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segunda-feira, 12 de outubro de 2020


                                     COMO SURGIU O DIA DO PROFESSOR ?

 

Dia 15 de outubro comemora-se o Dia do Professor, em todo o Brasil. Mas você sabe qual o motivo da comemoração nesta data específica? A resposta vem do Brasil Imperial.
No dia 15 de outubro de 1827 (dia consagrado à educadora Santa Teresa de Ávila), Pedro I, Imperador do Brasil baixou um Decreto Imperial que criou o Ensino Elementar no Brasil. Pelo decreto, “todas as cidades, vilas e lugarejos tivessem suas escolas de primeiras letras”. Esse decreto falava basicamente da descentralização do ensino, do salário dos professores, das matérias básicas que todos os alunos deveriam aprender e até sobre como os professores deveriam ser contratados.

 
A primeira contribuição da Lei de 15 de outubro de 1827 foi a de determinar, no seu artigo 1º, que as Escolas de Primeiras Letras (hoje, ensino fundamental) deveriam ensinar, para os meninos, a leitura, a escrita, as quatro operações de cálculo e as noções mais gerais de geometria prática. Às meninas, sem qualquer embasamento pedagógico, estavam excluídas as noções de geometria. Aprenderiam, sim, as prendas (costurar, bordar, cozinhar etc) para a economia doméstica.

Cento e vinte anos depois do decreto, em 1947, um professor paulista teve a ideia de transformar a data em feriado e iniciou a tradição de homenagear os professores no dia 15 de outubro, em referência ao decreto de D. Pedro I.
A ideia surgiu porque o período letivo do segundo semestre escolar era muito longo, ia de 1 de junho a 15 de dezembro, com apenas dez dias de férias em todo o período. Cansados, literalmente, um pequeno grupo de quatro educadores, liderados por Samuel Becker, teve a ideia de organizar um dia de folga, para amenizar a estafa. O dia também serviria como uma data para se analisar os rumos do restante do ano letivo.
Foi então que o professor Becker sugeriu que esse encontro acontecesse no dia 15 de outubro. A sugestão foi aceita e a comemoração teve presença maciça de professores e alunos, que levavam doces de casa, para uma pequena confraternização.
O discurso do professor Becker, além de ratificar a idéia de se manter na data um encontro anual, ficou famoso pela frase “Professor é profissão. Educador é missão”. A celebração, que se mostrou um sucesso, espalhou-se pela cidade e pelo país nos anos seguintes, até ser oficializada nacionalmente como feriado escolar pelo Decreto Federal 52.682, de 14 de outubro de 1963.
O Decreto definia a essência e razão do feriado: “Para comemorar condignamente o Dia do Professor, os estabelecimentos de ensino farão promover solenidades, em que se enalteça a função do mestre na sociedade moderna, fazendo participar os alunos e as famílias”.

Desafios enfrentados pelos professores no Brasil

Além de determinar que as escolas primárias chegassem aos lugares mais populosos – ainda que distantes – do país, o decreto de D. Pedro I falava também sobre a descentralização do ensino, das matérias básicas que todos os alunos deveriam aprender, sobre como os professores deveriam ser contratados e também sobre seus salários.

Quase duzentos anos depois da determinação imperial, os professores do século XXI recebem bem aquém dos parâmetros estabelecidos pela antiga lei do século XIX (tampouco os professores da época recebiam de acordo com os parâmetros estabelecidos). A falta de reconhecimento da importância do profissional da educação leva a uma constante insatisfação da categoria, que, mal remunerada, enfrenta o desafio de permanecer no magistério diante de condições adversas.

Ao longo da história da educação brasileira, o professor foi confundido com um “sacerdote da educação”, profissional que deveria servir a sociedade de maneira abnegada, ou seja, sem se preocupar com os baixos salários. A visão romântica da profissão apenas serviu para perpetuar uma cultura de que o professor escolhe o ofício por amor, e não por nele enxergar oportunidades de crescimento profissional e pessoal.

A data é importante para comemorarmos o que já foi conquistado, mas, principalmente, para conscientizar a população e autoridades sobre o valor de professoras e professores, mulheres e homens que difundem o conhecimento e permitem que meninas e meninos de todo o país possam trilhar caminhos que levem a um futuro promissor.

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1Decreto nº 52.682, de 14 de outubro de 1963. Para acessar, clique aqui.




 

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Sobre o fascismo e o fascismo no Brasil de hoje


Sobre o fascismo e o fascismo no Brasil de hoje

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“Por seu alto teor explosivo, a palavra “fascista” tem sido freqüentemente usada como arma na luta política. É compreensível que isso ocorra. Para efeito de agitação, é normal que a esquerda se sirva dela como epíteto injurioso contra a direita. No entanto, esse uso exclusivamente agitacional pode impedir a esquerda, em determinadas circunstâncias, de utilizar o conceito com o necessário rigor científico e de extrair do seu emprego, então, todas as vantagens política de uma análise realista e diferenciada dos movimentos das forças que lhe são adversas.”[1]
Como observamos no trecho em epígrafe, o saudoso Leandro Konder insistiu em seu livro Introdução ao fascismo que essa mania da esquerda chamar de “fascista” qualquer direita autoritária poderia ter legitimidade como recurso de agitação, mas era enganoso como instrumento de análise e pode produzir efeitos nefastos na luta política, pois desarma a esquerda no entendimento dos movimentos de seus adversários. É indiscutível que essa forma frouxa de considerar “fascista” qualquer direita produziu historicamente resultados desastrosos na vida dos trabalhadores e a desarticulação violenta da esquerda.
Afinal, o que é o fascismo?
Num dos títulos mais atualizados e disponíveis para o público brasileiro, o historiador americano Roberto O. Paxton defende que só seria possível conceituar corretamente o fascismo depois de uma longa exposição de seu desenvolvimento histórico no período do entre guerras.[2] Embora nos pareça bastante adequado o método defendido por Paxton, para o propósito da argumentação que segue nos arriscamos na apresentação do que seriam as características básicas desse fenômeno que marcou a história do século XX.
Além de movimento, o fascismo tornou-se poder na Itália e na Alemanha no período entreguerras, sendo assim uma forma específica de regime político do Estado capitalista. Não qualquer regime, não qualquer ditadura, mas uma ditadura contrarrevolucionária com características bastante específicas, diferente, por exemplo, tanto de ditaduras oligárquicas, como a de Porfírio Diaz no México anterior à Revolução, como das ditaduras militares encontradas na América do Sul nos anos 1960-1980. Deste modo, chamar qualquer regime político ditatorial de “fascista” pode ser legítimo no plano da retórica política de seus opositores, mas do ponto de vista analítico denota desconhecimento.
Surgido das contradições oriundas da eclosão da Primeira Grande Guerra e do desafio da Revolução Russa de 1917, o fascismo constitui-se como um movimento contrarrevolucionário, formado por uma base social na pequena burguesia, especialmente pela massa de ex-combatentes, que em países da Europa central foram recrutados pelas classes proprietárias que os financiaram para formarem grupos de bate-paus contra o movimento operário e a esquerda em geral.[3] Enquanto movimento, o fascismo representou historicamente um oponente violento das organizações da esquerda, da classe operária e dos subalternos sociais, bancado pelas classes dominantes para eliminar, inclusive fisicamente, qualquer coisa que pudesse ser associada à ameaça de “contagio vermelho”. E por isso o sucesso dos movimentos fascistas associava-se também à capacidade desses movimentos convencerem amplos setores sociais de que o conjunto das esquerdas poderia ser enquadrado como “comunista” e, por conseguinte, “antipatriótica”. Assim, dos revolucionários anarquistas até os social-democratas mais reformistas, passando naturalmente pelos próprios comunistas, as esquerdas em geral foram alvo desses movimentos contrarrevolucionários.
Surgido originalmente na Itália, movimentos fascistas se espalharam pela Europa entre os anos 1920 e 1930. Entre os primeiros a compreender o caráter internacional do fenômeno do fascismo, os marxistas tiveram também entre suas fileiras posições equivocadas que estão na base desse uso generalizado do termo “fascista” pelas esquerdas. É verdade que avaliações mais finas foram produzidas, por exemplo, pelos comunistas italianos ao longo dos primeiros anos do regime fascista, de que são exemplo os escritos de Antonio Gramsci anteriores à sua prisão e também nos seus escritos carcerários, particularmente no seu caderno 13 sobre Maquiavel e no 22, o afamado “Americanismo e fordismo”.[4]
Entretanto, a estalinização da Internacional Comunista e a adoção da teoria do “social-fascismo” no VI Congresso da Internacional Comunista em 1928 levaria a um empobrecimento do debate, assim como preparou desastres políticos, embora as melhores linhas escritas por marxistas que se opunham a esses esquemas tenham sido escritas neste contexto.[5] Na lavra do comunismo dirigido por Moscou, o termo “fascismo” passaria a ser utilizado na retórica política para caracterizar a mais ampla variedade de posições no espectro político, embasada na paupérrima definição segundo a qual: “O fascismo é uma ditadura terrorista aberta dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas, mais imperialistas do capital financeiro.” Como esclareceu argutamente Ernest Mandel, tal definição genérica tinha uma precisa função: a de legitimar a teoria stalinista segundo a qual a socialdemocracia seria um “irmão gêmeo” do fascismo, igualmente serviçal do capital monopolista.[6]
Seria preciso esperar que as resultantes da aplicação dessa linha irresponsável levassem ao desastre alemão com a ascensão de Hitler em fins de janeiro de 1933 – pois como se sabe, os comunistas alemães se recusaram a qualquer tipo de ação comum de frente única com a socialdemocracia –, para que um debate minimamente sério sobre o fenômeno do fascismo fosse reaberto no âmbito da Internacional, a partir das contribuições do italiano Palmiro Togliatti e do búlgaro Georgi Dimitrov. Precisavam apresentar algo minimamente consistente para contraporem-se às sofisticadas e argutas análises que o principal opositor do stalinismo, Leon Trotsky, vinha fazendo desde que a Internacional havia elaborado a teoria (estúpida) do “social-fascismo”.
Aliás, Trotsky insistiu sempre na especificidade do fenômeno do fascismo como forma de regime do Estado burguês, que não poderia ser confundido com outras formas de regime ditatoriais, como o bonapartismo e ditaduras militares como as do general Primo de Rivera na Espanha. Na compilação de seus escritos sobre a Alemanha no início dos anos 1930, Revolução e Contrarrevolução na Alemanha, esse é um ponto forte e original a ser destacado.[7]
Contudo, mesmo com as alterações na linha política exigindo inicialmente uma conceituação mais rigorosa do fascismo, o esquematismo continuou a imperar na linha oficial do Comintern. Com a adoção da tática das Frentes Populares, aprovada no VIII Congresso da Internacional em 1935, o fascismo foi paulatinamente passando a ser reduzido a uma ditadura do capital monopolistacontra o resto da sociedade. Segundo essa perspectiva, para barrar o fascismo agora seria necessária uma aliança de todos os setores sociais “democráticos”, o que incluía, dessa vez, não só a socialdemocracia de base operária, mas também várias frações e segmentos da burguesia. Tal tendência interpretativa do fascismo consolidou-se após a Segunda Guerra Mundial, como esclareceu Ernesto Laclau no fim dos anos 1970:
“as frentes amplas preconizadas pelos Partidos Comunistas qualificaram de “fascista” as políticas potencialmente autoritárias do capital monopolista. Hoje em dia o termo “fascista” passou a ser sinônimo de “regime capitalista autoritário” no discurso político marxista; basta lembrar a aplicação do qualitativo “fascista” a regimes como o da Junta chilena, o da ditadura dos coronéis na Grécia, ou o regime do Xá no Irá que, obviamente, não tem a mais remota semelhança com os regimes de Hitler ou Mussolini.”[8]
Nos anos 1960 a geração estudantil revolucionária havia adotado o uso generalizado do termo “fascista” para se referir a toda sorte de regimes políticos existentes. Isso foi meio um espírito daquela época.[9] Por exemplo, a organização revolucionária guerrilheira Rote Armenn Fraktion (RAF) – mais conhecida pelo midiático termo Baader-Mainhof Gruppe – considerava “fascista” a Alemanha Federal de Adenauer. Como indicativo do que assinalou Laclau, numa consulta às fontes sobre os grupos de luta armada latino-americanos e dos Partidos Comunistas é comum encontrar o termo “fascismo” ou “fascista” para caracterizar as ditaduras militares dos anos 1960 e 1970, ainda que isso possa ser visto como apenas um recurso discursivo de denúncia do caráter terrorista daqueles regimes que mancharam de sangue o Cone Sul. Por sua vez, organizações de extrema-direita como a chilena Patria y Liberdad são usualmente consideradas fascistas, o que nos parece correto, embora considerar o regime militar de Pinochet (que o Patria y Liberdad apoiava) como “fascista” seja de fato um equívoco. Tal como as outras ditaduras militares existentes naquela época no Brasil e na Argentina, no Chile a ditadura foi sobretudo anti-mobilizadora, faltando-lhes, portanto, uma característica marcante presente nos regimes liderados por Mussolini e Hitler no entreguerras.
Fora do marxismo, num diálogo tenso e crítico com este, Foucault adotou um tom deveras frouxo em seu prefácio ao livro Anti-Édipo de Deleuze e Guattari (1972), ao querer encontrar o fenômeno do fascismo nas atitudes cotidianas dos “sujeitos” sociais, Foucault mirou particularmente a prática da militância revolucionária.[10] Num diálogo instigante com as ideias de Marx e do antológico trabalho de Wilhelm Reich Psicologia de massas do fascismo, Deleuze e Guattari lançam mão da sugestiva pergunta reicheana (“Porque as massas alemãs desejaram o fascismo?”), para igualmente estender a existência do fenômeno aos mais prosaicos atos cotidianos. No final da década anterior, e de um ponto de vista mais à direita, Jürgen Habermas acusou o líder revolucionário estudantil Rudi Dutschke de ser um “fascista de esquerda”, e imagino que Dutschke deva ter-lhe retrucado na mesma moeda, chamando Habermas de “fascista” tout court.
Em suma, não é de hoje esse uso generalizado do termo “fascista” para se referir aos opositores políticos da esquerda, e nesse caso deveria ser um truísmo afirmar que se chamamos tudo de “fascista” esse termo perde sua força explicativa. Se é para de fato levarmos o fascismo a sério, esse caminho generalizante não ajuda.
Desde as Jornadas de Junho de 2013, no âmbito da esquerda mais uma vez o uso do termo fascista é abusivamente adotado para se referir, por exemplo, aos governos estaduais, à instituição Polícia Militar e mesmo ao governo federal. E como não lembrar do infeliz comentário da filósofa Marilena Chaui, diante de uma platéia da Academia da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro em fins de agosto de 2013 quando caracterizou os “Black blocs” como “inspirados no fascismo”?[11] Bolsonaro indiscutivelmente é um fascista, mas quando também chamamos Aécio Neves, Marina Silva, Michel Temer e até Lula da Silva de “fascistas”, para que isso nos serve? Afinal, estamos falando do quê?
Não se trata de “defender as biografias” dessas figuras da República, mas de nos situar que o termo “fascista” não os define politicamente. Não parece também serem propriamente “fascistas” alguns dos novos movimentos das direitas brasileiras, como o “Vem Pra Rua” e o “Movimento Brasil Livre”. O que quero dizer? Quero dizer que, seguindo Konder, é preciso pensar que o fascismo é uma direita bastante específica. Na história do século XX, exceto nos casos clássicos da Itália de Mussolini e da Alemanha de Hitler onde constituíram regimes políticos, os fascistas participaram do poder ao lado de outras direitas, como na Espanha de Franco e em Portugal de Salazar, assim como é possível perceber a presença de grupos propriamente fascistas participando do poder em outras experiências, ou apenas exercendo funções subalternas, como nas ditaduras militares latino-americanas dos anos 1960/1980, como acabamos de nos referir.
Hoje há sim um crescimento de grupos fascistas, do discurso propriamente fascista na esfera pública e mesmo a emergência de personalidades políticas que podemos definir como fascistas. Não é um fenômeno brasileiro, pois se observa esse crescimento na Europa e em outras latitudes. Historicamente, no Brasil, o fascismo serviu às classes dominantes como tropa de choque para tentar liquidar física e politicamente com a esquerda, como o foi o caso da Ação Integralista Brasileira (AIB) nos anos 1930. Grupos como o Movimento Anti-Comunista (MAC), que operava já antes do golpe de 1964, assim como Comando de Caça aos Comunistas (CCC) no fim dos 1960 podem ser caracterizados como organizações de viés fascista, embora não tenham, ao contrário do Integralismo, produzido uma ideologia fascista com o propósito de criar uma mobilização social.
O crescimento eleitoral do Front National de Marine Le Pen na França é um sinal evidente do crescimento desta tendência. O fascismo está cada vez mais presente na Alemanha, e nas eleições recentes na Áustria alcançou quase 50% dos votos.[12] Em regiões que no passado viveram a experiência traumática da ocupação nazista, como é o caso da Grécia, o aumento da votação em partidos fascistas como Aurora Dourada parece momentaneamente bloqueado na preferência do eleitorado. E como não lembrar da aparição de grupos identificados explicitamente com o nazismo na conturbada Ucrânia? E como definir a ação do terrorista norueguês Anders Breivik, que executou 77 pessoas em julho de 2011 num ataque sanguinário ao acampamento da juventude do Partido Trabalhista, um atentado cometido após Breivik ter divulgado um manifesto onde definia como ameaças ao Ocidente o “marxismo cultural”, o feminismo e o Islã?[13] Como não lembrar também do discurso de algumas das estrelas da nova direita brasileira, como Olavo de Carvalho e sua plêiade de seguidores? E como classificar a natureza política de um fenômeno como o ISIS? O termo fascista parece bastante adequado nesses casos, exceto talvez para aqueles sensíveis à culpa inerente a algumas perspectivas teóricas da moda, para as quais nenhuma categoria “européia” teria capacidade heurística no mundo não-Ocidental.[14] Longe desse beco-sem-saída-epistemológico ficamos melhor para combater o fascismo.
Indo ao ponto. Qual deve ser a principal atenção que devemos dar a esse fenômeno? O que tem sido bastante evidente é que a emergência recente do fascismo (ou neofascismo, como se queira) produz um efeito imediato que é o deslocar o eixo do debate político para a direita, eventualmente forçando a que as posições políticas da direita tradicional comprometida com a agenda neoliberal endureça suas posições de modo a disputar aqueles setores fascistizantes do eleitorado. Não tem sido incomum a incorporação da agenda anti-imigrantes, tipicamente fascista, no programa de partidos da direita liberal e ou conservadora europeia, e mesmo nas alas mais moderadas da socialdemocracia (já entregue, há muito, ao neoliberalismo na variante social-liberal) observa-se essa incorporação. Se o fascismo pode novamente chegar ao poder, assumir o governo pelas vias legais (como foram os casos clássicos de 1922 e 1933) e estabelecer novas formas de ditadura, só o tempo dirá. Para o que nos interessa imediatamente no Brasil, embora seja evidente a existência de uma onda conservadora, o fascismo ainda ocupa um percentual inferior desta. Mas como recomendavam os velhos comunistas, é bom dormir com um dos olhos aberto.
Notas
[1] KONDER, Leandro. Introdução ao fascismo. Rio de Janeiro: Graal, 1977.
[2] PAXTON, Robert O. A anatomia do fascismo. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
[3] Sobre esse ponto, vale bastante assistir o documentário Fascismo S. A.https://www.youtube.com/watch?v=K80XYjF3lHE
[4] Um crítico cultural indiano é certeiro quando afirma: “Certamente, é verdade que Gramsci disse muitas coisas mordazes sobre a democracia parlamentar e sobre o “Ocidente”; também é verdade que seu interesse pela linguística histórica, pelo teatro, pelo folclore e pela literatura popular, e por figuras culturalmente hegemônicas, como Maquiavel, Dante e Croce, foi de fato extenso. Mas o ponto crítico da obra reside, creio, em outra parte – e reside exatamente naquela coisa que é sempre reconhecida como a condição de sua prisão mas é sempre deslocada como a cavilha de roda de suas reflexões –, a saber, no fascismo.” AHMAD, Aijaz. Fascismo e cultural nacional: lendo Gramsci nos tempos da Hindutva. In. Linhagens do presente. São Paulo: Boitempo, 2002, p.261. Ver também: ADAMSON, Walter. Gramsci’s interpretation of Fascism. Journal of the History of Ideas, vol. 41, n.4, pp.615-633, out-dez, 1980.
[5] As mais relevantes contribuições de Leon Trotsky, por exemplo, foram produzidas naquele contexto. Ver. TROTSKY, Leon. Revolução e Contrarrevolução na Alemanha. Lisboa; Porto; Luanda: Centro do Livro Brasileiro, s.d.
[6] MANDEL, Ernest. Sobre o fascismo. Lisboa: Antídoto, 1976, p.44. Ver também, CLAUDIN, Fernando. A crise do movimento comunista. Vol.1. São Paulo: Global, 1985, p.143-147.
[7] Curiosamente, o stalinismo difundiu a lenda de que para Trotsky o fascismo seria uma variante do fenômeno do bonapartismo, teoria na verdade defendida por outro dissidente do comunismo sovietizado, o alemão August Thalheimer. Cf. THALHEIMER, August. Salvador: Centro de Estudos Victor Meyer, 2009.
[8] LACLAU, Ernesto. Política e Ideologia na Teoria Marxista. Capitalismo, Fascismo e Populismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979 [1977], p.94.
[9] Cf. JAMESON, Frederic. Periodizando os anos 60. In. HOLLANDA, Heloísa Buarque de (org.). Pós-modernismo e política. Rio de Janeiro: Rocco, 1993, p.96.
[10] “Enfim, o inimigo maior, o adversário estratégico (visto que a oposição de O anti-Édipo a seus outros inimigos constitui antes um engajamento tático): o fascismo. E não somente o fascismo histórico de Hitler e Mussolini — que soube tão bem mobilizar e utilizar o desejo das massas —, mas também o fascismo que está em todos nós, que ronda nossos espíritos e nossas condutas cotidianas, o fascismo que nos faz gostar do poder, desejar essa coisa mesma que nos domina e explora.” FOUCAULT, M. Anti-Édipo: uma introdução à vida não-fascista. Disponível em http://bit.ly/20CMZtu
[11] “’Black blocs’ agem com inspiração fascista, diz filósofa a PMs do Rio.” Folha de S. Paulo, 27/08/2013. Disponível em http://bit.ly/27SKzN2
[12] Nas eleições de maio de 2016 o candidato Norbert Hofer do Partido da Liberdade (FPÖ na sigla em alemão) obteve 49,7% dos votos, perdendo por pouco para o candidato à esquerda (independente/verde) Alexander Van der Bellen (50,3).
[13] BREIVIK, A. A European Declaration of Independence. Londres, 2011. Disponível em http://bit.ly/1TXazg8
[14] Uma crítica marxista consistente às teorias pós-coloniais  que defendem tal ponto de vista pode ser lida em CHIBBER, Vivek. Postcolonial theory and the specter of capital. Londres/Nova York: Verso, 2013.


domingo, 31 de março de 2019

Cada povo tem o governo que merece

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Ivonete Gomes
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"Sai vitorioso das urnas, o candidato que fala o que o povo quer e não o que precisa ouvir"
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Ferrenho defensor do regime monárquico e crítico fervoroso da Revolução Francesa, o filósofo francês Joseph-Marie Maistre (1753-1821) escreveu seu nome na história ao lançar a expressão “cada povo tem o governo que merece”. Datada de 1811, a frase registrada em carta, publicada 40 anos mais tarde, faz referência a ignorância popular, na visão do autor a responsável pela escolha dos maus representantes. Contrário a participação do povo nos processos políticos, Maistre acreditava que os desmandos de um governo cabiam como uma punição àqueles que tinham direito ao voto, mas não sabiam usá-lo. Passaram-se exatos duzentos anos e a expressão do francês permanece atemporal por estas bandas. 

No Brasil de democracia imatura e educação capenga, o voto ainda é definido pelo poder econômico e promessas bajuladoras totalmente descabidas feitas por candidatos visivelmente desinformados nas questões econômicas e sociais dos locais que pretendem governar. Por aqui se define voto também pela simpatia, crença, a boa oratória e o assistencialismo. Raros os que votam pela análise do passado, das relações interpessoais e do plano de governo fundamentado. O País que causou admiração no vocalista do U2 pela criação da Lei da Ficha Limpa, não tem punição para o político que, acometido do esquecimento conveniente, deixa de cumprir promessas e compromissos firmados com o eleitor. 

Sai vitorioso das urnas, o candidato que fala o que o povo quer e não o que precisa ouvir. Na eleição para Governo, os servidores públicos de Rondônia tiveram reavivada a esperança de salários reajustados com base nas perdas acumuladas ao longo de governos passados. Educadores, agentes penitenciários, policiais militares e as demais categorias foram às urnas na certeza de estar depositando lá o acréscimo de pelo menos 25% nos holerites, já em 2011. E o fizeram apoiados por sindicatos bem informados das questões financeiras da máquina estatal. Ora, como duvidar do então candidato Confúcio Moura (PMDB), avalizado pelos representantes das categorias nos palanques, reuniões e debates de televisão? Não era possível lançar mão de tão doce promessa que, para melhorar, vinha acompanhada da oportunidade de trocar um governo autoritário, perseguidor e truculento por um aberto ao diálogo e conhecedor das necessidades de quem trabalha pelo desenvolvimento.  Reside muitas vezes no desconhecimento da situação econômica do Estado, o perigo de um estelionato eleitoral que, se tipificado em lei, seria tão somente culposo. Ou seja, Confúcio poderia estar investido de boa vontade para dar o reajuste prometido, mas ao colocar a coroa e o cetro deparou-se com a triste realidade de que querer nem sempre é poder.

O Narciso do CQC

Um dos apresentadores do programa humorístico CQC, levado ao ar pela TV Band, sentiu-se altamente incomodado com a aparência física dos rondonienses e dedicou minutos de sua comédia stand up, gravada em DVD, a comentários altamente pejorativos aos nascidos aqui. Rafael Bastos, que tem como alcunha o diminutivo do próprio nome, disse que “se Deus é brasileiro ele sacaneou Rondônia”. Sob risos da platéia, Rafinha caprichou nos insultos:
- O pessoal lá é muito estranho.
- O diabo fala português? –  Ah, já sei em que estado ele nasceu. Deixou muitos filhos por lá, viu?
Um humor apelativo, arraigado de preconceito, constrange e provoca até certa náusea, mas patético mesmo  nesse episódio é perceber que Rafinha se acha bonito. Ô dó criança!

Interferência descabida

Eis que do nada, deputados estaduais iniciaram uma onda insana de interferência nas indicações de Confúcio Moura para o primeiro escalão do Governo. Até o deputado estadual Jean de Oliveira (PSDB) usou a tribuna para repudiar a indicação de Williames Pimentel na Secretaria de Estado da Saúde. Pasma a rapidez com que o parlamentar mudou de opinião, já que quando vereador de Porto Velho jamais levantou a voz contra a administração municipal da qual Pimentel participa há anos. Outros deputados fizeram discursos apaixonados com menções à moralidade e a Lei da Ficha Limpa. Lembrei de pelo menos dois ditados populares que falam de hábitos dos macacos.  

David Erse, o estudioso

Empolgado e envaidecido durante a solenidade que o empossou deputado estadual, David Chiquilito Erse fez discurso longo, cansativo e presunçoso. Criticou veículos de comunicação que analisavam a possível interrupção de sua carreira na Assembléia Legislativa com a recontagem de votos pós-decisão da não aplicabilidade da Lei da Ficha Limpa nas eleições de 2010. “Seguirei deputado. Falo isso porque tenho certeza. Eu estudei”- disse o jovem político. Agora, sem mandato, David terá tempo para estudar um pouquinho mais.


segunda-feira, 25 de março de 2019



                                           


    PEQUENAS  TRAGÉDIAS

                                                                                                           AUTOR DESCONHECIDO





Quem se lembra das pequenas tragédias de antigamente?
Quando as fichas acabavam no meio da ligação feita do orelhão. Ou o disco riscava bem na melhor música.
Você datilografava com erro a última palavra da página. E não tinha fita corretiva de máquina de escrever pra consertar.
O locutor falava as horas ou soltava uma vinheta bem no meio da música que você tinha passado horas esperando pra gravar. E depois o toca-fitas mastigava a fita.
Ou o locutor não falava o nome da música quando ela terminava. E você ficava anos sem saber quem cantava ou como chamava aquela música que você tinha amado.
Alguém fumava dentro do ônibus. Ou do avião. Ou do elevador.
Você tinha que pagar multa por devolver a fita de vídeo pra locadora sem rebobinar.
O Ki-suco vazava da garrafinha da sua lancheira. E molhava as bisnaguinhas com patê.
Você tirava as letras das músicas em inglês tudo errado. E depois descobria, no folheto da Fisk, que estava tudo errado mesmo. Mas já era tarde, pois você já tinha decorado errado (e canta errado até hoje).
Você arranhava com todo cuidado, mas quando levantava o papel via que o bichinho do decalque do Ploc tinha saído sem uma perninha.
A televisão resolvia sair do ar no dia do capítulo final da novela. E seu pai tinha que subir no telhado pra mexer na antena. E ele gritava lá de cima “melhorou?”
E você, embaixo, avisava: “melhorou o 5, o 7 e o 9. Piorou o 4, o 11 e o 13”.
E nunca todos os canais ficavam bons ao mesmo tempo.
Chegar à padaria e lembrar que você tinha esquecido o casco do refrigerante.
A Kombi que trocava garrafas velhas por picolés e pintinhos passava na sua rua um dia depois da sua mãe jogar tudo fora.
Você descobria que todas as 36 fotos do seu aniversário tinham ficado desfocadas. E algumas tinham queimado, porque o rebobinador da câmera tava meio enguiçado.
Quando sobrava só o lápis branco da caixa de 36.
E você pensava que ia morrer porque engoliu uma bala Soft.
Nossa vida era assim. E nem faz tanto tempo, mas nossos filhos nem têm ideia do que significa tudo isso.


sábado, 17 de novembro de 2018

"Negro: ser ou não ser, eis a questão"

 






 A não muitos dias, me encararam com a seguinte questão: "Você se considera negro, explique. Eu, fulano, me considero negro, porém, na minha certidão de nascimento está escrito pardo (a). Eu não sou pardo, pardo é a cor do papel".
Fiz a seguinte analise a respeito, e cheguei a um fato não conclusivo a respeito de quase todos os brancos: perante os não negros, sentir pena de negros é mais que uma obrigação.
Mas, primeiramente, vou responder a pergunta.
Sim, me considero negra, mas acho que isso, deveria ser uma questão de escolha, por mais incrível que pareça, sim, uma escolha. Até porque se eu tiver a pele escura e alguém do IBGE bater na minha porta e eu disser que sou branca, é isso que eles terão de escrever.
Acho que a escolha é sua, você escolha se é negro ou é branco, mas toda a sociedade faz essa questão ter um peso imensurável, fazendo ficar muito mais difícil do que realmente é. Se você é negro, sempre será rotulado, seguido em uma loja, parado por parecer suspeito, sempre será desmoralizado, desrespeitado, demonizado, sofrerá preconceito, e, além de tudo, não poderá reclamar de tal preconceito, se não, te chamarão de negro vitimista.
Agora vamos ao fato: perante os não negros, sentir pena de negros é mais que uma obrigação.
Percebi isso em todas as vezes que eu digo que sou negra, e as pessoas tentam me "corrigir" dizendo que sou "moreninha" "escurinha" e etc. Sinto uma enorme vontade de dizer que não sou morena coisa nenhuma, sou negra e não serão eles que me dirão o contrario, essa é uma escolha minha, não deles. Quando digo que sou negra e eles querem me corrigir dizendo que não sou, é como se eu dissesse "Eu mereço ser estuprada", e eles querem me convencer de que tal coisa é uma idiotice tremenda, e que eu sou uma morena como outra qualquer, com sentimentos e uma humanidade, como se sentissem pena de mim, e quisessem amenizar meu fado, ou me poupar da "maldição" ou fardo eterno que é ser negro.
Ser negro não é fácil, mas também não é impossível.
Os racistas impõem as dificuldades, mas os irmãos negros dão as mãos, pois todos juntos somos mais fortes que um só.
Tenham um bom ano meus manos!



fonte;http://prismabr.blogspot.com/2016/01/negro-ser-ou-nao-ser-eis-questao.html

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Feliz?

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Mario carregava ocultamente uma obsessão por Ana. Não era oculto o amor que sentia pela moça, nunca escondera de ninguém o sentimento que nutria por aquela que em outrora era sua amiga, e que foi se afastando pela vontade doentia dele se tornar seu companheiro para a vida toda. Ana se afastou. Mas vez ou outra Mário a chamava no WhatsApp sempre com a mesma pergunta: “Feliz? ”. Por mais que não estivesse bem, Ana afirmava que estava bem e feliz. Estava planejando casar-se com André, Mário não sabia, mas o simples fato de Ana e André estarem juntos incomodava Mário, que chegou a dizer e a repetir “você ainda vai ser minha, questão de tempo. Não tenho pressa”. “André não conseguirá te fazer tão feliz quanto eu”. Mas Ana amava André e não queria saber de ninguém além dele. Ana e André, entre idas e vindas se amavam e a obsessão de Mário começou a incomodar Ana de tal forma que lhe causava medo, “como ele sabia sobre as brigas do casal? Será que sentia? Ou de alguma forma descobria? “Não tinham amigos em comum. Não tinha como
Mario saber. E depois de uma briga com André, Ana resolveu encerrar os contatos totalmente com aquele que considerou um dia amigo. Além do medo, Ana começou a perceber que após as brigas com o então namorado, Mário arrumava formas de aparecer com a tal pergunta “feliz? ”, sem cerimônias, sem perguntar mais nada. Ana, cansada, explode com Mário - ela havia acabado de ter uma briga com o namorado e lá estava Mário, estranhamente, novamente depois de mais uma briga para se certificar que Ana ainda estava feliz. Ela já havia dito outras vezes, mas com delicadeza, que o fato de ele aparentemente torcer pela infelicidade do casal a incomodava. Por várias vezes ela pediu que ele se afastasse e a deixasse viver a vida que escolherá, mas Mário não aceitava. Mas desta vez ela foi mais fundo, mais clara e objetiva. Mário, com um sorriso no rosto, mas com os olhos num misto de raiva e tristeza disse que queria que o casal fosse feliz, que não ia incomodar mais..., mas que ela ainda seria dele, custasse o que custar. Ele era o Mário, moço bem-sucedido, que poderia dar tudo que Ana quisesse. Mas não era o que Ana queria. Ele deu de ombros, visivelmente transtornado. Naquela noite prometeu que nunca mais iria atrás de Ana e que assim como ela, arrumaria uma forma de seguir a vida, arrumaria outra pessoa. Semanas se passaram e coincidentemente depois de uma briga que ocasionou no término entre Ana e André, por causa de ciúmes dela, reaparece Mário, ligando de um número desconhecido e com a pergunta de sempre: “- Olá querida! Feliz? ”



escrito por Jeane Dixon

quarta-feira, 20 de junho de 2018

A Assassina paciente





Nem parecia uma menina, quem a via achava que era um anjinho que já com seus 10 anos de idade já encantava o distrito de Roça Grande.
 Todos apostavam que ela seria a mulher mais bonita de Sabará.
 Olhos castanhos escuros, um belo desenho de lábios, dentes alvos e brilhantes, era a beleza em pessoa.
 No colégio ganhava todo concurso de beleza. Era rainha da primavera, rainha da jabuticaba, rainha da rua e ainda de muitos corações.  Aninha era dez!
 A tua beleza chamou atenção de muitos moradores de Sabará. Começou a frequentar o Clube cravo vermelho, mesmo sendo de etnia negra era bem recebida no meio social de Sabará e isto era um tabu por que antes dizia que no Cravo Vermelho negro não entrava.
 Neste Convívio com a sociedade de Sabará, Aninha ficou conhecendo Cláudio um rapaz loiro de olhos azuis, atleta, jogador do Esporte Clube Siderúrgica Sabará que logo se apaixonou pela morena de Roça Grande.
  Cláudio chamou atenção da comunidade de Roça Grande com seu estilo e delicadeza com a Aninha. Mas dentro dele ardia um ciúme exagerado, não suportava ver a sua amada conversando com outro homem, seja colega de escola ou então da Igreja Católica de Roça Grande ficava furioso e para não demonstrar esse sentimento ia para casa de seu sogro seu Tião esperar sua amada.
Demonstrava neste momento o quanto era ciumento, xingava, brigava, mas depois pedia perdão e assim foram levando durante 4 anos esse namoro.
O time do siderúrgica de Sabará havia sagrado campeão Mineiro de futebol.
 Cláudio, zagueiro time Campeão em meio à euforia, convidou seus colegas de equipe para o seu noivado na semana seguinte. Foi com surpresa que a família de Aninha recebeu a boa notícia. Até que enfim o seu Tião casaria a sua filha primogênita.
 O casamento de Aninha e Cláudio foi o acontecimento do ano em Roça Grande. Toda a comunidade foi convidada para a cerimônia. A dona Alcina, costureira, ficou semanas e semanas atarefada na Confecção de roupas dos convidados, os homens do Bairro mandaram fazer seus ternos de tecidos de casimira e   tergal na alfaiataria do Carlos Alemão.
 Escolheram o dia 10 de maio para o casamento pois o mês é consagrado as Noivas.
Chegou o grande dia!
A Igreja de Santo António da Roça Grande já era pequenina ficou mais pequena ainda pois todos os seus quatro mil habitantes estavam presentes a grande cerimônia. A família de Cláudio veio em carro de luxo no Aero   de 1960 todo branco combinando com a sua vestimenta que destacava do povo humilde e simples do bairro. O padre que faria o casamento seria o bom e sistemático Padre Luiz Capelão da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais. Tudo ocorreu normalmente, a festa foi no sítio do folclórico senhor Josias.
Para comemorar o fato Tião mandou matar um boi e quatro porcos Além de muitas bebidas artesanais. Os nubentes Ana e Claudio foram morar no alto da Rua São João aqui mesmo em Roça Grande, lugar aprazível com a casinha branca do jeito que Aninha sempre sonhou.
 Tudo corria a mil maravilhas, casal recém-casado, um céu lindo, decorava a abóbada celeste azul, pássaros cantavam na floresta ao lado.  Tudo era paz, tudo era felicidade para Aninha. Mas de repente Cláudio mudou a expressão do seu olhar e ordenou a Aninha que não queria vê-la na casa de amigos e muito menos na casa de sua prima Sandra. Ao questiona-lo o porquê, Cláudio se irritou e na lua de mel ao invés de beijos e abraços Aninha recebeu um tapa no rosto.
 Possesso, Cláudio intimou:
_ aqui quem manda sou eu! Não quero! Acabou! De hoje em diante quem dá as cartas aqui sou eu e você está proibida de descer lá embaixo e ficar com esse povo sujo de Roça Grande. Me obedeça à mulher.
 Você é minha mulher, cuida de mim e eu te protejo.
 Aninha ainda questionou:
_Amor por que isso? Você é tão carinhoso comigo!
_ A farsa acabou! Casei com você porquê tinha interesse.
Você é meu troféu, a mulher mais bonita de Sabará e como Troféu ficará para sempre no meu coração trancado.
 Não acredito... Balbuciou Aninha. Se não fosse esse tapa que me deste com certeza levaria na brincadeira o que me disseste.
O tempo passava e para Aninha a sua vida virou um inferno. Não tinha paz nem para dormir, sua vida era vigiada 24 horas.
 Cláudio chegava do jogo e sempre encontrava a casa arrumada, comida feita e o carinho da sua mulher amada.
 Aninha não tinha direito nem de ir à missa, visitar seus familiares nem pensar.
 A cada dia que passava ela tinha que manter aparência que era feliz e que Cláudio era o marido que sempre sonhara.
 Por sua vez, Cláudio mantinha aparência de um grande marido, um bom chefe de família e o cara amigável, mas no fundo somente Aninha sabia o quanto cruel era esse homem.
 Certo dia, andando pela Rua São João, Aninha encontrou com um velho conhecido, colega de escola e muito amigo da família. Por um momento ela se sentiu confortável com a presença do amigo e depois de tanto tempo ela conseguiu sorrir.
Cláudio regressava para casa vindo do Siderúrgica, quando vislumbra sua esposa conversando com o seu colega e sem dizer palavras nenhuma agrediu sua esposa e o amigo.  Sangrando muito o rapaz fugiu, enquanto Ana estática, fitava seu marido. A vizinhança espantada a tudo via e ouvia.
 Cláudio gritava feito louco e agredia a pobre mulher.
 Chegando em casa obrigou a tirar toda a roupa do seu corpo na ânsia te encontrar a marca de um pecado que só existia na sua mente doentia.
 Aninha Sofria calada. Estava isolada do mundo não tinha amigo, não podia se abrir com sua mãe. Não podia receber visita, seu mundo era sua casa e seu marido cruel;
Aquele sorriso angelical já não existia mais, a sua fisionomia era de cansaço e sofrimento.
 Já se passavam três meses que havia se casado quando algo inusitado aconteceu:
Ao colocar a roupa do seu marido vai para lavar encontrou uma singela cartinha de amor.
Alguém amava o teu marido pelo jeito ele correspondia.
Estava explicado o motivo porque ele não a deixava sair de casa. Aquele ciúme todo agora tinha uma razão de ser: Cláudio tinha um amante.
 Pressionado pela mulher ele não se fez de rogado e confirmou sim dizendo que se ela quisesse poderia ir embora, mas deixou bem claro que outro homem não iria entrar na vida dela.
 Dito isso, Aninha Passou por mais uma sessão de espancamento e foi parar na Santa Casa de Misericórdia Sabará.
 Aninha passou uma semana internada em virtude da surra que tomou.
Como era de família bem conhecida em Sabará o Episódio foi encoberto ficando restrito somente a família dos envolvidos. Cláudio se acha o rei podendo fazer e acontecer. O pai amigo, do delegado, a mãe madrinha da promotora e tudo ficou por debaixo dos panos.
Aninha cansada de sofrer resolveu dar o troco de um jeito muito peculiar.
 Passou a não questionar mais teu marido, suas roupas eram bem lavadas bem tratada e cheirosa a comida Era do jeito que ele gostava e ela como esposa passou a ser mais uma Amélia. Aninha agora para Cláudio era mulher de verdade.
Anos se passaram. Cláudio abandonou futebol e agora era simplesmente um advogado trabalhando com pai que era reconhecidamente o melhor causídico da região.
 A sua sofrida mulher havia lhe dado três rebentos: duas meninas e um menino.
Como obediente, Aninha se entregou a tua família, como um cachorrinho manso, ela tinha casa comida e lambia a mão de seu dono, era tudo que ele queria.
Os sonhos de um casamento feliz, ter uma família feliz e temente a Deus, ficara para trás. Aninha seria uma mulher sem perspectiva sem sonhos, viveria para servir o seu marido, o seu amo...aquele maldito!
A tua família era mais importante que tudo.
  Aquele olhar de felicidade que    demonstrava ter na adolescência, toda a felicidade que aspirava   foi-se naquele dez de maio, quando se iludiu por um cruel príncipe.
Mas agora do alto de seus trinta anos. O que ela queria mais era viver...ironia, tanto sonhou com uma vida de felicidade e agora era subjugada pelo simples desejo de viver.

A vida transcorria normalmente, Claudio prosperava, era considerado o melhor advogado da região, mas uma dor de estomago o incomodava.
Havia dois anos que aquela dorzinha o incomodava e não tivera tempo de fazer um check-up detalhado de sua saúde.
Com relação a família, tudo ia bem, Aninha cuidava bem dele e de seus filhos. Ela por fim aceitara as regras do jogo e vivia somente para a sua família, nem no velório do seu pai, ela se dispôs a ir, Bruno, seu filho caçula, jura que a viu chorando pelos cantos da sala.
Aninha, ou seja, Ana villafortes, mudara se era para o bem ou para o mal, só o tempo poderia responder.
Claudio villafortes ampliava seu empreendimento, tinha como cliente nada mais nada menos do que o governador de Minas gerais e uma famosa senadora, mas a sua saúde estava combalida.
Aconselhado por amigos, foi se consultar com um famoso gastroenterologista que alarmado lhe deu a péssima notícia:
- O senhor tem um câncer no estômago!
Foi um choque que derrubou o gigante Claudio, o imbatível advogado, o opressor chefe de família.
O mundo desabara para ele.
Seus colegas de profissão sabendo disso comemoraram como uma conquista de uma copa do mundo de futebol.
Perderá a vontade de trabalhar, tirara férias e visivelmente abatido recusava sair de casa
Tudo mudou. Até a sua indiferente esposa começara a lhe perturbar. Ele que deste que casou nunca a virar sorrir ou cantarolar, agora ele descobrira que ela vivia.
A mulher que tanto maltratara agora tinha no olhar um brilho opaco de amargura e vingança.
Sua refeição era servida por uma enfermeira e nunca por Ana villafortes. Ela não se dignificava nem ao menos perguntar se ele estava se sentindo bem, estava jogado num quarto sombrio esquecido pelo mundo.
Mandou chamar sua esposa.
Ana villafortes acedeu ao convite e entrou naquele quarto que outrora sonhara ser a capital dos seus prazeres e que foi na verdade seu ades matrimonial.
Ana aproximou do leito do enfermo e o que viu a deixou combalida. O outrora homem forte de Sabará, jazia numa bela cama, ostentando s seu corpo esquelético cheio de feridas e cheirando mal. Triste contradição da vida humana.
Aninha-balbuciou o enfermo.
Perdoe me por tudo
-Não se preocupe! Isso é passado
-Estou morrendo!
-Eu sei!
Como sabe? Médicos lhe contaram?
- Não eu tive a paciência de ministrar durante anos uma gota de veneno na refeição de quem arrasou meus sonhos, minha vida. Jurei vingança e nestes dez anos você consumiu uma gota de arsênio nas refeições. Uma gota derrubou o gigante da prepotência, egocentrismo da maldade e da opressão. Você está indo, mas não ficaria feliz se não te contasse.

Durante quatro mil trezentos e oitenta dias tive a paciência de colocar uma gota de arsênio no teu chá, no teu suco, no teu café. Imagino que buraco está seu estomago. Este será nosso segredo. A mulher que você tanto oprimiu, finalmente te destruiu.
Claudio de olhos esbugalhados ouvia e não acreditava. Tentou falar e uma golfada de sangue lhe sufocou. Agitou em espasmou e ficou quieto para sempre.