Nem parecia uma menina, quem a via
achava que era um anjinho que já com seus 10 anos de idade já encantava o
distrito de Roça Grande.
Todos
apostavam que ela seria a mulher mais bonita de Sabará.
Olhos
castanhos escuros, um belo desenho de lábios, dentes alvos e brilhantes, era a
beleza em pessoa.
No
colégio ganhava todo concurso de beleza. Era rainha da primavera, rainha da
jabuticaba, rainha da rua e ainda de muitos corações. Aninha era dez!
A tua beleza chamou atenção de muitos
moradores de Sabará. Começou a frequentar o Clube cravo vermelho, mesmo sendo
de etnia negra era bem recebida no meio social de Sabará e isto era um tabu por
que antes dizia que no Cravo Vermelho negro não entrava.
Neste Convívio com a sociedade de Sabará,
Aninha ficou conhecendo Cláudio um rapaz loiro de olhos azuis, atleta, jogador
do Esporte Clube Siderúrgica Sabará que logo se apaixonou pela morena de Roça
Grande.
Cláudio chamou atenção da comunidade de Roça
Grande com seu estilo e delicadeza com a Aninha. Mas dentro dele ardia um ciúme
exagerado, não suportava ver a sua amada conversando com outro homem, seja colega
de escola ou então da Igreja Católica de Roça Grande ficava furioso e para não
demonstrar esse sentimento ia para casa de seu sogro seu Tião esperar sua amada.
Demonstrava neste momento o quanto era
ciumento, xingava, brigava, mas depois pedia perdão e assim foram levando
durante 4 anos esse namoro.
O time do siderúrgica de Sabará havia
sagrado campeão Mineiro de futebol.
Cláudio, zagueiro time Campeão em meio à
euforia, convidou seus colegas de equipe para o seu noivado na semana seguinte.
Foi com surpresa que a família de Aninha recebeu a boa notícia. Até que enfim o
seu Tião casaria a sua filha primogênita.
O casamento de Aninha e Cláudio foi o
acontecimento do ano em Roça Grande. Toda a comunidade foi convidada para a
cerimônia. A dona Alcina, costureira, ficou semanas e semanas atarefada na Confecção
de roupas dos convidados, os homens do Bairro mandaram fazer seus ternos de tecidos
de casimira e tergal na alfaiataria do Carlos Alemão.
Escolheram o dia 10 de maio para o casamento
pois o mês é consagrado as Noivas.
Chegou o grande dia!
A Igreja de Santo António da Roça
Grande já era pequenina ficou mais pequena ainda pois todos os seus quatro mil
habitantes estavam presentes a grande cerimônia. A família de Cláudio veio em
carro de luxo no Aero de 1960 todo branco combinando com a sua
vestimenta que destacava do povo humilde e simples do bairro. O padre que faria
o casamento seria o bom e sistemático Padre Luiz Capelão da Polícia Militar do
Estado de Minas Gerais. Tudo ocorreu normalmente, a festa foi no sítio do
folclórico senhor Josias.
Para comemorar o fato Tião mandou matar
um boi e quatro porcos Além de muitas bebidas artesanais. Os nubentes Ana e Claudio
foram morar no alto da Rua São João aqui mesmo em Roça Grande, lugar aprazível
com a casinha branca do jeito que Aninha sempre sonhou.
Tudo corria a mil maravilhas, casal
recém-casado, um céu lindo, decorava a abóbada celeste azul, pássaros cantavam
na floresta ao lado. Tudo era paz, tudo
era felicidade para Aninha. Mas de repente Cláudio mudou a expressão do seu
olhar e ordenou a Aninha que não queria vê-la na casa de amigos e muito menos
na casa de sua prima Sandra. Ao questiona-lo o porquê, Cláudio se irritou e na
lua de mel ao invés de beijos e abraços Aninha recebeu um tapa no rosto.
Possesso, Cláudio intimou:
_ aqui quem manda sou eu! Não quero!
Acabou! De hoje em diante quem dá as cartas aqui sou eu e você está proibida de
descer lá embaixo e ficar com esse povo sujo de Roça Grande. Me obedeça à
mulher.
Você é minha mulher, cuida de mim e eu te
protejo.
Aninha ainda questionou:
_Amor por que isso? Você é tão
carinhoso comigo!
_ A farsa acabou! Casei com você porquê
tinha interesse.
Você é meu troféu, a mulher mais bonita
de Sabará e como Troféu ficará para sempre no meu coração trancado.
Não acredito... Balbuciou Aninha. Se não fosse
esse tapa que me deste com certeza levaria na brincadeira o que me disseste.
O tempo passava e para Aninha a sua
vida virou um inferno. Não tinha paz nem para dormir, sua vida era vigiada 24
horas.
Cláudio chegava do jogo e sempre encontrava a
casa arrumada, comida feita e o carinho da sua mulher amada.
Aninha não tinha direito nem de ir à missa,
visitar seus familiares nem pensar.
A cada dia que passava ela tinha que manter
aparência que era feliz e que Cláudio era o marido que sempre sonhara.
Por sua vez, Cláudio mantinha aparência de um
grande marido, um bom chefe de família e o cara amigável, mas no fundo somente
Aninha sabia o quanto cruel era esse homem.
Certo dia, andando pela Rua São João, Aninha encontrou
com um velho conhecido, colega de escola e muito amigo da família. Por um
momento ela se sentiu confortável com a presença do amigo e depois de tanto
tempo ela conseguiu sorrir.
Cláudio regressava para casa vindo do Siderúrgica,
quando vislumbra sua esposa conversando com o seu colega e sem dizer palavras
nenhuma agrediu sua esposa e o amigo. Sangrando
muito o rapaz fugiu, enquanto Ana estática, fitava seu marido. A vizinhança
espantada a tudo via e ouvia.
Cláudio
gritava feito louco e agredia a pobre mulher.
Chegando em casa obrigou a tirar toda a roupa
do seu corpo na ânsia te encontrar a marca de um pecado que só existia na sua
mente doentia.
Aninha Sofria calada. Estava isolada do mundo
não tinha amigo, não podia se abrir com sua mãe. Não podia receber visita, seu
mundo era sua casa e seu marido cruel;
Aquele sorriso angelical já não existia
mais, a sua fisionomia era de cansaço e sofrimento.
Já
se passavam três meses que havia se casado quando algo inusitado aconteceu:
Ao colocar a roupa do seu marido vai
para lavar encontrou uma singela cartinha de amor.
Alguém amava o teu marido pelo jeito ele
correspondia.
Estava explicado o motivo porque ele
não a deixava sair de casa. Aquele ciúme todo agora tinha uma razão de ser:
Cláudio tinha um amante.
Pressionado pela mulher ele não se fez de
rogado e confirmou sim dizendo que se ela quisesse poderia ir embora, mas
deixou bem claro que outro homem não iria entrar na vida dela.
Dito isso, Aninha Passou por mais uma sessão
de espancamento e foi parar na Santa Casa de Misericórdia Sabará.
Aninha passou uma semana internada em virtude
da surra que tomou.
Como era de família bem conhecida em
Sabará o Episódio foi encoberto ficando restrito somente a família dos envolvidos.
Cláudio se acha o rei podendo fazer e acontecer. O pai amigo, do delegado, a mãe
madrinha da promotora e tudo ficou por debaixo dos panos.
Aninha cansada de sofrer resolveu dar o
troco de um jeito muito peculiar.
Passou
a não questionar mais teu marido, suas roupas eram bem lavadas bem tratada e
cheirosa a comida Era do jeito que ele gostava e ela como esposa passou a ser
mais uma Amélia. Aninha agora para Cláudio era mulher de verdade.
Anos se passaram. Cláudio abandonou
futebol e agora era simplesmente um advogado trabalhando com pai que era
reconhecidamente o melhor causídico da região.
A sua sofrida mulher havia lhe dado três
rebentos: duas meninas e um menino.
Como obediente, Aninha se entregou a
tua família, como um cachorrinho manso, ela tinha casa comida e lambia a mão de
seu dono, era tudo que ele queria.
Os sonhos de um casamento feliz, ter
uma família feliz e temente a Deus, ficara para trás. Aninha seria uma mulher
sem perspectiva sem sonhos, viveria para servir o seu marido, o seu amo...aquele
maldito!
A tua família era mais importante que
tudo.
Aquele olhar de felicidade que
demonstrava ter na adolescência, toda a felicidade que
aspirava foi-se naquele dez de maio, quando se iludiu por um cruel
príncipe.
Mas agora do alto de seus trinta anos.
O que ela queria mais era viver...ironia, tanto sonhou com uma vida de
felicidade e agora era subjugada pelo simples desejo de viver.
A vida
transcorria normalmente, Claudio prosperava, era considerado o melhor advogado
da região, mas uma dor de estomago o incomodava.
Havia
dois anos que aquela dorzinha o incomodava e não tivera tempo de fazer um check-up
detalhado de sua saúde.
Com
relação a família, tudo ia bem, Aninha cuidava bem dele e de seus filhos. Ela
por fim aceitara as regras do jogo e vivia somente para a sua família, nem no
velório do seu pai, ela se dispôs a ir, Bruno, seu filho caçula, jura que a viu
chorando pelos cantos da sala.
Aninha,
ou seja, Ana villafortes, mudara se era para o bem ou para o mal, só o tempo
poderia responder.
Claudio
villafortes ampliava seu empreendimento, tinha como cliente nada mais nada
menos do que o governador de Minas gerais e uma famosa senadora, mas a sua
saúde estava combalida.
Aconselhado
por amigos, foi se consultar com um famoso gastroenterologista que alarmado lhe
deu a péssima notícia:
- O
senhor tem um câncer no estômago!
Foi um
choque que derrubou o gigante Claudio, o imbatível advogado, o opressor chefe
de família.
O
mundo desabara para ele.
Seus
colegas de profissão sabendo disso comemoraram como uma conquista de uma copa
do mundo de futebol.
Perderá
a vontade de trabalhar, tirara férias e visivelmente abatido recusava sair de
casa
Tudo
mudou. Até a sua indiferente esposa começara a lhe perturbar. Ele que deste que
casou nunca a virar sorrir ou cantarolar, agora ele descobrira que ela vivia.
A
mulher que tanto maltratara agora tinha no olhar um brilho opaco de amargura e
vingança.
Sua
refeição era servida por uma enfermeira e nunca por Ana villafortes. Ela não se
dignificava nem ao menos perguntar se ele estava se sentindo bem, estava jogado
num quarto sombrio esquecido pelo mundo.
Mandou
chamar sua esposa.
Ana
villafortes acedeu ao convite e entrou naquele quarto que outrora sonhara ser a
capital dos seus prazeres e que foi na verdade seu ades matrimonial.
Ana
aproximou do leito do enfermo e o que viu a deixou combalida. O outrora homem
forte de Sabará, jazia numa bela cama, ostentando s seu corpo esquelético cheio
de feridas e cheirando mal. Triste contradição da vida humana.
Aninha-balbuciou
o enfermo.
Perdoe
me por tudo
-Não
se preocupe! Isso é passado
-Estou
morrendo!
-Eu
sei!
Como
sabe? Médicos lhe contaram?
- Não
eu tive a paciência de ministrar durante anos uma gota de veneno na refeição de
quem arrasou meus sonhos, minha vida. Jurei vingança e nestes dez anos você consumiu
uma gota de arsênio nas refeições. Uma gota derrubou o gigante da prepotência,
egocentrismo da maldade e da opressão. Você está indo, mas não ficaria feliz se
não te contasse.
Durante
quatro mil trezentos e oitenta dias tive a paciência de colocar uma gota de
arsênio no teu chá, no teu suco, no teu café. Imagino que buraco está seu
estomago. Este será nosso segredo. A mulher que você tanto oprimiu, finalmente
te destruiu.
Claudio
de olhos esbugalhados ouvia e não acreditava. Tentou falar e uma golfada de
sangue lhe sufocou. Agitou em espasmou e ficou quieto para sempre.