que
enfim um homem correto e trabalhador que a ajudava a viver na pequena
comunidade de Santo Antonio da Roça grande.
Alexandre cada dia mais se destacava
como um bom rapaz, estudioso, trabalhador e prestativo. Cedo começou a
trabalhar na vendinha do “seu” Geraldo Rocha e logo, logo ganhou a confiança do
seu patrão que podia sair para a capital das “Gerais” e deixar tudo por conta
do seu agregado.
O olhar, o sorriso e a fala mansa e
viril de Alexandre conquistava quem se aproximava dele, a vendinha do seu Rocha
prosperava, devido à competência de seu empregado que transpirava confiança e
conhecimento na arte de vender.
Numa terça feira fria de junho,
Matilde entra no quarto de seu dileto filho e o encontra chorando, assustada ela o interroga por que essa atitude. Seu filho não responde e soluça.
Desde esse dia o sempre alegre e
jovial Alexandre se trancou num terrível silencio toda a sua alegria se fora,
ninguém entendia o porquê dessa drástica mudança de comportamento, emagrecera,
seus olhos antes cheio de vida, se transformara em duas pedras opacas frias.
Tentava sorrir mas o que antes
parecia vida , agora era um horrível esgar de ranger de dentes, numa moldura
pálida.
O tempo foi passando e a cama foi o
lugar que o acolheu , médicos de Sabará e Belo Horizonte foram consultados em uma desesperada corrida
pela vida do “Xandinho” , não tinha mais namorada, perdera o emprego, o quarto
, ora iluminado pela vida , agora guardava tétricas premonições.
Rosaria sua irmã querida pedira
licença no convento e veio lhe fazer vigília pelo bem de sua saúde e foi nessa
vigília que o mistério desvendou se;
Dormindo ao lado da cama de seu
dileto irmão , eis que uma luz irrompe o quarto .
Não era uma luz comum , ela pulsava e
emitia um calor aconchegante que contrastava com o frio que instalara la fora.
Alexandre como por um milagre se
levantou e caminhou para a luz. Atônita Rosaria viu e ouviu o diálogo entre seu
irmão e a luz que depois de alguns minutos saiu do mesmo jeito que entrou,
desaparecendo na noite .
Parecia que a “luz” havia revigorado
seu irmão. Rosaria por fim indagou ao seu irmão o que estava acontecendo;
Alexandre num sorriso frágil confidenciou a sua dileta irmã:
- Estou partindo , querida irmã, meus
dias nesta terra estão se exaurindo e terei que deixa-los.
Quem você viu sair desse quarto nada
mais é que o Nosso senhor Jesus Cristo que veio me avisar que essa é a ultima
noite que passo neste planeta.
No inicio fiquei desesperado quando
da primeira visita, mas com o tempo fui familiarizando com o meu destino e a
presença de Jesus todas as noite aqui comigo me deu a certeza que parto para um
mundo bem melhor que este e de onde poderei proteger as pessoas que amo.
- Não conte a ninguém essa nossa
conversa espere passar quarenta anos e aí sim poderá contar a seus amigos e as
pessoas o porquê da minha partida.
Dita essa palavras ele se voltou para
o lado da cama e adormeceu... adormeceu para nunca mais acordar.
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